
Como qualquer pessoa apaixonada por carros, eu amo um bom esportivo. Só que eles são carros para serem usados no final de semana, em uma viagem ou na pista. Conviver no dia-a-dia é um martírio na maioria das vezes. Mas não é o caso do Ford Mustang, esse clássico e último muscle-car americano.
Nós, como jornalistas, testamos todos os carros ao longo de uma semana. É raríssimo que eu teste dois carros ao mesmo tempo. Por isso, quando pego um esportivo, por mais insano que seja, ele vai ser o carro que vou usar para ir ao supermercado, academia, eventos de trabalho, enfim, toda a minha rotina. E esse tipo de carro cansa muito.
Afinal, por mais divertidos que sejam, 90% do tempo que passamos dirigindo é no trânsito, em ruas esburacadas e em vias que não foram feitas para eles. Vai raspar a frente na garagem, eventualmente cair em um buraco que vai fazer uma de suas vértebras sair do lugar, enfim, inconveniências que não são parte da realidade do Ford Mustang.

Uiva ai, Coyote
Não há nada que possa igualar o som e a experiência de um motor V8 – ouviu, Mercedes-Benz C63 AMG? Debaixo do capô, reside o mesmo 5.0 V8 Coyote da Ford F-150. Contudo, o muscle-car conta com corpo de borboleta duplo, sistema de admissão diferenciado e alguns cavalos a mais: 488 cv e 57,5 kgfm de torque.
E como ronca bonito. Ele tem modos de escape diferentes, mas recomendo sempre deixar no pista para apreciar o uivo do Coyote. É um barulho encorpado, levemente rouco, mas estridente. É um ronco com a força de um soco de Muhammad Ali, condizente com a performance do V8.

O Mustang não nega fogo e o câmbio automático de dez marchas sabe como controlá-lo perfeitamente. Precisa acelerar forte? As reduções vem com tudo e o Ford acelera forte te grudando no banco quanto berra. Vai andar tranquilo? As dez marchas são engolidas rapidamente para privilegiar consumo e o V8 apenas ronrona debaixo do capô.
Na ficha técnica, ele marca 5,9 km/l na cidade e 8,9 km/l na estrada, mas os números reais são melhores. Na prática, fizemos 6,5 km/l na cidade com o Ford Mustang e 9,7 km/l na estrada. Mas é difícil não se empolgar com o ronco do V8 e ficar acelerando constantemente, o que derruba o consumo.

Performance e vivência
Um dos pontos mais interessantes é que a Ford conseguiu fazer um bom equilíbrio entre boa performance e usabilidade no Mustang. A suspensão é claramente firme, assim como a direção é pesada, mas não muito rápida (especialmente porque ele é um carro enorme). Só que, é possível deixar a direção mais leve no modo Comfort ou mais rápida no Sport.
O que vale é que o esportivo consegue ser um carro passível de uma convivência agradável na rotina diária. Ele não raspa tão fácil a frente em valetas ou buracos, assim como em entradas de garagem. Ao mesmo tempo, não arrebenta com a sua coluna em superfícies ruins. Claro, os pneus finos sofrem com buracos, isso não dá para negar.

Contudo, temos um conforto de rodagem andando tranquilamente, enquanto na pegada mais apimentada, o Ford Mustang se tornou um esportivo de elite. O que sempre faltou aos muscle-cars é a habilidade de conseguir fazer uma curva sem a traseira girar de um lado para o outro. A geração anterior do Mustang e do Camaro já haviam melhorado isso.
Só que a perfeição veio no novo modelo. Ele tem uma pegada levemente mais européia, apresentando muito mais estabilidade na traseira e te encorajando a levar o V8 ao limite mesmo nas curvas. Mesmo sendo um carro grande, ele se tornou bem ágil nas curvas e estradas sinuosas, sendo rápido não somente em reta.

Mas, se você quiser fritar pneus como um maluco, basta usar o modo drift do freio de estacionamento eletrônico. A manopla funciona como um freio tradicional, permitindo modular a atuação do sistema para destracionar propositalmente as rodas traseiras. E em modo Line Lock, você trava as rodas dianteiras enquanto frita as traseiras.
Premium até a página dois
Se na dinâmica, o Ford Mustang progrediu muito na nova geração, o mesmo não pode ser dito quanto o interior. O muscle-car melhorou nas telas presentes, mas regrediu em acabamento. Há mais plástico duro e as sessões macias não tem mais o couro que era presente antes.

A nova geração não deixa mais o cardã esquentar demais o interior, o que já é um alívio gigantesco. Contudo, os plásticos que tentam imitar fibra de carbono são muito ásperos e tem aparência de algo que seria usado em uma versão pseudo-esportiva do Ka. Além disso, há mais peças compartilhadas com outros Ford, o que diminui o valor agregado dele.
Em compensação, a Ford usou couro de primeira linha no volante e nos bancos. Adicione a isso a presença de duas telas enormes integradas à frente do motorista. O painel de instrumentos digital é incrível, trazendo personalização com diversos layouts de instrumentos, inclusive três que homenageiam diferentes gerações do Mustang.


É possível também trocar as cores do sistema para combinar com as luzes internas. A mesma personalização é permitida na central multimídia, que conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Pena que os comandos do ar-condicionado ficaram conjugados com a central, que é fácil de mexer, vale destacar.
Se você pensa em levar alguém no banco traseiro, esqueça. O espaço é muito apertado. Além disso, o banco não tem sistema que facilita a entrada e saída. O encosto dobra por uma alavanca, enquanto o assento se move eletricamente. O porta-malas de 382 litros é bom, mas a abertura é bem estreita.




Tem o que pede
Por R$ 549.000, é claro que o Ford Mustang GT vem bem completo. De série, o modelo conta com bancos dianteiros com aquecimento e resfriamento, chave presencial com partida remota, faróis full-LED, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, alerta de tráfego cruzado, frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo.
Há ainda sete airbags, farol alto automático, monitoramento de ponto cego, ar-condicionado digital de duas zonas, câmera e sensor de ré, faróis com acendimento automático, freio de estacionamento eletrônico, retrovisor eletrocrômico e conectividade com aplicativo. A Ford só esqueceu do sensor de estacionamento dianteiro – essencial para esse capô gigante.

Veredicto
Se você tem meio milhão para gastar em um carro e quer algo que seja verdadeiramente esportivo, mas também usável no dia-a-dia, o Ford Mustang GT é a fórmula perfeita para isso. É um carro verdadeiramente divertido de dirigir, mas não punitivo. É possível tê-lo como carro de uso diário sem a menor dificuldade.
E isso explica seu sucesso global há tantos anos. Afinal, Porsche 911 e Ford Mustang tem um legado gigantesco e são tão amados justamente por isso: serem esportivos na hora que precisam, mas também carros normais e perfeitamente usáveis.

Você teria um Ford Mustang? Conte nos comentários.