Confesso que nunca fui fã da Lexus. Até porque, antes de passar uma semana com o RX450h, meu contato com a marca sempre foi curto e resumido ao UX, que testei duas vezes. Lá fora, a marca é conhecida por ser confiável, mas um leve patamar abaixo das rivais. Só que o Lexus RX450h mudou minha mente e o tapa que ele deu nos rivais é sentido.
Enquanto o Série 3 é o carro mais importante da BMW, na Lexus a grande estrela é o RX. Globalmente, os EUA são o território mais importante para a marca de luxo da Toyota e o SUV de porte grande tem o tamanho certo para o país, o que o torna o protagonista. Ainda que o LS dite o futuro da marca, o RX o torna alcançável.
Tudo bem que estamos falando de um carro de R$ 609.990, vendido no Brasil em versão única com sistema híbrido plug-in. Mas acessível no sentido de ser uma tecnologia solidificada o suficiente para descer a outros modelos da fabricante japonesa de carros de luxo.
Combinação de um trio
Para compor o conjunto mecânico do Lexus RX450h, a Toyota combinou três motores diferentes. A receita começa com o consagrado 2.5 quatro cilindros aspirado de 187 cv e 23,6 kgfm de torque movendo as rodas dianteiras. Os números parecem fracos para um motor desse tamanho, mas seu foco é na economia de combustível.
Ainda para o eixo dianteiro, o Lexus RX450h traz motor elétrico de 182 cv e 27 kgfm de torque. Já na traseira são 54 cv e 12,1 kgfm apenas para auxiliar a condução quando se faz necessário um empuxo na retaguarda. Ao todo temos um carro com 308 cv e 45,9 kgfm de torque capaz de chegar aos 100 km/h em 6,5 segundos.
Ou seja, o Lexus RX450h, mesmo pesando o equivalente a dois Yaris, totalizando 2.200 kg, consegue ser um carro muito rápido. A transição de motores é muito sutil e rápida, não sendo sentida pelo motorista. Ao acelerar, o motor elétrico entra em ação para que, alguns metros depois, o combustão auxilie…a depender do nível de bateria.
É o jeito que roda
O sistema japonês nunca deixa a bateria zerar, mantendo 20% de carga como mínimo (ainda que em situações bem específicas ele desça além disso). É uma estratégia inteligente para que o consumo de combustível fique sempre baixo. Afinal, híbridos plug-in que esgotam a bateria rápido tendem a se tornar extremamente gastões, o que não é o caso do Lexus.
Mesmo sem carregá-lo por um tempo, o SUV ainda mantém o motor elétrico para sair da inércia e reduzir o esforço do 2.5 aspirado. Como resultado, o consumo médio ficou em 17,8 km/l sem recarregá-lo na tomada nenhuma vez ao longo dos 750 km que rodei com o RX450h. Oficialmente a Lexus declara 13,9 km/l na cidade e 12,4 km/l na estrada.
Vale ressaltar que o RX450h pode ser carregado sozinho ativando o modo Charge no console central. Neste momento, o 2.5 trabalha para mover o carro e também carregar as baterias. Mas é notável a redução de potência e torque. O Lexus se arrasta, o giro motor sobe muito por conta do câmbio CVT e toda vivacidade dos 308 cv some.
Serenidade apaixonante
Meu perfil de carro preferido é esportivo, com suspensão mais durinha e um comportamento mais apimentado. Na teoria, o Lexus RX450h é o completo oposto disso, visto que é um carro voltado ao conforto. Mas a serenidade que esse carro entrega, é apaixonante. O interior é muito bem isolado, com vidros duplos e camadas pesadas de material acústico.
É pouco provável que você perceba que o casal ao seu lado está brigando dentro de um Renault Kwid quando você está parado no trânsito com o Lexus RX450h e o som ligado em volume ambiente dado o nível de isolamento acústico. E essa sensação é também passada na rodagem com o SUV.
A suspensão absorve os impactos sem reclamar, mesmo que os pneus de perfil fino (235/50 R21) sintam um pouco os buracos mais severos. Na estrada, ele parece um tapete mágico, dado o rodar sublime, estável e sólido. Já na cidade, o RX mostra conforto muito acima da média e promove uma direção mais relaxada.
Por falar em direção, o volante tem ajuste elétrico e assistência também elétrica. Ele é mais pesado e firme, como se espera de um carro de luxo. Contudo, é um carro voltado ao uso no conforto. Por isso, a direção filtra muito do que acontece no asfalto, mas responde velozmente.
Sem cafonice
O silêncio interno combina muito com a escolha de materiais e visual que a Lexus aplicou no interior do RX450h. O SUV não apela para telas gigantescas e um carnaval de cores como alguns de seus rivais fazem. Há couro e material macio por todos os cantos, inclusive a madeira usada na cabine é de verdade, não plástico imitação.
A Lexus soube fazer um equilíbrio bom entre botões e um visual limpo. O que é necessário ter comando físico, existe. A temperatura do ar-condicionado é operada por rotores instalados na tela, enquanto os demais elementos do sistema de ventilação são touch. Há botão de volume, de modo de condução e de sistema de direção.
A única coisa que irrita (muito) é que os comandos do volante são físicos, mas contam com um pré-toque touch. Ao encostar neles, um guia aparece no painel de instrumentos indicando o que cada comando faz. Só de encostar a mão ali, esse menu aparece de maneira totalmente desnecessária.
A central multimídia chama a atenção pela tela ampla e de excelente qualidade. Ela domina o painel, é fácil de mexer e conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Quem quiser usar cabo, terá de deixar o celular escondido dentro do console central, o que ajuda na segurança.
Já o painel de instrumentos é um pouco decepcionante. Por mais que tenha leitura fácil e seja completo, a tela é pequena e é perceptível a presença de luzes nas loterias como se fosse o painel antigo do Corolla híbrido. Vale destacar ainda que a manopla de câmbio é um pouco confusa no primeiro uso.
Luz indireta, regulagem direta
Entre os mimos de destaque do Lexus RX450h está a presença de luz indireta no painel e console, criando um ambiente intimista de casa de rico. O modelo da frota de imprensa conta com couro preto dentro, uma escolha sem graça frente às opções Marrom e Bege que são disponíveis. A cor externa também traz opções interessantes como vermelho, bronze, verde e azul.
Um ponto tecnológico legal do Lexus é a maçaneta. Tanto a externa, quanto a interna, funcionam através de um botão que é apertado para abrir a porta. Contudo, é possível puxar os dois comandos para abertura física em caso de emergência. Motorista e passageiro contam com memória, aquecimento e resfriamento dos bancos elétricos.
Na traseira, o espaço é gigantesco, tanto para as pernas, quanto para a cabeça. E é possível disfrutar melhor do teto solar panorâmico. O mimo fica por conta da regulagem elétrica do encosto, que também pode ser dobrado totalmente pelo toque de um botão no porta-malas. Lá atrás, são 461 litros.
Tem muita coisa
Como era de se esperar de um carro tão caro quanto o Lexus RX450h, a lista de itens de série é muito grande. O SUV conta com ar-condicionado digital de três zonas, faróis full-LED com assistente de luz alta e acendimento automático, painel digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, controle de tração e estabilidade.
Há ainda frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, assistente de manutenção em faixa, alerta de tráfego cruzado, alerta de ponto cego, chave presencial, vetorização de torque, câmera 360°, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, retrovisor fotocrômico com câmera traseira e sistema de som assinado.
Veredicto
O Lexus RX450h é o tipo de SUV que te encanta na convivência. Ele mostra o melhor que o Japão pode produzir em um modelo de volume mais alto, voltado ao mercado norte-americano, mas que ainda assim tem poder para flechar até aos europeus e brasileiros.
Ele é um tapa na cara de muito carro alemão que tem só status, mas que deixou de entregar o verdadeiro luxo que se espera nessa faixa de preço. Econômico, potente, muito refinado e discreto, o Lexus RX450h é o tipo de carro que pode fazer a Toyota finalmente transformar sua divisão de luxo no centro das atenções que ela sempre mereceu.
Você teria um Lexus RX450h? Conte nos comentários.