O comportamento do consumo de luxo é muito diferente em cada país. Enquanto o mundo inteiro compra os SUVs e sedans de Mercedes-Benz, Audi e BMW, existem peculiaridades quando o dinheiro fala mais alto. A China ama minivans de luxo. Já o Brasil, se tornou o celeiro das caminhonetes grandes luxuosas, como a Ford F-150.
Custando R$ 519.990, a Ford F-150 Lariat briga pelo mesmo comprador que olha um SUV da Audi ou um sedan da Mercedes-Benz, além dos esportivos da BMW. Mas pode um automóvel com a mesma metragem de um apartamento duplex conseguir ser tudo isso ao mesmo tempo?
Ford F-150 2024 piorou em relação à anterior?
Antes de qualquer coisa, é preciso pontuar a nítida piora da Ford F-150 brasileira atual em relação à anterior. Isso porque a marca tirou a versão topo de linha Platinum de linha porque, lá fora, ela não é mais compatível com motor V8. Isso fez com que ficássemos somente com a Lariat, que é luxuosa, mas nem tanto.
A riqueza que ela tinha estava nos detalhes, em que o painel era revestido em couro, enquanto o material usado no volante e nos bancos tinha qualidade superior. Isso significa que ela tenha um acabamento ruim? De jeito nenhum. Mas já foi melhor. Ainda que a atual escolha de acabamento seja muito boa.
A Ford usa o mesmo couro do volante que está em Bronco Sport, Maverick e Ranger: tem qualidade, mas é nitidamente artificial. Já o couro dos bancos é um pouco mais duro, mas ainda assim refinado. O mesmo vale para o revestimento do painel que é todo macio, mas feito em um material mais áspero.
Encaixes internos são perfeitos e a escolha de cores faz com que a cabine pareça mais refinada do que antes (quando ela tinha couro bordô em alguns detalhes). Mesmo gigantesca, ela tem ergonomia perfeita. Todos os comandos são fáceis de serem acessados pelo motorista.
Espaço gigantesco
Proporcional ao seu tamanho colossalmente grande, é o espaço da F-150. A Ford colocou um console central que provavelmente cabe um Fiat Mobi dentro. O descanso de braço pode ser dobrado para formar uma mesa de trabalho quando o câmbio é recolhido, algo genial. Além disso, ela tem dois porta-luvas e porta-objetos na cabine toda.
Quem senta atrás, tem plenitude de espaço, mesmo que tenha pernas longas. É impressionante o tanto de área para pernas e cabeça que ela tem. Eu, com 1,87 m, consigo dobrar uma das pernas como se estivesse em uma sala de estar. Debaixo do assento traseiro, ela ainda conta com um compartimento secreto bem grande.
Destaque ainda para o teto solar panorâmico que ilumina o interior e mimos como aquecimento para todos os bancos, enquanto os dianteiros têm resfriamento que pode ser acionado através da partida remota – algo que salva muito no calor. Além disso, é preciso falar das telas. O painel de instrumentos é excelente e lotado de recursos.
O mesmo vale para a central multimídia, que traz Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Mas, irritantemente a Ford tem como opção colocar português na central e no painel, mas, quando o idioma é selecionado, diz que é incompatível com uma das telas. Ou seja, fizeram a tradução à toa.
Caçamba fantástica
Boa parte do requinte da Ford F-150 também vem da tecnologia. A caminhonete grande conta com alguns truques na caçamba, especialmente na tampa. Ela pode ser aberta ou fechada eletricamente através da chave, botão no puxador ou até com o movimento de empurrar ela para cima, quando aberta.
Além, disso, a tampa tem abertura lateral por um recorte central, algo extremamente útil em locais apertados. A tampa ainda traz régua e apoios para fixadores. Há luzes na parte interna com acionamento por botão, um compartimento secreto na lateral e tomadas do tipo residencial.
A capota marítima não é item de série, infelizmente. Mas a Ford a oferece como opcional, assim como uma versão elétrica, que estava equipando a caminhonete testada. É bem útil por impedir a entrada de água por ali. Além disso, a capacidade de carga é de 728 kg.
Mustang de caçamba
Um dos grandes atrativos das caminhonetes grandes, exceto agora a Ram 1500, é a presença de motor V8 a gasolina. De todas, somente a Ford F-150 compartilha o coração com um muscle-car oferecido no Brasil. Até porque o motor V8 da Silverado, infelizmente, não veio igual ao do Camaro.
Pulsa debaixo de um capô de 90m³ um motor 5.0 V8 Coyote de 405 cv e 56,7 kgfm de torque. E que ronco sinfônico. Basta acelerar um pouco mais que o borbulhar norte-americano invade a cabine fazendo parecer que você está pisando fundo, mas é apenas um ronronar do V8. Com pé em baixo, a sinfonia é grossa, alta e presente.
Só que, por mais que seja divertido dirigir um monstro V8 de 2.470 kg, o consumo cobra seu preço. Oficialmente, a Ford F-150 roda 6,3 km/l na cidade e 8,6 km/l na estrada. Na vida real? Se passar de 6 km/l, mesmo na estrada, você já estará no lucro. E se prepare para ficar endividado no posto de gasolina, pois o tanque aguenta 137 litros.
Para gerenciar esse motor de Mustang, a Ford conta com o mesmo câmbio automático de dez marchas que está no muscle-car e também na sua concorrente Chevrolet Silverado, além da irmã menor Ford Ranger com motor V6 ou a Raptor. Na F-150, o comportamento é bem diferente.
A troca de marcha é extremamente sutil e, como as relações são curtas, a rotação do motor se mantém quase que constante. O resultado é um comportamento parecido com um CVT em algumas situações. Ela engole marcha rápido e até pula algumas. As reduções têm um levíssimo delay, mas, quando acontecem, fazem o V8 respirar forte.
Tempero europeu
Por mais que a Ford F-150 seja a pura essência norte-americana, é interessante notar que o comportamento dela tem um certo toque europeu. Os carros da marca do oval azul sempre foram assim: mais firminhos para dirigir, com direção mais rápida e direta, além de suspensão dinâmica em curvas.
Claro que uma jamanta deste tamanho não vai ser uma engolidora de curvas, mas ela é claramente mais afiada que as rivais. A direção, que é igualmente grande, tem assistência elétrica e é leve e macia, mas ganha peso nítido em velocidades mais altas. Só exige muitas voltas de batente a batente.
Vale ressaltar que a F-150 é lotada de itens de tecnologia e auxílio à condução, como frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, sistema de manutenção em faixa e alerta de tráfego cruzado, todos muito bem calibrados. E necessários, afinal, o retrovisor do lado do motorista tem zoom e cria um ponto cego tenebroso (quase bati em dois Honda Fit por conta dele).
Tem de tudo
Tratando-se de uma caminhonete que flerta com o segmento de luxo, a Ford F-150 Lariat é equipada com vidros elétricos nas quatro portas, sistema de som premium, teto solar panorâmico, chave presencial com partida remota, bancos revestidos em couro com ajuste elétrico, aquecimento e resfriamento (somente dianteiros).
Há ainda central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, faróis full-LED com acendimento automático, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema de câmeras 360°, entre outros itens.
Veredicto
Quem busca um carro de luxo quer boa performance, acabamento refinado e regalias tecnológicas que não estão presentes em modelos comuns. E isso tudo a Ford F-150 entrega. Tudo bem que ela já foi mais luxuosa, mas tenta compensar com mais tecnologia. Manter o motor V8 fez bem a ela, pois entrega um caráter que outro tipo de carro de luxo não tem.
Americana até dizer chega, inconvenientemente gigantesca, mas deliciosa para dirigir, ela é um tipo de luxo diferente e que vem agradando muito ao brasileiro. Afinal, para as ruas estragadas do nosso país, ter um carro que engole buracos e impõe respeito no trânsito, pode ser mais conveniente do que um sedan importado baixo.
Você teria uma Ford F-150? Conte nos comentários.
