Há milhões de anos, quando os dinossauros dominavam a Terra, dois carnívoros do período Cretáceo Superior eram máquinas de moer ossos. De um lado, o T-Rex; do outro, o Velociraptor – símbolos da franquia Jurassic Park. Dois bípedes fossilizados, mas que ressurgíram no nome de duas caminhonetes que beiram a insanidade.
A Ford Ranger Raptor estreou no Brasil em dezembro de 2023, incorporando toda a voracidade iniciada pela F-150 Raptor, sendo uma humilhação até para a própria Ranger, enquanto a Ram 1500 TRX deu adeus e foi substituída pela 1500 RHO.
A quinta geração da Ford Ranger elevou a régua do segmento de caminhonetes médias, principalmente pela engenharia e pela condução acima das rivais. Agora, pegue isso, adicione um motor V6 3.0 biturbo mais uma suspensão projetada para arrepiar no fora de estrada, incluindo realizar até saltos, um ronco ardido e voilà: temos a Ranger Raptor.
Uma fera sobre quatro rodas à venda por iniciais R$ 490.000 transmite uma experiência tão ou mais radical que estar ao volante do Mustang GT Perfomance. São propostas completamente distintas, mas a vida encontra um meio, como já diria o Dr. Ian Malcolm no primeiro Jurassic Park.
Ranger Raptor: o doce veneno da brutalidade
Larga e com um caráter perveso, a Ranger Raptor impõem limites pelo perfil abaulado, com extensores de para-lamas e 2,02 m de largura (1,91 m na Ranger Limited). Segue à risca o lema “não mexa com quem está quieto”, da mesma forma que exibe o nome do fabricante escrito por extenso na grade frontal, junto dos grafismos espalhados pela carroceria de 5,36 m de comprimento.
Lado a lado com a Ranger Limited é minimamente maior, com 1,92 m de altura contra 1,88 m da irmã, para comparar. De igual entre elas apenas o entre-eixos de 3,27 m. E só, afinal, foi concebida pela divisão Ford Performance com absolutamente tudo direcionado ao desempenho.
É viciante tanto ao andar forte no asfalto ou na terra quanto para curtir um passeio de final de semana. O ronco ardido que ecoa pelas duas saídas de escape é música, bem como as reações do V6 3.0 biturbo, da família EcoBoost, fazem o corpo ser pressionado com força contra o encosto do banco.
Os 397 cv e os 59,4 kgfm, entregues em uma mesa de torque, não tomam conhecimento dos 2.400 kg, fazendo de 0 a 100 km/h em pífios 5,8 segundos, com velocidade máxima de 180 km/h. Embora a Ram 1500 TRX seja mais colossal (712 cv e 89,8 kgfm), na Ranger Raptor você se diverte mais e acelera tal e qual um Honda Civic Type R.
É semelhante ao conduzir um 911 Turbo S e um 911 Carrera GTS. Às vezes, ser bestial não é o melhor dos mundos. Mesmo com uma artilharia menor do que a Ram 1500 TRX, a Ranger Raptor entrega uma tocada mais dinâmica, afinal, é mais equilibrada.
Ou seja, pode ser utilizada no dia a dia, além de oferecer médias urbanas de até 6 km/l (gasolina). Algo quase impossível na Ram 1500 TRX, com um V8 6.2 Supercharger, que revelou um consumo de 1,8 km/l nos congestionamentos.
Muitas caminhonetes em uma!
A Ford Ranger Raptor é uma multicaminhonete, pois é possivel ser configurada da maneira que o condutor quiser. Além dos modos de condução disponíveis (Normal, Sport, Ecorregadio, Lama/Terra, Areia, Baja e Rock Crawl) também estão presentes ajustes individuais para a direção, o escape e das suspensões equipadas com amortecedores da Fox capazes de fazer 500 leituras por segundo.
Se o câmbio PDK da Porsche é uma obra-prima da engenharia moderna, as suspensões da Ranger Raptor são um Michelangelo, seja pela forma que absorve as irregularidades quanto cuida da dinâmica dessa caminhonete. Já as rodas de 17 polegadas calçam pneus de medidas 285/70 em ambos os eixos, incluindo o estepe.
A danteira aponta com extrema facilidade e não é preciso brigar com o volante para fazer eventuais correções. Pregada no chão mostra os amortecedores traseiros montados do lado de fora das longarinas e isso coopera na tarefa de realizar ágeis mudanças de trajetórias mantendo a traseira comportada, mesmo descarregada.
Quem optar pelo ajuste Sport das supensões não sofrerá em vias esburacadas ou mal pavimentadas, sem solavancos, batidas secas ou pula-pula. Assim como as suspensões, a direção também pode ser ajustada ao gosto do freguês nos níveis Comfort, Sport e Normal.
Do Comfort para o Normal, há pouca mudança, enquanto no Sport a direção fica mais firme, porém, não ao ponto de incomodar. Outro ajuste é o da sonoridade do escape. Estão presentes o Silencioso, Normal, Sport e Baja. Este último, obviamente, acionado constantemente.
Saindo da imobilidade é possível escutar o característico espirro dos modelos sobrealimentados. Nas médias e altas rotações o ronco afina deixando tudo melhor. E esse poderio é cooperado pelo trabalho do câmbio automático de dez marchas, o mesmo das demais versões da Ranger, porém, com calibração específica para a Ranger Raptor.
Minha sugestão é configurar a caminhonete com tudo no Sport para aproveitar cada pedaço da engenharia aplicada à Ranger Raptor. Outra possibilidade é deixar a direção e as suspensões no Comfort com o modo de escape Baja acionado. E boa diversão!
No fora de estrada, conta com piloto automático off-road, diferencial blocante na dianteira e na traseira, navegador off-road e capacidade de imersão de 850 mm. Sem contar, claro, o modo Baja, exclusivo da Raptor, que otimiza os parâmetros para uma condução fora de estrada em alta velocidade.
E se a caçamba é um item importante para você a da Ranger Raptor possui uma capacidade volumétrica de 1.250 litros e de carga de 736 kg, além dos ângulos de entrada de 32º, de saída (27º) e uma altura mínima do solo de 27,2 cm.
Interior
A Ranger Raptor também cuida muito bem dos ocupantes oferecendo bons materiais e arremates ao acabamento, além dos detalhes pintados de laranja nas saídas de ar e nos bancos ajustáveis eletricamente, com um desenho que evita que o corpo fica sambando nas curvas contornadas mais velozmente.
Há ainda a coluna de direção ajustável em altura e profundidade, seis botões extras para ligar equipamentos e acessórios instalados posteriormente, carregador de smartphone por indução, entradas USB-C, multimídia vertical de 12,3 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
O quadro de instrumentos é totalmente digital, além de exibir uma fácil leitura, enquanto quem viaja na segunda fileira de bancos encontra um bom espaço para as pernas e os joelhos de quem viaja atrás devido aos 3,27 m de entre-eixos.
Também são encontrados ar-condicionado digital de duas zonas, controlador de velocidade adaptativo, sistema de manutenção em faixa, controle de largada, bancos dianteiros com aquecimento e retrovisor elétrico com rebatimento, para complementar o pacote de conforto e de conveniência.
Veredicto
É memorável que a Ford tenha trazido a Ranger Raptor, afinal, é mais uma opção aos consumidores que procuram algo a mais em diversão ao volante. Monstruosa na capacidade de caminhar à frente quanto no contorno de curvas fica uma dúvida no ar: ela ou o Mustang?
Depende do uso e da preferência. A Ranger Raptor não tem o ronco borbulhante do V8 5.0 Coyote naturalmente aspirado do Mustang, com 488 cv e 57,5 kgfm, mas essa caminhonete te leva a lugares que o pony car não chega, bem como promove diversão no fora de estrada. Sem puxar o saco, é a melhor caminhonete atualmente à venda no Brasil.
Entre a Ranger Raptor e o Mustang qual deles você compraria? Escreva a sua opinião nos comentários!
