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Um erro e um acerto

Fastback Hybrid é um acerto e uma mancada da Fiat | Avaliação

Democratizar uma tecnologia é ótimo, mas a Fiat colocou o regulamento debaixo do braço com o Fastback Hybrid

Fiat Fastback Hybrid branco em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Tecnologicamente falando, o Brasil está atrás da Europa uns bons anos. Motor turbo só se tornou popular agora por aqui, enquanto a eletrificação (parcial ou total) ainda é vista como novidade de outro mundo pelos brasileiros. Por isso, um sistema semi-híbrido como o que a Fiat colocou no Fastback Hybrid parece revolucionário, mas não é.

Esse tipo de eletrificação parcial bem leve acontece na Europa há muito tempo, tendo se tornado rotina para vários carros. Como as regras de emissões de poluentes e de consumo são muito mais rígidas por lá, os sistemas MHEV praticamente se tornaram obrigatórios para que carros a combustão sobrevivam.

Por isso, é muito corajoso e louvável que a Fiat tenha desenvolvido um sistema para o Brasil, que é compatível com etanol e gasolina, além de ser totalmente produzido nacionalmente. Mas é uma mancada imperdoável chamar de híbrido um carro que não é híbrido. Um problema que CAOA Chery e Kia também fazem.

Fiat Fastback Hybrid branco em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Fiat Fastback Hybrid é híbrido ou não?

falei sobre isso em uma matéria mais detalhada, mas é algo que precisa ser dito desde o começo de uma avaliação de um carro como esse. O Fiat Fastback Hybrid e seu irmão Pulse Hybrid não são híbridos de verdade. Por mais que a lei possa os classificar como isso, regulamento que a Fiat usou para tal classificação.

A norma ABNT NBR 16.567 considera carros MHEV como híbridos de fato. Isso porque, segundo a lei, se 2% da energia do combustível consumido no ciclo de ensaio, for feita por energia elétrica, o carro é híbrido. Mesmo indo contra o conceito de híbrido, que é mover as rodas com os dois motores.

Fiat Fastback Hybrid branco de frente em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Entretanto, o conceito verdadeiro de um carro híbrido é que ele tenha dois motores com tipos de propulsões diferentes e que são capazes de, sozinhos, movimentar as rodas. Ou seja, o motor elétrico precisa mover o carro sozinho, assim como o combustão faz. Isso não acontece em um MHEV, especialmente no Fastback Hybrid.

É um sistema totalmente diferente do Hybrid da Toyota, em que o motor a combustão trabalha junto do híbrido ou de maneira separada. É possível rodar poucos km só na eletricidade, mas o motor elétrico move o carro. Com isso é híbrido. No Fastback, o motor elétrico só tira o esforço do combustão e jamais move a roda sozinho. Portanto, não é híbrido.

Fiat Fastback Hybrid branco de traseira em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Mas o sistema MHEV ajuda?

No final das contas, a Fiat está enganando o consumidor? Não. Mas não está comunicando o sistema de maneira justa. Ele é um auxílio para o motor a combustão, o qual você só percebe se dirigir um Fastback normal e depois imediatamente o híbrido. O esforço de pedal para andar a mesma coisa é substancialmente reduzido.

Além disso, o motor 1.0 três cilindros turbo de 130 cv e 20,4 kgfm de torque pode rodar com rotação mais baixa por conta do auxílio eletrificado. Perceba que os números do Fastback Hybrid e do normal são idênticos. Inclusive o tempo de 0 a 100 km/h é exatamente o mesmo das versões não eletrificadas. 

motor híbrido do Fiat Fastback
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

A diferença está no consumo. Como o esforço do 1.0 turbo foi reduzido, o Fiat Fastback consegue ficar, teoricamente, mais econômico. Na cidade, oficialmente, são 12,6 km/l na gasolina, contra 11,9 km/l do modelo anterior. Já no etanol, temos 8,4 km/l do T200 contra 8,9 km/l no T270. Já na estrada, o novo marca 13,9 km/l na gasolina e 9,8 km/l no etanol.

Na prática, contudo, ele ainda é um carro bem gastão. Durante nossos testes, foi difícil fazer o Fiat Fastback Hybrid passar de 6 km/l na cidade com etanol. Já na gasolina, ele conseguiu, com muito esforço de economia, bater 11 km/l. E o Volkswagen Nivus, com um trabalho aerodinâmico e sem eletrificação, é mais econômico que o Fiat.

Fiat Fastback Hybrid branco de frente em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Na condução, tudo ajuda

Tirando a parte da eletrificação de lado, o Fiat Fastback Hybrid segue sendo um modelo bom de andar. A suspensão é macia, mas suficientemente firme para que o modelo seja bom de curva. Já a direção, nitidamente voltada ao conforto, tem calibração voltada a leveza em qualquer situação. Até na estrada é um pouco leve.

Grande estrela do conjunto está na transmissão automática do tipo CVT. Com sete marchas simuladas, o câmbio permite aproveitar ao máximo o desempenho do motor 1.0 turbo eletrificado. As retomadas são rápidas, não há delay de aceleração e o câmbio responde aos desejos do motorista conforme o pé no acelerador.

Fiat Fastback Hybrid branco de frente em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Entretanto, a plataforma do Fiat Fastback já deixa muito clara que a idade pesou. Como a base é uma evolução da plataforma do Cronos e Argo, que por sua vez é uma melhoria das entranhas do Punto, que é originária de uma melhoria do Palio…enfim. Já deu para entender que, por mais que tenha evoluído muito, ainda é uma plataforma muito antiga e limitada.

Basta ver o que o conjunto 1.0 três cilindros turbo com câmbio CVT é capaz de fazer, em termos dinâmicos, em SUVs de plataforma mais nova. É o caso de Citroën Basalt e Peugeot 2008, que usam a base CMP, que dará vida à segunda geração do Fastback e do Pulse. Nos franceses, o conjunto mecânico casa muito melhor e a dinâmica é superior.

Fiat Fastback Hybrid branco de traseira em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Parece que, o tempo todo, há algo esquisito no Fastback. Dinamicamente, há motor demais para uma base limitada. Contudo, há algo que a Fiat sabe fazer como ninguém: sensação de robustez. O SUV mostra que aguentar os desaforos das nossas ruas esburacadas sem reclamar é um de seus principais atributos.

Sensação de poder

Por R$ 161.990, o Fiat Fastback Impetus Hybrid avaliado começa a ficar um tanto caro para a categoria. Adicione os R$ 990 da cor branca com teto preto e o interior com couro claro de R$ 1.340 e fechará a conta em R$ 164.320. Mas o segundo opcional verdadeiramente vale ser levado para a casa.

interior do Fiat Fastback Impetus Hybrid com couro claro opcional
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Isso porque o couro claro no interior adiciona uma atmosfera de carro mais caro ao Fastback. A tonalidade de contraste é usada na parte frontal dos acentos, no couro do painel e nos apoios de braço das portas. As costas dos bancos e o meio do assento traseiro mantém o couro preto, ajudando a dar contraste.

É uma maneira a sofisticar a cabine do SUV, que tem materiais muito simples. A Fiat conseguiu trabalhar com texturas diferentes e colorações para ajudar a dar uma sensação de que é um carro mais caro. E isso ajuda muito aos olhos, especialmente por ter uma central multimídia gigantesca e de ótima qualidade, além de um painel digital.

interior do Fiat Fastback Impetus Hybrid com couro claro opcional
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

Mas a qualidade dos plásticos deixa a desejar, ficando próximo dos Volkswagen. Para piorar, mesmo depois de anos, a Stellantis ainda não arrumou uma maneira de alinhar o porta-luvas do modelo, que segue torto e desalinhado. O console central alto com elementos de cores diferentes ajuda nessa ideia de parecer mais do que é.

Telas e espaço

Vale a pena falar das telas do Fiat Fastback. A central multimídia tem ótima resolução, é fácil de mexer, além de rápida. Até mesmo a câmera de ré (constante mancada nos franceses da Stellantis) tem excelente resolução. A conexão é feita sem fio, mas também pode contar com cabo do tipo USB normal ou USB-C.

Já o painel de instrumentos digital é o mais simples que a Stellantis usa em seus carros, mas ainda assim é muito bom. A tela tem resolução boa, além de ser fácil de mexer. No Hybrid, há instrumentos em azul, além de um contador de carga da bateria do sistema eletrificado e um gráfico de consumo ou carregamento do sistema.

Já o espaço interno é o fraco do SUV. Por conta do teto curvado, quem senta atrás sofre. Não há área suficiente para as pernas, porque ele é derivado do Argo, enquanto a cabeça é atrapalhada pelo teto. Um contraste com o gigantesco porta-malas de 516 litros (não 600 litros como a Fiat divulga).

Foco nas alturas

Sendo o topo de linha da gama eletrificada, o Fiat Fastback Impetus traz de série frenagem autônoma de emergência, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré de ótima qualidade, freio de estacionamento elétrico, assistente de farol alto e assistente de partida em rampa.

O sistema de manutenção em faixa, como todo Stellantis do lado FCA, é bruto demais, corrigindo o volante na base do soco. Mesmo no modo mais sutil de atuação, que pode ser selecionado na central multimídia, ele ainda corrige de maneira desnecessariamente agressiva. 

Fiat Fastback Hybrid branco de traseira em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

A versão de topo com motor 1.0 turbo eletrificado ainda é equipada com ar-condicionado digital, carregador de celular por indução, chave presencial com partida remota, vidros elétricos nas quatro portas, volante com ajuste de altura e profundidade, faróis e lanternas full-LED, direção elétrica, retrovisor eletrocrômico e bancos revestidos em couro.

Veredicto

Se você busca um SUV híbrido, pode ir procurar em outro lugar. O Fiat Fastback não é híbrido de verdade. Contudo, se é um iniciante no mundo dos SUVs e ficou encantado pelo estilo cupê que ele e o VW Nivus apresentam, o Fastback tem como vantagem parecer um carro mais sofisticado e ter um porta-malas gigantesco.

Fiat Fastback Hybrid branco de traseira em um estacionamento molhado com uma floresta ao fundo
Fiat Fastback Hybrid [Auto+ / João Brigato]

O preço começou a ficar salgado e, nessa faixa, há modelos com mais espaço interno e mais refinados. Bato palmas para a Stellantis por trazer o sistema eletrificado para uma categoria de alto volume e preço mais baixo do que a maioria dos híbridos de verdade. Mas é reprovável usar o logo (e o nome) Hybrid em um carro não híbrido. 

Você teria um Fiat Fastback? Conte nos comentários.