Até pouco tempo atrás, o único jeito de levar oito pessoas dentro de um mesmo carro no Brasil era com uma Kia Carnival (ou de maneiras fora da lei, a qual não recomendo). Mas a minivan coreana é totalmente avessa à terra, justamente o tipo de território em que o novo Land Rover Defender 130 escolheu para brilhar.
Ele é o primeiro e único SUV à venda no Brasil capaz de levar oito pessoas com segurança e, surpreendentemente, com espaço. Mas cobra salgados R$ 899.950 por isso: R$ 99 mil a mais que o Defender 110 na versão topo de linha X com um lugar a menos. Ou seja, um assento extra e 31 cm a mais de carroceria custam quase R$ 100 mil. Que banco caro!
Não há nada como o diesel
Mas se pensa que o tamanho de caminhonete média e a capacidade de passageiros de um ônibus faria dele menos capaz que os outros Defender, engana-se feio. Da última vez que testei esse Land Rover, ele trazia consigo um motor 2.0 quatro cilindros turbo a gasolina de 300 cv e 40,8 kgfm de torque. O famoso até aí tudo bem.
Era um motor que dava conta do recado, mas o brasileiro tem um certo fetiche com SUVs 4×4 e caminhonetes diesel. Por isso, a Land Rover não deixou o Defender 130 vir ao nosso país sem antes de trocar de motor – mudança que afetou toda a linha. Agora, temos um 3.0 seis cilindros em linha com 300 cv e 66,3 kgfm de torque movido a diesel.
E que diferença absurda isso resultou. A potência é igual, mas o torque é bem superior, o que se faz necessário quando oito pessoas estão à bordo do Defender. Ele não nega força a nenhum momento, mas é nítido que, quanto carregado, ele sente o peso extra. Ainda assim, é capaz de retomar de 80 km/h a 120 km/h sem gritaria ou falta de fôlego.
Nas estradas, ele brilha com o silêncio sepulcral do motor diesel. Não há ruído, nem vibração. Passageiros que andaram comigo no Defender questionaram se era elétrico ou híbrido, tamanho o silêncio ao ligar. Mas ao pisar fundo, os seis cilindros cantam de maneira presente, mas elegantes como um lorde inglês.
Como resultado, temos uma média boa de consumo: 9,8 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada. Durante nossos testes, o Defender chegou a 10 km/l na cidade e 13,1 km/l na estrada. Contudo, em uma viagem com sete pessoas, a média baixou para 9,8 km/l com trechos de off-road e muita estrada.
Vai sem medo
Apesar dos pneus finos 255/60 R20, o Land Rover Defender 130 desenvolve bem em off-road de alta velocidade. Estradas de terra batida com muito cascalho e imperfeições são enfrentadas por ele como se fosse uma rua de paralelepípedo. Trunfo do excelente isolamento acústico e da suspensão a ar regulável.
O SUV parrudo pode baixar a carroceria até a altura de acesso 4 cm mais baixa que a altura de rodagem ou subir 7,5 cm para o modo off-road. Nessa altura, faz parecer estar em uma caminhonete grande como as Ram e a Ford F-150 – ainda que o Defender tenha porte de picape média estilo Toyota Hilux e Ford Ranger.
A suspensão trabalha com muito conforto, absorvendo muito do impacto vindo de solo. Já a direção com assistência elétrica é macia e também faz bem esse trabalho de filtrar o que vem do solo – mas não suficientemente para perder a referência do que acontece com os pneus, o que se torna algo muito bom.
Há de pontuar também que o câmbio automático de oito marchas opera na suavidade em nível máximo. Ele ajuda o motor a manter giro baixo com o intuito de economizar combustível, mas demora a fazer as trocas ascendentes. É nítido o momento de desacoplamento de uma marcha e entrada de outra. Nas reduções, contudo, é rápido.
Sim, cabe tudo isso
Um ponto que mais me surpreendeu no Land Rover Defender 130 é a real capacidade de levar oito pessoas. Não é como muitos modelos em que a fileira do fundão serve somente às crianças ou adultos de baixa estatura. Mesmo eu com 1,87 m de altura caibo lá de maneira aceitavelmente confortável.
Claro que o passageiro do meio da última fileira fica mais apertado, mas nada diferente do assento central de muitos carros. Já o porta-malas ainda consegue levar úteis 260 litros mesmo com todos os lugares armados. A exceção dos passageiros centrais, todos têm à disposição aquecimento nos bancos e entradas USB para carregar o celular.
A turma do meio ainda é agraciada com bancos com regulagem de distância e inclinação e seletor individual de temperatura, totalizando quatro zonas. Quem senta no fundão tem teto solar com cortina individual, saídas de ar específicas e porta-copos. Já na frente temos bancos reguláveis eletricamente com direito a resfriamento, além do aquecimento.
O acabamento, como esperado, é ótimo. Há plástico em algumas superfícies, mas sempre levemente emborrachados ou com algum tipo de textura interessante – isso inclui imitação de madeira no console central. Couro em puxadores e em partes do painel ajudam a dar um ar real de Land Rover ao Defender.
Junte isso ao novo conjunto de telas e terá uma dimensão da sofisticação do modelo. A central multimídia agora tem tela curva e qualidade digna de um iPhone. O sistema é fácil de mexer e conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Já o painel de instrumentos traz tela de ótima definição e gráficos que vão do estilo clássico até elementos para elétricos.
X é multiplicado
Sendo a versão mais cara e sofisticada do Land Rover Defender, a 130 X traz uma imensidão de itens de série. Além dos anteriormente mencionados, ele conta com geladeira, alerta de ponto cego, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, alerta de tráfego cruzado, câmeras 360° com efeito 3D, indicador de fadiga e farol alto automático.
Há ainda purificador de ar com filtro anti covid-19, vetorização de torque, tração nas quatro rodas, chave presencial, seis airbags, indicador de pressão dos pneus, teto solar panorâmico, retrovisor fotocrômico, câmera no retrovisor traseiro, volante com ajuste elétrico de altura e profundidade, head-up display e sistema de som premium Meridian.
Veredicto
Poderia gastar aqui palavras e argumentos para dizer o quão o Land Rover Defender 130 é um carro verdadeiramente bom. Mas não há argumento de comparação contra ele: é o único SUV de oito lugares à venda no Brasil. Ponto. Se essa é sua prioridade, não há outra escolha.
O bom é que esse inegável atributo está vestido em uma embalagem bonita, bem feita, elegante e com a parrudez já conhecida do modelo. Custa muito caro, de fato, beirando um milhão de reais. Mas não há nada igual a ele, literalmente. E com esse motor diesel, ficou muito melhor do que antes.
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