
Existe uma razão para que o Volkswagen T-Cross venda tanto? Boa parte para o domínio do SUV compacto no ranking de vendas se dá por conta das versões Sense e 200 TSI, que são as mais baratas, além da Highline, que seduz pelo motor mais forte. Mas, honestamente, se você quer um Volkswagen T-Cross, o Comfortline não tem erro.
Posicionado como variante topo de linha com motor 1.0 TSI três cilindros turbo, ele parte de R$ 171.490. Contudo, a unidade avaliada custa R$ 180.790 por conta da cor Azul Norway (R$ 1.750 extras) e do teto solar (opcional de R$ 7.550). Inclusive, recomendação de compra: um T-Cross com teto solar vende muito mais rápido do que um sem.
Acelerador infernal
Honestamente, existem mais qualidades do que defeitos no T-Cross Comfortline. Mas dois deles são bem claros: o delay do acelerador (que é irritante) e o acabamento péssimo. Vamos começar com o pior deles. Por anos, a Volkswagen soube muito bem acertar o motor 1.0 TSI três cilindros turbo com o câmbio automático de seis marchas.

Contudo, regras de emissões de poluentes fizeram com que esse motor, que tem mais de dez anos de trajetória aqui no Brasil, tivesse que mudar. Para não capar potência e torque, a VW mexeu no mapa do acelerador e tornou esse carro extremamente irritante de dirigir. Isso tudo por conta do gigantesco delay.
Você pisa no acelerador e o T-Cross Comfortline pensa se ele é um Taos, ou talvez um Tiguan, até passa pela mente dele se é um Nivus ou se o Gol ainda está em linha. Depois de conjuminar seus pensamentos e se distrair com um Corolla rebaixado, ele acelera. É um delay muito forte e perigoso.

Nos dez dias que passei como o SUV compacto, vivi algumas situações de apuro por conta desse delay. Em um cruzamento com uma valenta, o delay no acelerador fez com que o tempo de atravessar a rua fosse comprometido e quase causasse um acidente com um carro que vinha um pouco mais rápido do que deveria.
Até mesmo para subir na garagem de casa o daley entra em ação. Como a inclinação é forte, o T-Cross Comfortline precisa engatar primeira. Mas, até chegar à subida, ele vai tranquilo na segunda. Ao pegar a inclinação, ele perde toda a força, precisando enfiar o pé com tudo no pedal de acelerador para ele reduzir e, depois de muita demora, ele acorda e vai.

Contraste com o que é oferecido
É uma pena que o acelerador tenha ficado tão letárgico, porque a entrega de performance do motor 1.0 TSI é muito boa no T-Cross Comfortline. São 128 cv e 20,4 kgfm de torque, que muita gente pode pensar ser pouco para um carro com o tamanho que ele tem. Mas os 100 km/h são atingidos em apenas 10 segundos.
Vencido o delay, o SUV da Volkswagen embala fácil e entrega bom torque. Nem parece 1.0 somente, especialmente por conta da elasticidade do tricilíndrico. Mesmo na estrada, as retomadas são a contento. E isso combina muito bem com a dinâmica mais esportiva do modelo, mas falo sobre isso depois.

O câmbio automático de seis marchas está no limite. Ele não ajuda o acelerador com delay a economizar combustível e fica perdido em vários momentos. É comum ele dar trancos fortes ao sair de ré para drive (e vice-versa), além de ter um creeping muito mais forte do que deveria.
As trocas são suaves e no tempo certo, enquanto as reduções (por conta do acelerador com delay) demoram muito a acontecer. Ainda existe uma excitação entre quinta e sexta marcha na estrada, mas isso melhorou de uns tempos para cá. Talvez um câmbio novo ajudasse muito o motor 1.0 TSI a trabalhar de maneira mais eficiente.

O bom é que o consumo é comedido. Oficialmente, ele faz 8,1 km/l na cidade com etanol e 9,8 km/l na estrada. Já durante nossos testes conseguiu média de 8,5 km/l na cidade e 10,3 km/l na estrada. Na gasolina, marca 11,9 km/l na cidade e 14,1 lm/l na estrada.
Tocada de Volkswagen
Apesar de irritado com o delay de acelerador, nos primeiros quilômetros com o Volkswagen T-Cross Comfortline soltei um singelo: “como esse carro é bom”. Isso tem relação direta com a dinâmica bem apurada e a plataforma MQB-A0 bem nascida. É um carro que, por mais que seja o menos dinâmico de todos os irmãos de base, é ainda assim bom de andar.

Como a suspensão é firminha, junto dos pneus finos 205/55 R17, o T-Cross Comfortline faz barulheira ao passar em buracos. Nitidamente ele é um carro para asfalto, de melhor qualidade se possível. A sensação é de robustez na construção do carro, enquanto o acabamento cria um samba da Marquês de Sapucaí.
Na direção, temos uma resposta dinâmica muito boa, com feedback do asfalto, velocidade de reação a contento e uma firmeza mais típica de carros esportivos. Como a posição de dirigir do T-Cross é meio cadeirão, você pilotará com as pernas mais dobradas e com menos sensação de esportividade do que o presente em Polo, Nivus e Virtus.

Melhorou, mas ainda é muito ruim
Lembra que disse que o Volkswagen T-Cross Comfortline tem dois problemas graves? Já falei muito do tenebroso delay do acelerador, mas o acabamento também incomoda. Se o interior do SUV compacto fosse simples como um todo, até entenderia. Mas é possível ver que a Volkswagen se esforça e escorrega no último segundo. Explico.
Na reestilização, o Volkswagen T-Cross ganhou uma faixa de couro no painel, além de uma sessão grande de tecido nas portas. Mas os plásticos que revestem a parte superior do painel tem textura de carro barato, assim como os das portas. O próprio couro do painel deixa a desejar, mas há lugares piores.

O revestimento do volante é áspero e ruim para o tato – algo que, felizmente, a Volkswagen corrigiu no Nivus e deve aplicar no T-Cross em breve. Já os bancos do T-Cross Comfortline não são bons. A marca chama de revestimento premium, mas está mais para um vinil de cadeira de sala de espera de banco. Tato é ruim, esquenta fácil e é plastificado.
A compensação vem no visual bem elegante e moderno do painel e na parte tecnológica. O T-Cross Comfortline conta com luzes decorativas no painel, portas e na parte de baixo, dando elegância. O painel de instrumentos digital é referência na categoria pela qualidade da tela e quantidade de recursos.


Já a central multimídia VW Play ainda é da geração anterior, mas segue dando banho na concorrência. É fácil de mexer, intuitiva e elegante. Conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio com conexão rápida. Um contraste com o ar-condicionado digital de uma zona com comandos touch que são ruins de serem operados em velocidade.
Maior do que parece
Por conta do entre-eixos esticado emprestado do Virtus, o Volkswagen T-Cross é bem espaçoso por dentro. Além disso, como os bancos dianteiros te obrigam a sentar mais verticalmente, isso abriu bastante espaço na traseira. Eu, com 1,87 m de altura, consigo sentar atrás da minha posição de dirigir com facilidade.


O teto solar panorâmico, opcional no T-Cross Comfortline e no Highline, ajuda a arejar ainda mais a cabine. Além disso, há muitos porta-objetos, mas o porta-copos no centro do console é pequeno. No porta-malas, o SUV compacto leva 373 litros com o banco traseiro na posição padrão. Contudo, ao deixá-lo menos inclinado, cabem 420 litros de bagagem.
Topo de linha
O interessante do posicionamento de versões que a Volkswagen criou para o T-Cross é que o Comfortline e o Highline se diferenciam apenas pelo motor (e pelo rack de teto prata no modelo mais caro). Entretanto, vale lembrar que o sensor de chuva e retrovisor eletrocrômico são conjugados ao pacote do teto solar de R$ 7.550, então o leve sempre.

De série, o T-Cross Comfortline conta com ar-condicionado digital de uma zona, faróis com acendimento automático, painel de instrumentos totalmente digital, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, start-stop, chave presencial, carregador de celular por indução, faróis full-LED, vidros elétricos nas quatro portas e retrovisor elétrico.
Há ainda controle de tração e estabilidade, seis airbags, frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, carregador de celular por indução, seletor de modo de condução, rodas de liga-leve de 17 polegadas, volante revestido em couro com ajuste de altura e profundidade.

Veredicto
De todas as versões do Volkswagen T-Cross, o Comfortline é o mais equilibrado. Nessa variante, entrega boa performance, é prazeroso ao volante (tirando o acelerador) e ainda vem com consumo mais comedido O brinde é a farta lista de itens de série. Além disso, é um SUV espaçoso, com boa revenda e fama interessante no mercado brasileiro.
Só precisa corrigir dois problemas: o delay de acelerador é extremamente irritante e, se for corrigido eletronicamente por preparadoras que já desenvolveram essa fórmula, você perde a garantia do carro. Isso é bem ruim. Além disso, o acabamento é muito pobre para a categoria, mas é algo inerente a todo Volkswagen.

Você teria um Volkswagen T-Cross? Conte nos comentários.