Quem ama o feio, bonito lhe parece. Beleza não se põe à mesa. Beleza sem virtude é rosa sem cheiro. Existem diversos provérbios e ditados populares sobre visual. E desde que o Hyundai Creta de segunda geração foi lançado, é tudo o que se fala sobre ele. Mas ele é realmente mais do que só um rostinho complicado de descrever? E o Creta turbo: é o que faltava?
Para responder a essas e mais perguntas, além de prolongar e validar as primeiras impressões que na pista com o SUV compacto da Hyundai, convoquei a versão que aposto ser a mais vendida: a Platinum 1.0 turbo. Por que? Pois custa R$ 138.690, tem o melhor motor da família, ainda que o 2.0 tenha os equipamentos mais legais – mas o motor maior não vale à pena.
Coração de HB20
A antiga geração do Hyundai Creta era servida pelo motor 1.6 quatro cilindros aspirado de 130 cv e 16,5 kgfm de torque. Apesar dos números saudáveis, ele andava menos e consumia mais que um Jeep Renegade 1.8. E o probrezinho do SUV da Stellantis é o que toma fama de ser gastão e manco (ainda que de fato ele seja).
Por isso, a troca do motor aspirado pelo novo 1.0 TGD-i três cilindros turbo fez tão bem ao Creta. Com 120 cv e 17,5 kgfm de torque ele tem uma entrega completamente diferente. O torque chega mais cedo: 1.500 rpm contra 4.500 rpm. Por conta disso, a sensação é outra ao volante. Viu como nem tudo na vida é apenas ditado pelos números?
O Creta turbo se arrasta nos primeiros segundos para sair, mas rapidamente ganha vivacidade e força. Fazer ele andar rápido não é mais uma dificuldade e nem um sacrifício para o motor, que é ávido a acelerações mais fortes. Respostas ágeis do motor fazem ultrapassagens serem fáceis para o novo Creta, algo que o antigo sofria.
Durante nossos testes com etanol, o SUV coreano marcou média de 8,2 km/l em circuitos mistos de cidade e estrada. Não é um consumo muito animador, mas suficiente para bater a geração anterior. Nas rodovias, uma sexta marcha mais longa poderia fazer o motor trabalhar mais redondo e gastando menos, visto que ele fica bem acima dos 2 mil giros a 100 km/h.
Queria ser um CVT
Por falar na transmissão, ela talvez seja o ponto mais baixo da dinâmica do Hyundai Creta. A calibragem é pensada para o conforto e economia de combustível. Por isso, ele desesperadamente troca de marcha. Bastou tirar o pé do acelerador ou aliviar um pouco que o SUV sobe uma ou duas marchas na hora.
Mas basta pisar mais forte para que rapidamente o giro suba com a redução instantânea. Esse comportamento faz muito lembrar as transmissões CVT, ainda que o Creta use uma caixa tradicional de seis marchas. Como resultado, ele perde um pouco de fôlego e parece letárgico em momentos em que não deveria.
Os modos de condução Eco, Normal e Sport não mudam muito essa situação. No Eco ele segura mais marcha ainda e dificilmente reduz com o pé a meio pedal, já em normal e Sport ele fica mais espertinho. Contudo, mesmo em Sport, ele segue desesperado para subir de marcha o mais rápido possível.
Conforto é uma ordem
Como é típico do Creta desde seu nascimento, o conforto segue como palavra de ordem da nova geração. O modelo é pensado para ser o mais tranquilo possível para a condução diária e faz jus a isso. A suspensão é macia e confortável, as vezes até demais, o que faz com que a carroceria faça curvas um tanto quanto desengonçada.
Além disso, há bastante barulho vindo da parte traseira. Ainda assim, o Creta filtra bem as imperfeições do asfalto e pouco transmite irregularidades para a cabine. A direção tem acerto preciso, com peso exato para ser fácil nas manobras e firmeza necessária para trafegar em altas velocidades na estrada. Além disso, o volante tem excelente empunhadura e formato.
Uma das novidades dessa geração é a presença de freio de estacionamento eletrônico. Contudo, ele está restrito somente às versões Platinum 1.0 turbo e Ultimate 2.0. Além disso, é preciso apertar ou segurar a tecla para que o funcionamento seja contemplado – algo que me fez tomar sustos algumas vezes, admito.
Recheio tecnológico
Se antes o único item tecnológico diferente do Hyundai Creta na categoria era a presença de bancos ventilados, a nova geração trouxe muitos mimos a mais que antes. O Turbo Platinum testado traz de série teto solar, luz diurna de LED, chave presencial, bancos revestidos em couro marrom, ar-condicionado digital de uma zona e carregador de celular por indução.
A versão ainda é equipada com painel de instrumentos parcialmente digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay com fio – ambos com tela de ótima definição e fáceis de serem personalizados e usados. Além disso, ele conta com sistema de câmeras 360° com diversos modos diferentes.
Mas o mais interessante é que, ao dar seta, a câmera do lado respectivo a ser virado revela imagens do ponto cego. É o mesmo sistema da Honda com o HR-V e Civic nas versões Touring. Contudo, funciona dos dois lados, tem melhor definição e a imagem aparece no painel de instrumentos, não na central multimídia. Uma função bem mais intuitiva.
Melhora factual
Se por fora o Hyundai Creta passa longe de ser unanimidade quanto ao seu visual, por dentro a história é outra. Cabine verdadeiramente bonita e bem acabada revela que não é preciso apelar para um monte de superfícies emborrachadas para transmitir qualidade e refinamento. Sim, ele só tem plástico duro, mas o material é de qualidade.
O visual em Y criando duas áreas separadas para motorista e passageiro, além da presença de um console central alto, deixaram o Creta Platinum mais elegante que antes. A central multimídia grande é vistosa, fazendo par com o volante emprestado do Tucson, que conta com ajuste de altura e profundidade.
Ainda que seja mais alta do que eu gostaria, a posição de dirigir do SUV combina com a aura aventureira. Contudo, o painel segue próximo demais do para-brisa, como em carros mais antigos. Somado à linha de cintura alta e área envidraçada generosa, o Creta passa aquela sensação de aquário que as minivans antes tinham.
Espaço interno é bom para a categoria, sendo um dos melhores. A nova geração ganhou bancos mais confortáveis e com boa inclinação na traseira para permitir viagens longas sem problemas. E que se senta atrás ainda pode desfrutar de toda visão provida pelo enorme teto solar – item de série que aparece no Creta pela primeira vez.
Veredicto
A nova geração do Hyundai Creta sofre do mesmo mal do HB20: é bom, competente, gostoso de dirigir, mas é feio. Como visual é algo bastante pessoal, e muitas pessoas gostam do estilo do Creta, essa questão pode ser totalmente deixada de lado. Ao menos é inegável que ele tem muita personalidade para não ser confundido com outro SUV genérico, como acontecia antes.
Preço adequado para a categoria, boa lista de itens de série, interior espaçoso e finalmente um motor a altura do conjunto fazem com que a versão Platinum seja a mais indicada. Mas bem que a Hyundai poderia criar um Ultimate 1.0, para aí ser o Creta definitivo.
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