É bom e é caro

Kia Sportage: o que tem de bom, tem de caro | Avaliação

É surpreendente o quanto os carros da Kia evoluíram ao longo do tempo, mas o preço pesou no SUV médio Sportage

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Em um passado não muito distante, a Kia povoava as ruas do Brasil com Cerato, Picanto e Sportage. O trio tinha preço abaixo da média, qualidade dentro do que se esperava e até eram figurinhas carimbadas na novela das 21h. Só que agora a situação é outra, ao mesmo tempo que a operação enxugou, a marca agora tem carros muito melhores do que antes.

Esse é o caso do Kia Sportage. Um SUV médio que já foi muito comum nas ruas brasileiras, mas que agora se tornou uma raridade e há motivos para isso. Ao mesmo tempo que é uma pena, visto o nível que esse carro chegou. Mas o que o Sportage tem para o tornar tão bom e, ao mesmo tempo, tão erradamente precificado.

O pessoal da BMW

Não é de hoje que parte da engenharia da Hyundai e da Kia é tocada por várias pessoas que trabalharam na BMW. A marca alemã sempre foi muito conhecida por fazer carros verdadeiramente gostosos de dirigir. Mas parece que esses ensinamentos foram mais absorvidos pela fabricante do Sportage do que pela do HB20.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Toda vez que dirijo um Kia me surpreendo como a marca verdadeiramente pensa em quem está atrás do volante em vários aspectos. São carros verdadeiramente engajantes de pilotar, o que surpreendeu muito no Sportage. O modelo tem dinâmica de hatch, com suspensão mais firme e direção rápida e com calibragem voltada a esportividade.

O chassi do Sportage é bem acertado, garantindo uma tocada mais dinâmica de hatch médio, ao mesmo tempo em que a suspensão segura bem a carroceria nas curvas. Um Sportage GT seria muito bem vindo e sua tocada faz parecer bastante os tempos em que o Volkswagen Tiguan era um SUV voltado a tocada esportiva, não conforto.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Alto lá

Parte dessa sensação de esportividade também é mérito do motor 1.6 quatro cilindros turbo semi-híbrido. Ao contrário do que sugere o  logotipo Hybrid na traseira, esse SUV não é híbrido de verdade. Na realidade, ele tem sistema MHEV, ou híbrido leve, no qual um motor elétrico pequeno substitui o alternador e o motor de partida, mas não move o carro.

A ideia é reduzir consumo e aliviar o esforço do 1.6 turbo, mas isso não acontece tanto assim na prática. Durante nossos testes, o Kia Sportage manteve média de 9,9 km/l na cidade e 10,3 km/l na estrada, subindo a 11,5 km/l no modo Eco por conta da desativação do motor com a função velejar. Oficialmente, ele deveria fazer 11,5 km/l na cidade e 12,1 km/l na estrada.

Kia Sportage
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Mas esqueça de consumo, para isso compre um BYD Song Pro ou um GWM Haval H6. No caso do Kia Sportage, a entrega de uma boa dirigibilidade é o que verdadeiramente conta – algo que os rivais não conseguem nem chegar perto. São 180 cv e 27 kgfm de torque bem entregues pelo 1.6 turbo.

Ele é pareado a uma transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas que tem bom funcionamento, mas alguns pecados. Na hora de fazer uma retomada, o câmbio é bem rápido, respondendo com reduções de marcha instantânea. Além disso, ele faz trocas suaves, ainda que demoradas.

Kia Sportage [ Auto+ / João Brigato]

O problema fica na hora de sair em uma inclinação ou subida. Vez ou outra, o Kia Sportage esquece que tem assistente de partida em rampa e vai para trás. Isso aconteceu em diversas situações ao longo da semana de testes com o SUV médio. Fora isso, todo sistema trabalha em silêncio absoluto, como se fosse um carro premium de verdade.

Falando em premium

Não somente o isolamento acústico do Kia Sportage te passa uma sensação de carro premium, a cabine segue por esse mote. Algo que se faz justificável ao ver que a Kia quer cobrar R$ 274.990 por ele, o posicionando bem acima de Jeep Compass, BYD Song Plus, GWM Haval H6 e outros modelos da categoria.

Kia Sportage
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

O painel e as portas contam com revestimento macio de couro na parte superior. Couro também é usado nas laterais de portas, console central e nos bancos, que ainda trazem alcantara em pontos de contraste. O volante traz couro de qualidade de marca premium, tendo toque aveludado e costuras muito bem feitas.

Sim, há plástico nas portas e no console, mas sempre bem feito e bem encaixado. À frente do motorista está uma tela de 12,3 polegadas para o painel de instrumentos totalmente digital, enquanto a central multimídia, também de 12,3 polegadas, é levemente curvada para o piloto.

Vale destaque para o sistema de câmeras de ponto cego que projetam imagens no painel mostrando o que há do lado direito ou esquerdo, conforme a seta é dada (como no Hyundai Creta). Além disso, a central conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, sendo muito fácil de usar.

Logo abaixo delas, o Sportage conta com uma faixa touch onde ficam também os rotores que funcionam como comandos para o ar-condicionado ou para controle do rádio, dependendo da função escolhida. É algo extremamente prático, elegante e bem pensado. A Kia, inclusive, colocou vários botões grandes e fáceis de serem alcançados no console.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Nitidamente a marca sul-coreana pensa que o motorista vai dirigir o Sportage o tempo todo e precisa ficar atento à estrada. Ao contrário de várias montadoras que colocam tudo na central multimídia ou em comandos touch extremamente complicados e que roubam a atenção. Tudo no Sportage é fácil de operar.

Pensando nas famílias

Um ponto interessante sobre o Kia Sportage é que, mesmo sendo um carro nitidamente voltado para que o motorista curta a experiência ao volante, ele também cuida de quem senta atrás. O espaço é bem vasto, tanto para os joelhos, quanto para as pernas. O teto solar panorâmico, item de série, ajuda nessa sensação.

Na lateral dos bancos traseiros há entradas USB do tipo C para facilitar o carregamento de celulares. Além disso, o encosto conta com um suporte para celular ou tablets, que permite que crianças sigam entretidas durante uma viagem. O suporte é emborrachado e garante que o aparelho ficará lá mesmo em uma curva forte.

O porta-malas leva 562 litros e tem abertura elétrica. Ele conta com nichos na lateral e um fundo com divisórias para levar outros objetos. Além disso, é possível abrir o porta-malas automaticamente ao permanecer por cinco segundos com a chave no bolso atrás da tampa. Após alguns bipes, a tampa abre sozinha, algo muito prático no dia-a-dia.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Preço do prestígio

Como agora é vendido somente na versão topo de linha EX Prestige de R$ 274.990, o Kia Sportage vem lotado de itens de série. O SUV conta com ar-condicionado digital de duas zonas, chave presencial, teto solar panorâmico, bancos revestidos em couro com aquecimento e resfriamento na dianteira, além de ajuste elétrico.

Há ainda faróis e lanternas full-LED, sensor de chuva e farol, piloto automático adaptativo, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, carregador de celular por indução, rodas de liga-leve de 19 polegadas, alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, alerta de saída segura e de tráfego cruzado.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Há ainda alerta de ponto cego, sistema de câmeras 360°, seis airbags, controle de tração e estabilidade, sistema de manutenção em faixa, freio de estacionamento eletrônico, retrovisores com rebatimento automático, sistema start-stop e partida remota. 

Veredicto

Pensando como um SUV médio urbano, o Kia Sportage é certamente um dos melhores que temos hoje no mercado brasileiro. Tem visual exótico e diferente, interior verdadeiramente refinado que briga com marcas de luxo e é um tesão para andar, além de bem equipado e espaçoso por dentro.

Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]
Kia Sportage [Auto+ / João Brigato]

Mas pagar R$ 274.990 em um carro que não é híbrido tendo modelos com porte mais generoso e motorização capaz de fazer 1.000 km com um tanque custando R$ 50 mil a menos coloca o Kia em um território muito perigoso. Se prazer ao dirigir é seu foco, abrace ele sem medo. Se só quer um SUV médio bom, há carros tão bons quanto por menos.

Você teria um Kia Sportage? Conte nos comentários.