Oferecer mais por menos é uma premissa das marcas chinesas. Prova disso foi a criação do CAOA Chery Tiggo 7 Sport como alternativa barata de SUV médio em um segmento que comumente fica acima dos R$ 200 mil. Só que a Mitsubishi também seguiu com essa fórmula com o Eclipse Cross Rush. Mas por que ele não teve a mesma atenção?
Desde que a marca japonesa aposentou o cansado ASX / Outlander Sport, o Eclipse Cross passou a fazer o papel de modelo de entrada da Mitsubishi no Brasil. Até então sendo vendido somente em versões mais caras, a marca apresentou a série especial Rush como teste para sentir se o mercado aceitaria uma variante mais barata do SUV médio.
Funcionou tão bem que ele virou versão regular por um atrativo preço de R$ 164.990. Só que para chegar a essa cifra de preço de SUV compacto, ele precisou perder alguns itens. A baixa mais sentida é a chave, que nem mesmo é canivete. É uma unidade tão simples quanto a chave que o Citroën C3 antigamente usada.
Além disso, ele não conta com freio de estacionamento eletrônico, mas sim a avalanca tradicional. Porém ela é desnecessariamente gigantesca, além de mal posicionada, ficando mais à direita do console, próxima à do passageiro. O material usado na cobertura parece suscetível a esfarelar com o tempo.
Tem o que é necessário
Apesar dos dois itens um tanto quanto irritantes, a lista de itens de série do Mitsubishi Eclipse Cross Rush é apenas competente. Ele conta com seis airbags, ar-condicionado digital de uma zona, luz diurna de LED, controle de tração e estabilidade, vidro elétrico nas quatro portas, mas somente com função um toque e iluminação no botão para o motorista.
Há ainda retrovisor elétrico, controle de descida, monitoramento de pressão dos pneus, vetorização de torque, assistente de partida em rampa, volante com ajuste de altura e profundidade, banco com ajuste de altura, rodas de liga-leve, além de central multimidia com Android Auto e Apple CarPlay. Os bancos revestidos em couro são o único opcional.
Confesso que, para a categoria que o Eclipse Cross se insere, faltam itens básicos como sensor de estacionamento – ainda que ele tenha câmera de ré, mas que constantemente trava a imagem. Os faróis não acendem automaticamente e não há sensor de chuva, dois itens que começam a ser esperados pela faixa dele.
Espere o inesperado
Se a lista de itens de série não chama a atenção, o Mitsubishi Eclipse Cross se destaca pela dirigibilidade. O SUV médio conta com motor 1.5 quatro cilindros turbo a gasolina de 165 cv e 25,5 kgfm de torque ligado a um câmbio automático do tipo CVT com oito marchas simuladas. Um conjunto que faz com que pareça que ele tem bem mais potência.
Durante a semana de testes com o Eclipse Cross, não foram poucos os momentos em que estava em uma velocidade acima do permitido na via sem querer por conta dele. Como o câmbio CVT trabalha para baixar a rotação ao máximo e o acelerador é sensível, além de ter motor forte e competente, ele acelera sem esforço.
Com rodar confortável, você comumente estará rodando a 140 km/h achando que está a 120 km/h. Ele ganha velocidade com uma facilidade impressionante e de maneira sutil por conta do giro baixo e torque farto, que chega a sua totalidade a apenas 1.800 rpm. Na estrada, é normal que o Eclipse Cross se mantenha a 2.000 rpm.
Segundo a marca, ele acelera de 0 a 100 km/h em 11,1 segundos. Mas parece bem mais rápido do que isso dada a vivacidade do conjunto. A única questão que atrapalha é que o câmbio CVT faz o motor berrar demasiadamente em acelerações fortes. Em uma arrancada, no máximo ele simula duas trocas, o que faz parecer uma enceradeira.
Equilíbrio de local
Por conta do comportamento do câmbio CVT, você tem no Eclipse Cross um SUV ágil a todo momento e que faz o motor acordar rapidamente. O resultado é um consumo muito próximo na cidade e na estrada. Oficialmente ele marca 10,9 km/l na cidade e 11,9 km/l na estrada. Durante nossos testes, a média foi idêntica, surpreendentemente.
O que também é equilibrada é sua dinâmica. O SUV não é voltado ao conforto, nem para a esportividade. Ele trabalha em uma surpreendente neutralidade. A direção é relativamente rápida e bem calibrada, sendo leve nas manobras e suficientemente firme na hora de rodar na estrada.
O mesmo vale para a suspensão, que não faz o Eclipse Cross inclinar demasiadamente nas curvas, mas também não é uma pluma em asfalto ruim ou onde a terra começa a recobrir o piso. E essa neutralidade é interessante, visto que o Mitsubishi se torna um carro muito mais fácil de agradar a uma audiência maior.
Seu pecado maior, no entanto, é o excesso de ruído interno. A parte traseira é bem barulhenta, com sons nítidos de plásticos soltos e também da suspensão trabalhando. É possível que a Mitsubishi tenha simplificado algumas coisas no Eclipse Cross Rush, contribuindo para esse samba interno.
É na média
A cabine do Mitsubishi Eclipse Cross Rush começa a mostrar sinais de idade, mas ainda é um ambiente agradável. O painel é lotado de material macio, assim como as portas. Mas não chega a ser tão acolchoado quanto o Jeep Compass ou o CAOA Chery Tiggo 7. As partes plásticas, contudo, parecem simples como as do VW Taos.
O visual em Y é da década passada, assim como a central multimídia montada em uma moldura que a faz parecer uma televisão de tubo. A central não é original Mitsubishi, sendo uma peça aftermarket baseada em Android com tela pequena, excesso de bordas e funcionamento bem confuso. Mas tem Android Auto e Apple CarPlay.
No painel de instrumentos analógico a Mitsubishi reune várias informações, mas esqueceu de colocar uma opção de velocímetro digital no computador de bordo. Ele é facilmente controlado pelas teclas na lateral, próximo da haste de seta. O que é quase impossível, no entanto, é usar a entrada USB sem deslocar o câmbio para o D.
Sentido de cupê
Apesar de seu visual quase de SUV cupê, o Mitsubishi Eclipse Cross é bem espaçoso por dentro. O motorista conta com uma célula bem marcada, onde somente uma borda do console central atrapalha um pouco do espaço. A posição de dirigir é mais neutra, mas há a sensação de que o volante está sempre alto demais.
Na traseira, mesmo o teto levemente inclinado não rouba espaço. Um passageiro alto consegue se sentar atrás de um motorista igualmente de alta estatura sem sofrer com os joelhos. O espaço para ombros também é bom. Contudo, não há saída de ar para quem senta atrás. O porta-malas leva bons 473 litros.
Veredicto
Se você faz muita questão de ter um SUV médio barato, suas verdadeiras únicas opções são CAOA Chery Tiggo 7 Sport e Mitsubishi Eclipse Cross Rush. O japonês é muito bom de dirigir e espaçoso, mas parece ter forçado um pouco mais a barra no corte de custos de itens de série, ficando nítido ser uma versão barata, algo que o Chery não faz.
No final das contas, é uma ótima oportunidade de subir de categoria e parecer que você tem um carro mais caro do que seu vizinho com um Jeep Renegade ou um Volkswagen T-Cross intermediário de preço igual. Desde que não coloque a chave do Eclipse Cross Rush na mesa do bar e feche os olhos para a idade avançada do projeto, é uma compra competente.
Você teria um Mitsubishi Eclipse Cross Rush? Conte nos comentários.