Kia EV6 [Auto+ e Auto Esporte / Murilo Góes]

Lembra de quando os carros coreanos tinham o mesmo status dos chineses? Nos anos 1990, eles eram vistos como carros simples, baratos e até um tanto quanto simplórios. Mas, evoluíram e se tornaram símbolo de status, impulsionados principalmente pelos Hyundai Tucson e i30, além dos Kia Sportage e Sorento.

Hoje as coreanas são tão bem vistas quanto as japonesas, talvez até mais em alguns momentos. Para tanto, há até a Genesis, uma marca de luxo que tenta ser a BMW da terra do BTS. Mas, sinceramente, não via nada tão impactante vindo dos coreanos desde o Kia EV6. Elogiadíssimo lá fora e primeiro carro de produção 100% elétrico da Kia, ele muda tudo.

Primeiro que antes do EV6, a marca sul-coreana só atingia o mercado de luxo aqui no Brasil com a minivan Carnival. Ela até tentou com o sedã gigante Quoris e o Cadenza, mas eles viraram mico rapidinho. Com o EV6, porém, a Kia tem como vantagem a autonomia mais do que generosa e o visual estonteante.

Anda para caramba

Como o Auto+ teve o primeiro contato com o EV6 com exclusividade junto da revista Auto Esporte para a produção de um grande comparativo de elétricos, ainda não obtivemos os dados oficiais da Kia. A marca promete autonomia superior a 500 km, o que o colocaria atrás somente do BMW iX que faz 630 km com uma carga. Na Europa, o oficial do EV6 é 510 km no ciclo WLTP.

Essa autonomia mais do que generosa se deve ao layout de apenas um motor escolhido pela Kia para o Brasil. É justamente com seus 229 cv na traseira que o SUV cupê elétrico com a maior autonomia de toda a gama, já que nas versões de dois motores ou na esportiva GT, a potência pode até dobrar, mas a autonomia cai significativamente.

Mas isso significa que ele é um carro lento? Muito pelo contrário. O torque instantâneo do propulsor elétrico faz com que ele seja um foguetinho. O EV6 acelera forte e é bastante esperto. Não é um Porsche Taycan ou um Volvo XC40 de performance, mas está acima dos mundanos Nissan Leaf, Renault Zoe e JAC E-JS4.

Acento forte

O que mais impressiona no EV6, além de sua autonomia generosa, na realidade, é como ele anda bem. Em carros premium, você espera por um rodar acima da média, mais bem ajustado e silencioso. E é isso que ele tem. Combina uma suspensão mais firminha e esportiva para ajudar em curvas mais fortes e animadas.

A direção, com seu curioso e elegante volante, é bem rápida e direta. Isso faz com que o EV6 tenha a agilidade de um hatch compacto, mesmo que ele tenha porte de Jeep Compass. Todo conjunto trabalha em impressionante silêncio e solidez que esperaria de um Volvo elétrico, não de um Kia.

Outro ponto em que nitidamente ele está muito acima dos outros carros da marca é em acabamento. Se o logotipo estivesse tampado, certamente passaria tranquilamente como um Audi ou um Mercedes-Benz futurista. A qualidade de acabamento é exemplar, com muitas superfícies macias ao toque e uso de materiais diversos como imitação de aço escovado.

As telas que compõem o painel de instrumentos e a central multimídia são levemente curvadas e tem qualidade semelhante a um iPad. O painel tem mostradores que imitam uma estrada infinita e colocam o EV6 ao centro junto ao velocímetro e medidor de força – tudo em um layout bem elegante.

Já a central multimídia traz Android Auto e Apple CarPlay preenchendo toda a tela. Ela é rápida na execução das ações e prática de usar. Especialmente porque a Kia separou os comandos do ar-condicionado e da central em uma placa sensível ao toque que muda quais funções ela controla ao toque de um botão.

Vale destacar ainda o console central alto e gigantesco que conta com diversos porta-objetos. Incluindo um logo abaixo dele que facilmente levaria uma mochila. Quem se senta atrás tem espaço comprometido levemente pela linha do teto, mas traz entradas USB nas laterais dos bancos dianteiros como um ponto de praticidade.

Estrela de cinema

No nosso comparativo de carros elétricos, o Kia EV6 precisou dividir atenção com um Porsche Taycan vermelho, um JAC E-JS1 rosa e um BYD Tan azul. Modelos bem mais chamativos do que ele, que estava em um discreto tom cinza acinzentado. Contudo, muitas câmeras apontaram para ele durante o trajeto entre Campinas e São Paulo.

Isso se dá por conta do visual exótico do modelo. Ele é quase um SUV cupê, mas tem jeitão de hatch gigantesco. Dianteira baixa com capô bem inclinado combina bem com os faróis afilados dotados de sessões de LED. Só senti falta da típica grade nariz de tigre da Kia. Na versão GT Line trazida para o Brasil, não há parte inferior da carroceria com plástico preto.

Mas o ponto mais legal do EV6 é a traseira. O vidro traseiro bem inclinado se encontra com uma tampa do porta-malas com pequeno ressalto como nos cupês de verdade. Ali, as lanternas formam um arco que se conecta com o friso na lateral em uma elegância ímpar. Já o friso cromado da parte inferior disfarça o local onde está a seta.

Entre eles temos o logotipo da Kia e o bocal de abastecimento disfarçado no lado direito das lanternas. Uma barbatana aerodinâmica no teto da um charme extra ao modelo, que conta com todas as colunas em preto brilhante, o que possibilita teto com pintura contrastante.

Veredicto

Analisando o Kia EV6 como produto, ele é, definitivamente, o melhor carro que a marca coreana já trouxe (ou trará) para o Brasil. Tem autonomia muito acima da média, rodar sólido e divertido, além de construção e interior de marca premium. Performance não é estonteante como muitos carros elétricos, mas está acima do lugar comum.

Resta saber qual será o preço, equipamentos e disponibilidade do EV6 por aqui. Mas ele mostra o potencial de virada de chave da marca sul-coreana no Brasil. A mesma virada que Soul, Sportage e Cerato fizeram na época pré Inovar Auto.

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