Nada como conviver verdadeiramente com um carro para ter conclusões verdadeiras sobre ele. É por isso que aqui no Auto+ separamos as avaliações dos textos de impressões. Porque quando andei no Ford Mustang Mach-E pela primeira vez, fiquei impressionado com o quão próximo do Mustang ele é. Agora, convivendo uma semana, vi o quão longe ele fica.
Explico. Durante o evento de lançamento, pudemos dirigir o modelo no limite, acelerando fortemente na pista e sem limites. Ali ele se mostrou um Mustang de verdade. Durante a semana de testes com ele, também levei o SUV elétrico para andar forte. Mas ele também serviu para ir de Campinas a São Paulo e caminhos do dia-a-dia. E aí que a coisa mudou.
Onde ele é um Mustang
Acelerar forte com o Ford Mustang Mach-E é uma alegria. São 487 cv despejados diretamente nas quatro rodas, com 87,7 kgfm de torque total. Ele tem tração nas quatro rodas, mas a marca americana o temperou para se comportar como seu irmão V8. Ou seja, ser mais traseiro.
Quando você entra na curva com tudo, a traseira dá uma leve dançada para instigar o motorista. Mas, basta pisar no acelerador, que tudo volta a ficar reto. O interessante é que as saídas são controladas e feitas na medida para ficar a beira de acontecer algo errado, mas ainda no limite de segurança.
Ao todo, são 379 km de autonomia. Mas, como o INMETRO é sempre muito pessimista, você conseguirá passar de 400 km com facilidade com o Mach-E. Além disso, ele é compatível com carregadores de 150 KW, o que tornará a tarefa de recarregá-lo algo bem fácil. Assim como é rápido para acelerar, afinal são 3,7 segundos para chegar aos 100 km/h.
Por ser elétrico, qualquer aceleração com o Mach-E é bruta. Você cola no banco e não desgruda. Independentemente se for em uma retomada ou uma aceleração do zero, esse efeito acontece. Na hora de frear, como ele conta com sistema Brembo, a violência é a mesma.
Vale destacar ainda o fato de que ele tem direção elétrica bem rápida. São precisas poucas voltas de batente a batente para fazer manobras. Dinamicamente, nem parece um SUV, dada a agilidade para manobrar e fazer curvas rápidas. Trunfo da suspensão firminha como um esportivo…
Onde ele não é um Mustang
…não tão bem calibrado. A grande questão é que a suspensão do Ford Mustang Mach-E parece que deveria ter mais curso, mas algo a para em algum momento. Com isso, ao passar em buracos, a carroceria se movimenta mais do que deveria para absorver o impacto, resultando em uma batida forte e desconfortável.
Em uso urbano e rodoviário, ele tenta se comportar como um carro firme e duro, ao mesmo tempo que balança como se tivesse suspensão molenga estilo carro chinês. É uma dicotomia de comportamento bastante estranha, algo que o Ford Mustang V8 não faz. O muscle-car é ótimo para conviver no dia-a-dia, o Mach-E não.
Adicione isso ao fato de que há muito barulho de acabamento vindo da traseira, em especial vindo do porta-malas. Passou por um pequeno solavanco na rua, ele vai fazer barulho, assim como em ruas de asfalto ruim ou superfícies mal tratadas. Isso porque o modelo testado tinha menos de 9 mil km rodados, mas fazia tanto barulho na traseira quanto um EcoSport.
Além disso, o freio do Ford Mustang Mach-E necessita de muita adaptação. Ele é do tipo on/off. Ou freia com tudo, ou não freia. Isso te leva a desperdiçar energia de regeneração da bateria – algo que felizmente, ele conta com um medidor no painel que te ajuda a observar melhor seus hábitos.
Tudo diferente
Se por fora, cada linha do Ford Mustang Mach-E foi desenhada propositalmente para evocar a alma do Mustang, por dentro é outra história. A cabine não tem nenhuma coincidência com a geração atual, muito menos com a antiga do modelo V8. A ideia da Ford aqui foi oferecer um estilo moderno, mas um acabamento inferior ao irmão.
Não que o Mach-E tenha acabamento ruim, muito longe disso, mas o muscle-car é melhor. Há mais plásticos no SUV, superfícies não tão macias assim e materiais de qualidade inferior. No Mustang, você se sente em um carro de luxo, no Mach-E você está em um Ford bem acabado. E isso faz muita diferença.
À frente do motorista, há um pequeno painel de instrumentos totalmente digital, mas de tela de ótima definição. Além disso, uma faixa de tecido esconde a sound-bar do sistema B&O de alta fidelidade. O volante não tem base reta e o aro é fino para um modelo de pegada esportiva.
Já a central multimídia é um tablet gigante de 15,5 polegadas posicionado de maneira vertical como no Volvo EX30. Contudo, ele conta com um rotor físico na parte inferior que controla prioritariamente o volume, mas também pode ser usado para ajuste do ar-condicionado. Há uma parte toda dedicada ao ar-condicionado na central.
Ela é fácil de mexer, bem intuitiva e traz Android Auto e Apple CarPlay sem fio. No console central, rotor para controlar o câmbio e dois andares de porta-objetos. Há ainda um console enorme abaixo do descanso de braço. Bolsões das portas e porta-luvas também são grandes.
Espaço que o Mustang nunca teve
Sentar no banco traseiro de um Mustang é algo bem humilhante, visto a falta de espaço. Isso não ocorre no Mach-E, que tem como vantagem o fato de ser um SUV. Os bancos são confortáveis e macios, tendo na traseira bastante espaço para pernas e cabeça. Além disso, todos são contemplados por um gigantesco teto solar panorâmico.
O vidro superior não fecha, mas traz tratamento anti raios UV e impete totalmente a passagem de calor. Um ótimo sinal de modernidade, ao contrário das maçanetas. A Ford colocou botões para abrir o Mach-E do lado de fora e não colocou puxador na porta traseira. Por dentro, as alavancas para soltar a porta ficam nos puxadores. É bem ruim de usar.
No porta-malas, o Mach-E carrega 402 litros e pode contar com dois andares para dividir carga. A tampa tem abertura elétrica. Já a dianteira traz 136 litros de capacidade extra, que pode ser usado para colocar gelo, já que é vedado e conta com dreno. Tem até abertura interna, caso alguém fique preso ali dentro…se couber.
Equipamentos de série
A Ford tem como costume só trazer as versões topo de linha ou extremamente equipadas de modelos que não são produzidos na América do Sul. Com o Mach-E isso não é diferente. O SUV elétrico vem somente na versão topo de linha GT equipada com chave presencial, seis airbags, câmera 360°, piloto automático adaptativo e frenagem autônoma de emergência.
Há ainda monitoramento de pressão dos pneus, sistema de manutenção em faixa, faróis com acendimento automático e assistente de luz alta, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, ar-condicionado digital de duas zonas, bancos dianteiros com aquecimento e ajuste elétrico, retrovisor fotocrômico e controle de largada.
Veredicto
Se você está buscando um Mustang em forma de SUV, o Mach-E é o carro que cumpre essa função quando está acelerando forte. É divertido e forte igual ao modelo V8, além de ter dinâmica apurada e dócil na medida certa. Mas não é tão fácil de conviver com ele na cidade como é com o muscle-car.
Pensando em um SUV elétrico, o Volvo C40 P8 é igualmente bruto e mais refinado em diversos sentidos. Ou o BYD Tan custa a mesma coisa e entrega performance tão boa quanto e espaço para sete pessoas. No final das contas, ele será um produto de nicho igual seu irmão V8, mas não pelas mesmas razões.
Você teria um Ford Mustang Mach-E? Conte nos comentários.