Sendo curto e grosso: você vive o céu e o inferno ao mesmo tempo com o Porsche 718 GT4 RS. Claramente criado para ser usado nas pistas, o modelo não é nada indicado para uma convivência diária. Mas já que era a vez de testar o esportivo, o usei dentro de toda a minha rotina e vivi momentos de alegria e de verdadeira tortura com ele.
Diferentemente de outros modelos da gama 718, o GT4 RS é um brinquedo (caríssimo, que parte de R$ 1.235.529) de pista. Toda sua construção foi voltada para o máximo de performance no circuito, mas a ponto de deixá-lo ainda legalizado para as ruas. Portanto, não espere por conforto.
RS significa muita coisa
Montado em posição central-traseira, o motor 4.0 seis cilindros boxer naturalmente aspirado do GT4 RS é 80 cv mais potente que o modelo sem sobrenome. Além disso, tem torque elevado em 2 kgfm, resultando em 500 cv e 45,9 kgfm em um motor aspirado cujo cada barulho pode ser ouvido.
A aspiração do ar vem de dutos na parte inferior das portas e também por um espaço no lugar da janela traseira. Ao acelerar forte, é possível ouvir o som do ar sendo sugado ao lado da sua orelha, ao mesmo tempo em que os pistões opostos sobem e descem produzindo uma sonoridade que só um Porsche consegue.
Como o corte de giro ocorre 1.000 rpm acima do que o GT4 normal faz, o RS muda até o tom ao girar alto. A partir dos 4.000 rpm, o ronco do motor engrossa, finalizando com um berro que arrepia até os pelos de lugares que não deveriam ter esse tipo de componente corporal. É uma aceleração brutal, capaz de colocá-lo nos 100 km/h em 3,4 segundos.
Exclusivamente atrelado ao câmbio automatizado PDK de dupla embreagem com sete marchas, o Porsche 718 GT4 RS usa da inteligência para tornar a condução mais rápida. Em modo PDK Sport, o câmbio produz punta-tacco automático, elevando rapidamente a rotação e reduzindo marcha quando o freio é pisado, a fim de ganhar velocidade em curva.
Segura firme…até demais
Para auxiliar na condução nas curvas, a Porsche colocou o 718 GT4 RS em uma dieta. Ele é 35 kg mais leve que o equivalente não RS através do uso de vidro traseiro mais fino e sem desembaçador, fibra de carbono reforçada com plástico no capô, aerofólio e para-lama dianteiro, além de redução do isolamento acústico.
Além disso, a suspensão é firme. Muito firme. Do tipo tão firme que se você atropelar uma joaninha, vai sentir. Nas curvas, mesmo ele tendo só tração traseira, segue tão estável e controlável, que é preciso uma inabilidade muito grande para fazer o Cayman desgarrar. Só que, proporcionalmente o quanto ele é bom de curva, é ruim de usar na cidade.
Solavancos serão uma constante na sua vida. Passar por um refletor no asfalto fará com que o Porsche pareça que passou por uma cratera, sem contar que o seu ciático nunca mais será o mesmo. Afinal, além da suspensão extra dura, o banco tem encosto fixo e é igualmente desconfortável. No dia que devolvi esse carro, precisei ir ao massagista.
A direção fica em um estado de arte para a esportividade. É pesada e relativamente dura, mas extremamente direta. Como resultado, mal você aponta para a curva com o 718 GT4 RS, que ele já foi. É como se seu pensamento fosse construído antes do que a habilidade desse carro fazer curvas. É fora do sério.
Não que alguém que vá comprar esse carro ligue para consumo, mas ele faz 5,6 km/l na cidade e 7,1 km/l na estrada. Mas se você tiver o pé leve, chega a fazer 9 km/l na estrada. Como o tanque tem 54 litros, são poucas voltas na pista até que a alegria acabe.
A de Alcantara
A cabine do Porsche 718 GT4 RS leva o tema das corridas bem a fundo. O painel é todo revestido de alcântara, mesmo material usado nas portas, volante e parte dos bancos. O problema do volante é que, depois de um tempo, o marcador de centro fica desgastado e o revestimento parece velho. Isso que a unidade testada tem pouco mais de 9 mil km.
Apesar disso, o acabamento é irrepreensível. Couro nas portas e onde há alcântara é macio. O console central elevado tem peças em plástico, mas super sólido e bem montado. A cabine mostra sinais de idade por conta do projeto do 718. Exemplo é a central multimídia pequena (só com CarPlay e sem Android Auto) e o painel de instrumentos analógico, só com uma tela colorida no canto.
Para honrar o legado das corridas, o Porsche traz maçaneta em formato de corda, que é bem inconveniente de usar. Além disso, a partida é feita do lado esquerdo, como nos carros de LeMans. Inclusive, por não ser presencial, é preciso colocar a chave e girar, o que adiciona um efeito de drama interessante na hora de ligar o 718 GT4 RS.
No quesito espaço, não espere muita coisa para além dos dois passageiros. O banco tem regulagem manual para distância, enquanto a de altura é elétrica. O encosto é fixo. Já o volante ajusta em altura e profundidade. No porta-malas dianteiro são 125 litros, reduzido em relação ao Cayman padrão por conta dos dutos de ventilação dos freios.
Já na traseira, ele leva 136 litros, o que ajuda um pouco, mas ainda é pequeno. Ali não há cobertura, deixando suas cargas expostas e dividindo espaço com o motor e componentes de suspensão. Além disso, a tampa é pesada para ser levantada por conta de toda a estrutura do aerofólio.
Lista personalizável
De série, o Porsche 718 GT4 RS traz muitos itens de série. Conta com ar-condicionado digital de duas zonas, faróis com acendimento automático, seis airbags, controle de tração e estabilidade, sensor e câmera de ré, chave em formato de mini Porsche, vetorização de torque, assistente de partida em rampa, sensor de chuva e retrovisor fotocrômico.
Mas se você quiser personalizar o seu Porsche, há muito o que colocar. O modelo testado conta com pintura especial Cinza Ártico (R$ 24.574), pacote Weissach com rodas de magnésio e gaiola de proteção de titânio (R$ 120.955), bancos personalizados (R$ 20.478), retrovisor em carbono (R$ 3.823) e cinto colorido (R$ 2.095).
Mas o opcional obrigatório é o de elevação do eixo frontal por R$ 19.840. Ele salva você de raspar a frente do 718 GT4 RS em valetas e entradas de estacionamento. Na minha garagem, onde o Jaguar F-Type quase entalava e o BMW Série 4 raspou, o Porsche sequer chegava perto de beijar o chão por conta desse sistema.
Veredicto
Temos dois cenários. Se você quer o Porsche 718 GT4 RS para usar em pistas, ele é um dos carros mais perfeitos para isso. Sua habilidade quase surreal de fazer curvas, o ronco absurdo do motor 6 cilindros e a velocidade de reação, fazem dele um brinquedo perfeito.
Agora, se você cogita usar esse carro no dia a dia, esqueça. Opte pelas versões GTS de qualquer outro Porsche. Esses sim têm o equilíbrio entre diversão na hora que o pé está em baixo, mas sem sacrificar sua coluna e sanidade mental no uso urbano e rodoviário.
Você teria um Porsche 718 GT4 RS? Conte nos comentários.