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Ô loco bicho!

JAC Hunter é a velha escola dos carros chineses, pelo bem e pelo mal | Avaliação

Antigamente os carros chineses tinham custo-benefício fortíssimo e isso a JAC Hunter traz de volta, junto a uma inegável robustez

JAC Hunter preta de frente em uma construção
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

No começo da trajetória dos carros chineses no Brasil, eles tinham qualidade bem questionável, mas um preço verdadeiramente atraente. Pagava-se pouco para levar um carro muito mais completo que modelos generalistas. Mas as coisas mudaram, especialmente com BYD e GWM. Mas a JAC Hunter é da velha escola. Pelo bem e pelo mal.

Custando apenas R$ 249.990, a JAC Hunter é muito barata frente às rivais. Para ter tantos equipamentos quanto ela, as concorrentes diretas custam mais de R$ 300 mil com facilidade. Isso mostra o forte apelo de custo-benefício que já fez parte dos carros chineses. Mas ela tem também algo da JAC de antigamente.

Legado de caminhão

Pode reparar nas ruas. Dos primeiros carros chineses, você não vê mais nenhum Chery Cielo, Face ou QQ, enquanto os Lifan sobrevivem quase esfarelando nas ruas. Os JAC? Íntegros em sua grande maioria. Das chinesas de primeira fase, ela era a com os carros mais robustos, comprovando isso com o tempo. É que a JAC faz caminhões na China, o que explica muita coisa.

JAC Hunter preta de traseira em uma construção
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

A Hunter bebe dessa mesma fonte. É uma caminhonete que transmite robustez pelo visual parrudo e também pela condução. A suspensão é um elemento que chama bem a atenção. É parruda e aguenta os castigos sem reclamar. A carroceria também não range, mostrando que a montagem é bem feita.

Ela não é tão moderna como a Ford Ranger, fazendo com que a caminhonete nitidamente pule como modelos de antigamente. Na realidade, o pula-pula da JAC Hunter é bem semelhante ao da Toyota Hilux, que também é uma picape à moda antiga. Felizmente, está anos luz à frente do sistema de suspensão da Fiat Titano.

JAC Hunter preta de lado em uma construção
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

A direção tem calibração variável atráves da central multimídia. Confesso que deixei em sport o tempo todo, pois carros chineses costumam ter direção molenga demais. Nesse acerto, ela ficou muito bem. Tendo peso exato para dar mais segurança em altas velocidades e leveza suficiente para manobras.

Aliás, chama atenção a estabilidade da JAC Hunter em altas velocidades. Ao contrário da BYD Shark e da Volkswagen Amarok que flutuam em alta, ela se mantém firme e estável. Pena que, sempre acima de 130 km/h, ela emite um sinal no painel de instrumentos indicando para baixar a velocidade. O aviso sonoro é igual de Volkswagen com porta aberta.

JAC Hunter preta de traseira em uma construção
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

Parece mais do que é 

Outro ponto que chamou muito a atenção na JAC Hunter é o conjunto mecânico. Ela é a primeira caminhonete de origem chinesa a usar motor diesel. Trata-se de um 2.0 quatro cilindros turbo de 191 cv e 46,9 kgfm de torque, mas que parecem mais. O segmento obriga as médias a terem pelo menos 200 cv e 50 kgfm e a Hunter parece estar lá.

Entretanto, os 11,9 segundos de tempo de 0 a 100 km/h poderiam ser substancialmente mais curtos se não fosse o terrível delay de acelerador. Para sair na inércia, a JAC Hunter pensa em toda história de Sergio Habib no Brasil antes de acelerar de fato. É tanta demora que o motorista instintivamente afunda mais o pé no acelerador em busca de respostas.

motor diesel jac hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

Depois de uma demora inconveniente, ela acorda e vai. E quando embala, vai com força. As retomadas também tem delay por conta do acelerador. Mas o câmbio automático de oito marchas responde muito bem. Ele tem trocas suaves e rápidas, tendo funcionamento bem parecido com o conjunto usado na Chevrolet S10.

Que caminhonete é essa?

Algo que me surpreendeu durante a semana de testes com a JAC Hunter foi a quantidade de pescoços virados na rua para apreciar a caminhonete. Especialmente porque a cor escolhida para o modelo de imprensa, o preto, combinou muito com os detalhes escurecidos e parrudos dela. Deu uma cara de bandida, como diz a gíria da internet.

frente da jac hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

O mais engraçado foi a reação unanime de todas as pessoas que me perguntaram de que marca era. Ao falar, a resposta sempre foi “JAC? Caramba!”. Afinal, a marca é conhecida no Brasil, mas por fazer carros elétricos ou modelos populares mais baratos. Não é associada a uma caminhonete diesel, ainda mais com esse estilo provocante. 

Nem todos viram a Hunter por dentro, mas suponho que a reação seria igualmente positiva. Afinal, a cabine dela é bem feita. Para o Brasil, todas as unidades contam com revestimento interno em couro marrom. Ele tem toque aveludado e nítida qualidade, especialmente no volante. 

interior da JAC Hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

Em geral, por conta do costume local, os carros chineses não têm cheio de novo. Por lá, eles não apreciam esse odor, ao contrário dos brasileiros. Mas a Hunter tem um perfume próprio internamente que denota qualidade. Os encaixes são muito bem feitos e o fato de toda porção central do painel ser macia, é algo raríssimo na categoria (só a BYD Shark tem).

A velha escola do jeito errado

Entretanto, temos algumas cafonices e economias de custos. Ela conta com uma faixa de LED que contorna a cabine e que pode ficar piscando e mudando de cor de acordo com a música. Me veio a sensação de que, em algum momento, a Hunter diria “the bluetooth device is ready to pair”.

cabine da jac hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

Felizmente, é possível deixar em um tom som de maneira elegante. O painel de instrumentos é bem ruim, não pela qualidade da tela, mas sim pelo layout. A tela é pequena e as informações ficam amontoadas, além de ter estilo de carro elétrico. Há uma aparência com mostradores azuis e outra com temática chinesa dourada com passarinhos.

O medidor de arla no tanque é enorme e se faz confundir com o marcador de combustível, que fica nas laterais com luzes, como em um Renault Kwid. O mesmo vale para a central multimídia, que tem uma tela de qualidade, mas o layout é confuso e com jeito de tablet barato da 25 de março.

Aliás, a central conta com Android Auto e Apple CarPlay, mas conectados somente a cabo. Além disso, ela trava constantemente, congelando a tela e reiniciando sozinha. Felizmente, comandos do ar-condicionado ficam no console. Mas a JAC esqueceu de um botão para o volume e uma tecla dedicada no volante para trocar de música.

Espaço é farto

O acabamento é bom, mas a ergonomia não. Como o piso da JAC Hunter é muito alto, como na Mitsubishi L200 Triton antiga, não há muito espaço para os pés. Um motorista alto, precisa sentar mais para trás para ter uma posição confortável, mas o volante não ajusta em profundidade.

Como resultado, é preciso ficar mais próximo do painel do que o ergonomicamente ideal. Pessoas de estatura mais baixa, contudo, encontram com facilidade uma posição boa para guiar. No banco traseiro, a JAC Hunter sobra espaço. Mas, o novamente, o piso alto obriga o joelho a ficar bem alto.

Na caçamba, são 1.135 litros de capacidade com impressionantes 1.400 kg de capacidade – o maior da categoria. Infelizmente, contudo, a JAC não colocou nenhum tipo de auxílio para abertura e fechamento da tampa da caçamba, que é muito pesada. 

caçamba jac hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

É o necessário e mais

De série, a JAC Hunter conta com uma linha de itens bem grande, mas ainda assim sem nenhum sistema de auxílio à condução. Ela não tem frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego ou piloto automático adaptativo – itens bem quistos nessa categoria, mas com ausência bem aceitável pela faixa de preço.

Entretanto, ela traz confortos como teto solar, banco do motorista e do passageiro com regulagem elétrica e freio de estacionamento eletrônico como grandes diferenciais que rivais bem mais caras nem sonham em ter – ao menos os três itens juntos. Ainda há câmera 360°, faróis full-LED com acendimento automático e ar-condicionado digital de uma zona.

traseira da jac hunter
JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

A Hunter traz ainda seis airbags, controle de tração e estabilidade, painel de instrumentos totalmente digital, chave presencial, seletor de modo de condução, autohold, carregador de celular por indução, capô com mola a gás, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, além de tração 4×4 com seletor eletrônico e reduzida.

Veredicto

O custo-benefício da JAC Hunter é inegável, onde você leva uma caminhonete bem completa pelo preço de versões cabine simples de muitas rivais. Ela é melhor de andar do que se espera e tem um interior bem feito. Não parece um carro chinês da velha escola, ainda que tenha algumas cafonices internas que precisavam de atenção.

JAC Hunter [Auto+ / João Brigato]

No final das contas, o problema maior da Hunter é ser um carro da JAC. A marca tem poucas revendas no Brasil e a presença foi expressamente diminuída desde que BYD e GWM chegaram e a marca de Sergio Habib não reagiu rápido. Nesse segmento, a fama conta muito. Basta ver que, mesmo com a força da BYD, a Shark vende pouquíssimo.

Você teria uma JAC Hunter? Conte nos comentários.