O mercado de hatches compactos 1.0 aspirados é um marasmo há anos. Sempre são versões baratas no preço e na essência. Ou seja, o mínimo decente de equipamentos, nada de refinamento para te dar vontade de pular para o andar de cima o mais rápido possível. Mas, desde que a Peugeot lançou o 208 Style, o jogo mudou.
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Não é a primeira vez que temos uma avaliação do Peugeot 208 Style. Da última vez, me encontrei com ele em seu formato original com visual antigo. Agora renovado, a marca corrigiu as poucas falhas que tinha e criou o hatch compacto 1.0 definitivo. A não ser que você precise de espaço interno…
É tudo da Fiat
Se você ainda é o tipo de pessoa que tem preconceito com carros franceses, lembre-se que motor e câmbio são todos Fiat. No caso do Style (leia-se “stili”, mais puxado para o francês, não “staiou” como seria em inglês) conta com o mesmo motor 1.0 Firefly do Argo e do Cronos. São 75 cv e 10,7 kgfm de torque no tricilíndrico Firefly.
Ele é acoplado a uma transmissão manual de cinco marchas. E aqui faço uma pausa. Durante anos critiquei o câmbio de cinco marchas da Fiat por seus engates exageradamente longos, imprecisos e borrachudos. É o pior câmbio entre todos os manuais que temos hoje no Brasil. Mas algo foi feito na Peugeot.
Ele está diferente em relação ao que senti na última avaliação do Peugeot 208 Style. Ficou menos borrachudo, mais preciso e menos longo. Além do mais, a embreagem está com ponto mais fácil de ser encontrado. Nem mesmo a ré arranha com facilidade como antes. Se tornou mais prazeroso de andar e não é mais o ponto mais negativo do carro.
Claro que não vá esperando uma performance animadora, algo que a Peugeot deixou para as versões turbo. Os 75 cv só levam o 208 Style aos 100 km/h em longos 13,4 segundos. Provavelmente você termina esse parágrafo antes de ele chegar na velocidade de cruzeiro. Mas o curioso é que ele gosta de altas velocidades.
O 208 tem uma facilidade interessante em se manter a 130 km/h, se tornando sua velocidade de conforto. Contudo, basta ver uma subida que o ponteiro do velocímetro cai com facilidade pois o Firefly 1.0 não aguenta. As retomadas são claramente lentas e é preciso reduzir para terceira para ultrapassar um caminhão na estrada.
Vivacidade urbana
Entretanto, o Peugeot 208 Style não sente falta de força na cidade. Como as primeiras marchas são mais curtas, ele acelera com ímpeto e com agilidade que te passa a sensação de mais cavalos debaixo do capô em ambiente urbano. A vantagem é que ele devolve um consumo bem baixo.
Oficialmente a Peugeot promete 13,3 km/l na cidade e 15,8 km/l na estrada com gasolina e são números factíveis. Visto que, durante nossos testes, ele marcou média de 14,8 km/l em ciclo misto, sendo a estrada com pé pesado. Foi uma surpresa verdadeira ver o consumo baixo do compacto francês com uma performance ok.
Bem nascido
Entre os hatches compactos com motor 1.0 aspirado, Peugeot 208 e Volkswagen Polo são os que têm a melhor construção. Ainda que o 208 compartilhe a plataforma com o Citroën C3, a dinâmica é bem diferente. A CMP é bem nascida, fornecendo uma dinâmica invejável e que faz parecer ser um carro mais caro.
A suspensão é durinha como no Polo, enquanto a direção elétrica tem mais assistência em manobras, enquanto na estrada fica firme como uma pedra. Junte isso à posição de dirigir baixa do 208 e terá um carro com verdadeira vocação esportiva. Ele contorna curvas com tudo sem desgarrar, enquanto a direção transmite tudo que o motorista precisa.
Ele passa a sensação de robustez com uma carroceria sólida que não torce ou range em buracos, ao mesmo tempo que tem a firmeza necessária para ser um hatch com tempero esportivo. Algo que não é concretizado por conta do motor aspirado fraco. É o tipo de carro que, como um Renault Kardian, te convence no test-drive.
Se acostume para nunca mais
Por falar em test-drive, algo que sempre acontece quando faço uma avaliação de um Peugeot 208 Style (ou qualquer outra versão) é ficar mal acostumado com a posição de dirigir. Todo modelo da marca francesa tem volante pequeno e achatado, que te faz enxergar o painel por cima dele.
Com isso, você precisa deixar o volante mais baixo e próximo ao corpo, enquanto o banco pede para ser posicionado mais próximo do piso. Como consequência, todo carro que você dirigir após ele, parece que tem volante de pandeiro. É uma posição esportiva de fato e que te instiga a usar uma tocada mais apimentada.
É estranho somente que o conta-giros roda ao contrário, confundindo nos primeiros momentos. Além disso, o computador de bordo monocromático e com poucas informações não combina com a modernidade de projeto e visual do 208 Style. Há de pontuar que o volante não tem revestimento em couro, mas o material usado é bom.
Ainda que o volante tenha ajuste de altura e profundidade para permitir encontrar uma posição perfeita de dirigir, a Peugeot esqueceu do ajuste do cinto de segurança. O banco tem amplitude boa de ajuste e a marca corrigiu o comando para controlar o encosto, que antes era difícil de alcançar.
Patamar superior
Além de uma ótima posição de dirigir, o interior do Peugeot 208 Style é bem superior aos concorrentes diretos. Claro que só há plástico duro por toda cabine, mas a Stellantis trabalhou com texturas diferentes, com destaque para superfícies imitando metal, fibra de carbono e preto piano.
É um visual chamativo e elegante, com botões próximos às mãos do motorista, mantendo uma ergonomia exemplar. O Style conta com carregador de celular por indução, que agora tem saída de ar para refrigerar o aparelho. A central multimídia conecta o Android Auto e o Apple CarPlay sem fio.
No modelo anterior, a central sofria com problemas constantes de travamento. Contudo, isso foi resolvido no novo modelo. Além disso, a Peugeot instalou a função automática no ar-condicionado, algo que era irritantemente faltante no 208 Style antigo. Ajustar a ventilação te obrigava a sair do espelhamento e atrapalhava muito.
Questão inegociável
E vamos ao fato que pode fazer muita gente desistir do Peugeot 208 Style. Se você está no processo de avaliação do seu próximo carro e precisa de espaço interno, pode desistir dele neste momento. Para duas pessoas, a cabine é muito apertada. E até o passageiro do lado pode sofrer um pouco.
Isso porque o piso é levemente recuado no lado do passageiro, tirando área das pernas e tornando viagens longas mais cansativas. Como o 208 te obriga a sentar baixo ao volante, passageiros no banco traseiro não terão área suficiente para se sentar. O belíssimo teto panorâmico também rouba espaço para a cabeça.
Enquanto 85% do segmento leva pelo menos 300 litros no porta-malas, o Peugeot 208 Style conta somente com 265 litros. O bagageiro é fundo, obrigado a ter força para levantar as cargas de dentro do espaço acanhado. Esse é, de longe, o maior problema do hatch compacto da Stellantis.
Estilo completo
O grande mote do Peugeot 208 Style é trazer um nível de equipamentos bem alto para uma versão com motor 1.0 aspirado. Itens como teto solar panorâmico e faróis full-LED com ajuste automático de altura são presentes somente nele. E há mais. Ele conta com ar-condicionado digital de uma zona e carregador por indução.
A lista de itens de série ainda contempla chave canivete, vidros elétricos nas quatro portas com função um toque, retrovisor elétrico, banco do motorista com regulagem de altura, volante com ajuste de altura e profundidade, assistente de partida em rampa, sensor e câmera de ré, rodas de liga-leve pretas e comandos de som no volante.
Para ficar mais redondo, só faltou a Peugeot colocar acendimento automático dos faróis. Além disso, sensor de chuva, chave presencial e sensor de estacionamento dianteiro seriam interessantes, mas são itens restritos à versão GT turbo CVT (confira a avaliação do Peugeot 208 GT, a versão acima do Style, aqui).
Veredicto
Se você não busca um carro verdadeiramente rápido ou com espaço interno farto, é impossível encontrar um hatch compacto 1.0 aspirado melhor que o Peugeot 208 Style. Muito bem equipado, verdadeiramente bonito, bom de dirigir e econômico, ele foi um acerto forte da Stellantis para ressuscitar a marca francesa.
Só não compre se precisar de espaço interno. Porque se o problema for performance, uma negociação na concessionária pode te levar facilmente a um 208 Allure. É menos equipado, mas turbo e automático. Só fica faltando solucionar o problema de espaço.
Você teria um Peugeot 208 Style? Conte nos comentários.
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