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Fiat Argo 1.0, mesmo basicão, deixaria o Palio orgulhoso – Avaliação

Versão mais básica do Fiat Argo nem nome tem, mas honra todo legado deixado pelo Palio e o supera em muitos sentidos

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]

Desde que o Fiat Palio nos deixou aqui no Brasil junto ao Punto e Bravo, o Argo assumiu o papel do trio em uma tacada só. Sozinho, tem de enfrentar o mercado de populares, compactos premium e o topo da categoria que já invadiu o público que antes comprava hatches médios.

Mas se antes a Fiat era conhecida por ser uma marca boa de fazer carros baratos, como era o caso do Palio, o Argo honra seu legado? Para saber até onde isso é verdade ou não, testamos a versão de entrada sem nome com motor 1.0 de R$ 56.590 (R$ 57.539 no estado de São Paulo) para comprovar.

Voto franciscano

Foi-se o tempo em que os carros de entrada não possuíam ao menos o kit dignidade (ar-condicionado, direção assistida e vidros elétricos). O Argo 1.0 sem nome já traz esse pacote na lista de item de série e agrega ainda alarme, travas elétricas, chave canivete e volante com ajuste de altura.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
O pecado da versão de entrada do Argo é não oferecer sequer um rádio simples. Para ter algum tipo de comodidade auditiva nele é preciso comprar o Kit Plus de R$ 1.070 que adiciona limpar e desembaçador traseiro além de preparação para som.

Com isso, o Argo testado não saia por menos de R$ 57.660 (R$ 58.627 no estado de São Paulo), já que a pintura preta não é cobrada. Vale ressaltar que essa versão tem menos opções de cores que as demais, sendo restrita a preto, vermelho, branco, prata e cinza.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Só o kit necessário para instalação de um rádio, não o aparelho em si, infelizmente. Na semana que passei com esse Argo tive de apelar para um método nada convencional de usar o celular no console central como um rádio – fica a curiosidade dos bastidores.

A lista de equipamentos é bem parecida com a do Hyundai HB20 Sense recentemente avaliado pelo Auto+. Ainda que o Argo fique devendo itens que o HB20 com pacote tem, além de ser mais caro.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]

Impressão acima

Uma das vantagens que o Argo sem nome tem em relação aos rivais é que como ele foi pensado para suprir até o público do Bravo, a Fiat caprichou no interior. Ainda que a ausência de rádio seja o ponto mais notável, ele não parece um carro básico demais. O painel é dominado pela cor preta, mas existem diversas texturas criando contrastes interessantes.

O volante tem ótima empunhadura, é mais grosso que a média e tem material agradável ao toque, mesmo não tendo couro. Destaque para os comandos do lado esquerdo, que estão ali para comandar o ótimo computador de bordo do Argo.

Emborrachados, os comandos do ar-condicionado parecem feitos para um carro mais caro do que de fato o Argo é. Tudo fica fácil e à mão, mas a ergonomia derrapa feio em um ponto: a posição de dirigir. Por não ter ajuste de profundidade, o volante ficou demasiadamente próximo ao painel.

Ao mesmo tempo, o banco do motorista é posicionado mais alto do que o necessário e não há ajuste para essa região. Com isso, quem pilota o Argo precisa esticar demais os braços e as pernas, além de ficar sem muito espaço para a cabeça – especialmente se for uma pessoa alta.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Lá atrás, em compensação, o hatch compacto da Fiat entrega espaço de sobra. É uma das referências na categoria junto ao Renault Sandero. Bônus para o vidro que desce totalmente, ainda que seja operado por manivelas – as janelas dianteiras tem acionamento elétrico com função um toque.

Com 300 litros de porta-malas, o Argo entrega espaço suficiente para as famílias, mas carece de mais cuidado por ali, O carpete usado é simples e não há luz. Ao menos o porta-malas pode ser aberto pela chave ou por um prático botão na parte inferior.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]

Mito dos 1.0

Se antigamente ter um hatch compacto 1.0, ainda mais com as dimensões generosas do Argo, parecia um pesadelo, hoje a história é mais tranquila. O Fiat Argo é equipado com motor 1.0 Firefly três cilindros aspirado de 72 cv e 10,9 kgfm de torque. É potência inferior aos rivais, mas torque bastante semelhante.

No dia-a-dia ele vai muito bem. O acelerador é sensível até demais, fazendo com que o tricilíndrico entregue toda a sua força em boa parte do tempo. Isso reduz a sensação de que falta força – até que uma subida chegue e seja necessária uma redução. Contudo, o torque é suficiente para as situações urbanas mais comuns, mesmo com alguns passageiros dentro.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
É nítida a vibração do motor 1.0 quando o Argo está parado, sendo mais sentida que em rivais próximos. Além disso, o motor tem funcionamento levemente áspero, mas entrega um ronco interessante. Os números de consumo são apenas ok, com médias de 10 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada com etanol durante nossos testes.

O problema do consumo em estrada é atribuído ao câmbio. A transmissão manual de cinco marchas tem relações muito curtas, fazendo com que pouco além de 50 km/h o Argo já chame a quinta marcha. Na estrada, ele fica em 3.500 giros a 100 km/h e passa dos 4 mil a 120 km/h.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Isso não se traduz em ruído interno pois o isolamento acústico do Argo é bom, mas a rotação alta penaliza o consumo. Com bom torque em baixa, o motor poderia ser melhor explorado com uma sexta marcha, que não deixaria o Argo sem fôlego na estrada em uma rotação mais baixa.

Outro elemento a ser pontuado é o quão longos os engates são, além de imprecisos e borrachudos. A transmissão da Fiat melhorou com o tempo, mas ainda parece ser exatamente a mesma que o Palio usava em 1996, a qual continha os mesmos problemas. A manopla alta também não ajuda nessa sensação.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]

Cuidado extra

Um dos pontos em que seus antecessores Punto e Bravo sempre foram elogiados era na dinâmica e o Argo honra esse legado. A suspensão é o maior mérito do hatch compacto italiano. Ela lida muito bem com as imperfeições do solo e não é barulhenta como a do Chevrolet Onix. Ainda que seja mais firme do que o típico Fiat, ele puxa mais para o conforto.

Só não dá para dizer que a versão sem nome tem apetite por curvas pois seus pneus 174/65 R14 tem a tendência de cantar mais alto nas curvas que candidatos em show de calouros. A direção pende para o lado do conforto, com assistência elétrica bem leve na cidade, mas confortável na estrada.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
O Argo 1.0 demonstra nitidamente que foi pensado para motores maiores e tem potencial para mais. Pelo conjunto da obra, fica evidente que ele será muito bem recebido pelo novo motor 1.0 Firefly turbo. Motor que, vale lembrar, finalmente substituirá o jurássico 1.8 E.Torq usado nas versões mais caras. A julgar pelo desempenho do aspirado, há muito potencial.

Veredicto

O Fiat Argo 1.0 definitivamente honra o legado do Palio ao apresentar uma boa fórmula para o mercado de entrada. Ao mesmo tempo em que supre o público do Punto que buscava um hatch compacto mais sofisticado que os demais. Do lado do Bravo, ele tem a vantagem de ser mais espaçoso por dentro.

Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Fiat Argo 1.0 [Auto+ / João Brigato]
Por quase R$ 60 mil ele é um dos hatches compactos de entrada mais baratos do mercado e isso fica nítido na lista de equipamentos. Mas entrega um bom conjunto motor, interior caprichado e visual ainda atraente e que se passa fácil por uma versão mais cara.

Mas, nessa faixa de preço, o Hyundai HB20 Sense é uma alternativa que muito deve ser considerada.

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