Preciso admitir algo: o Porsche Macan é um dos meus carros preferidos. Especificamente o Macan GTS. Sabe aquele jogo: se você só pudesse ter um carro na vida para o resto da vida, qual seria? No meu caso seria ele. Mas não havia tido contato ainda com a versão de entrada com motor 2.0 do Golf GTI.
Muita gente que já andou nesse carro dizia ser manco, até dava o apelido de “Mancan”. Mas em que mundo um SUV com proporções na casa dos médios e 245 cv poderia ser pouco? Até a própria Porsche talvez viu que não era suficiente e colocou 20 cv a mais e 3 kgfm de torque extras na linha 2023. Mas isso faz dele divertido?
Entrando com dois pés
Vamos a alguns pontos. A Porsche diz que 80% dos compradores do Macan estão adquirindo um carro da marca pela primeira vez na vida. E que a grande maioria é justamente da versão de entrada sem nome que custa R$ 439.000. Por isso até disponibilizaram o modelo para o nosso teste ao invés da nova versão T, que só chega depois do meio do ano.
Ele é o carro que vai capturar clientes para a marca e os fidelizar para depois comprar um Cayenne, talvez um Panamera, até um Taycan ou um 911. Por isso, ele tem que entregar toda experiência que se espera da marca alemã, ainda que seja em uma dose reduzida. Comparado aos monstros de 700 cv da marca, os 265 cv e 40,8 kgfm do Macan de entrada não parecem muito.
Mas ele entrega diversão ao volante. E muita. Parece um hatchzão no comportamento, com direção muito afiada, direta e calibrada na medida perfeita para uma tocada esportiva. O volante, aliás, agora é o mesmo do 911 e do Taycan, salvo pela ausência os parafusos aparentes perto das tecladas de comando.
Essa voracidade da direção se traduz nas curvas também. A carroceria pouco inclina, especialmente no modo mais duro da suspensão pneumática opcional. Nem parece que você está em um SUV – sensação que o Cayenne não deixa de transmitir por conta de seu tamanho de jamanta. O Macan por ser menor, tem jeito bem mais esportivo.
Mas e os números?
Ok, falei da dinâmica do Porsche, mas e a performance? Bom, os 265 cv são suficientes para ele. Vão te levar aos 100 km/h em 6,2 segundos. O Golf GTI, que era considerado um carro rápido quando era vendido no Brasil, tinha alguns cavalos a menos e chegava à mesma velocidade em 7 segundos cravados.
Não vai ser um Porsche que vai te fazer grudar no banco e soltar um palavrão ao acelerar como o 911 Turbo ou o Taycan Turbo S fazem. Isso talvez seja o que frustre muita gente, afinal é o Porsche mais fraco e lento atualmente à venda. É menos que a média da marca e muito parecido com o mundano no segmento, mas o espírito da marca está na dirigibilidade.
911 de salto
O mais interessante do Porsche Macan talvez seja seu interior. Ele tenta ficar o mais próximo possível do 911, ainda que tenha elementos próprios. O console central é bem alto como no modelo icônico, criando uma sensação de posição de dirigir mais esportiva. Aliás, o banco vai bem alto ou bem colado no chão, dependendo do que você quiser.
O refinamento interno o faz passar longe de ser um modelo de entrada. É um Porsche que não deve em nada em acabamento a qualquer irmão: só porque é o menor SUV e o modelo de entrada, não significa que seja menos luxuoso. Mas entrega certa idade já. O painel de instrumentos não é digital e o console central com comandos físicos está datado.
Há de ressaltar também dois elementos bem curiosos de design do Macan, mas do lado de fora. Primeiro o capô que invade a lateral, engloba a sessão dos faróis e deixa o SUV com cara de modelo de competição. Outro é o botão de abertura do porta-malas que fica no limpador traseiro. Nunca vi outro carro com uma posição tão bizarra para abrir o porta-malas.
Veredicto
Ser o menor e menos potente dos Porsche pode ser uma tarefa ingrata para o Macan. Não por falta de qualidades, que aliás ele tem muitas, mas por aguentar os pilotos de Super Trunfo só sabendo comparar números e não experiências. Mas o seu papel é muito importante: trazer novos compradores para a Porsche. E isso ele cumpre com louvor.
O modelo de entrada é a síntese da vontade de um cliente de fazer parte da marca, ainda que sem a experiência completa. Já o Macan GTS entrega o que se espera de um Porsche em uma prática embalagem de um SUV relativamente pequeno, bastante refinado e com um gosto bem forte de 911. É o carro mais racional de uma marca que está nem aí para a racionalidade (ainda bem).
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