Já faz um bom tempo que o segmento de caminhonetes médias deixou de ser focado no trabalho e se tornou uma alternativa ao segmento premium. Como boa parte do dinheiro do Brasil está no agro, muita gente de grana forte compra uma caminhonete média ao invés de um BMW, Mercedes e Audi. E de olho nesse comprador é que a BYD Shark se encaixa.
Você que é picapeiro raiz que acha que caminhonete que presta tem tração 4×4 com reduzida e precisa atravessar a transamazônica pode esquecer da Shark. Mas se sua pegada é ter um carro luxuoso com caçamba, para ser usada em ambientes asfaltados, a nova picape chinesa faz todo sentido. Mas cobra R$379.800 para isso.
Diferente da manada
Diferentemente de todas as outras caminhonetes médias à venda no Brasil, a BYD Shark é híbrida plug-in. Ela não bebe diesel, mas sim gasolina. O conjunto é formado por um motor a combustão 1.5 quatro cilindros turbo de 183 cv e 26,5 kgfm de torque ligado a dois propulsores elétricos.
O dianteiro tem 231 cv e 31,6 kgfm de torque, enquanto o traseiro auxilia com 204 cv e 34,6 kgfm. É interessante notar o quanto a Shark trabalha mais com a tração dianteira, dando a sensação de ser puxada, não empurrada, como acontece com as rivais. Entretanto, a entrega de torque é instantânea.
Afinal, o motor elétrico é o protagonista da situação toda, garantindo arrancadas de encher os olhos e deixar donos de Volkswagen Amarok V6 comendo poeira. Quando requisitada, a BYD Shark consegue entregar 437 cv e acelera de 0 a 100 km/h em 5,7 segundos. Lembrando que uma transmissão conceitualmente próxima a um CVT controla tudo.
Não há o delay de aceleração das caminhonetes diesel, muito menos a aspereza do conjunto puramente a combustão. Por conta da eletricidade, ela acelera de maneira brusca e linear, entregando agilidade que se esperaria de um carro menor. Nem mesmo a Ford Ranger Raptor se equipara à instantaneidade de força da Shark.
BYD Shark domina o território urbano
É notável, contudo, que o ambiente que a BYD Shark mais se sente bem é na cidade. Como a velocidade máxima é limitada a 160 km/h, ela não é tão estradeira. Além disso, acima de 100 km/h, fica nítido que a caminhonete tem certa dificuldade de desenvolver mais, exigindo pé mais pesado no acelerador. Situação que prejudica totalmente o consumo.
Oficialmente o consumo fica em 10 km/l na cidade e 11 km/l na estrada. Contudo, se as baterias estiverem carregadas, ela pode tranquilamente fazer mais de 20 km/l. A autonomia elétrica, vale lembrar, é de 57 km. Só que o consumo pode piorar muito na estrada quando a bateria está vazia.
Por sorte, o sistema de gerenciamento de carga da BYD é excelente. A Shark consegue manejar o uso do motor a combustão e o elétrico para garantir o melhor consumo possível, deixando para o motorista escolher quanto de bateria ele quer preservar. Na cidade, ela se regenera rápido, mas na estrada o consumo da bateria é alto.
Amarok, estou contigo
Essa questão da eletrificação da BYD Shark também leva a caminhonete a ter um comportamento mais urbano. A suspensão, ao contrário da maioria dos carros chineses, é dura. Isso torna o comportamento em curvas bem interessante, especialmente por conta da estabilidade na dianteira.
Mas, durante a semana de convivência com a Shark em que rodei 1.000 km, ela mostrou um comportamento estranho. Ao cair em um buraco, ela absorve o impacto de maneira mais firme, como esperado pelo acerto dinâmico (que é bem bom, diga-se de passagem), mas depois a traseira treme.
Suspeito que os coxins de ligação entre o chassi e a carroceria não sejam tão bons quanto de suas rivais. Afinal, esse tipo de reação de tremedeira pós passar em buraco lembra bastante a Ford Ranger da geração anterior logo que foi lançada. É bem longe de ser saltitante quanto uma Fiat Titano, mas essa tremedeira é nítida.
Vale destacar ainda que a direção elétrica tem ajuste voltado ao conforto, mas é melhor usar no modo Sport. Nesse acerto, ela ganha o peso necessário e fica boa na tocada, enquanto no normal é mole demais. O feedback vindo do asfalto é a contento e você não briga com o volante, como acontece em algumas rivais.
O mais próximo do andar de cima
Houve um tempo em que a Mercedes-Benz entrou no segmento de caminhonetes com a Classe X. A ideia era ter uma marca de luxo na categoria, mas ela não passava de uma Nissan Frontier com logo da estrela – especialmente no interior, que não tinha acabamento bom.
No final das contas, a caminhonete média que mais se aproximou de ser um modelo de luxo, é a BYD Shark. Como todo carro da marca, o interior é impecável. Há material macio por todos os cantos e revestimento de couro de ótima qualidade. Os arremates são bem feitos, os plásticos usados trazem qualidade e o ambiente é refinado.
Destaque para o painel de instrumentos totalmente digital tem ótima leitura e informações completas. É idêntico a todos os outros carros da marca, sendo que, honestamente, a Shark merecia algo só para ela. A central multimídia também é padrão da marca, com Android Auto e Apple CarPlay, além de rodar de um lado para o outro.
Motorista e passageiro contam com regulagem elétrica nos bancos, além de aquecimento e resfriamento. O conforto dos bancos é muito notável. Além disso, na traseira, o espaço é ótimo, sendo agraciado pela ausência de túnel central, o que aumenta ainda mais a área para as pernas.
Destaque para a enorme caçamba de 1.200 litros com 790 kg de capacidade de carga. Ela conta com tomadas domésticas em padrão brasileiro na lateral (três ao todo), além de mais uma na segunda fileira de bancos. Há ainda um degrau (idêntico ao usado pela Ford), que facilita a entrada e saída.
Representante de topo
Por ser uma caminhonete média com preço acima dos R$ 300 mil, era de se esperar uma lista de itens de série bem completa. É isso que a BYD Shark entrega. Ela conta com frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, faróis full-LED com acendimento automático.
Há ainda assistente de luz alta, bancos dianteiros com aquecimento, resfriamento e regulagem elétrica, retrovisor fotocrômico, chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas, partida remota, retrovisor elétrico, vidros elétricos nas quatro portas, freio de estacionamento eletrônico, entre outros.
Veredicto
A BYD Shark entrega muito e cobra muito por isso. Essencialmente, ela não tem consumo melhor que as diesel, ficando até pior em algumas situações. A tremedeira da traseira em buracos também chama a atenção, além do fato de ela se sentir extremamente desconfortável fora de asfalto (e não curte muito estrada).
Como um veículo de luxo, ela entrega o que se espera, especialmente pelo acabamento e rodar refinado. Só que R$ 379.800, a colocam à frente de todas as caminhonetes médias à venda no Brasil, exceto a absurda Ranger Raptor. Mas sem entregar vantagens nítidas para além do acabamento.
Para o picapeiro raiz, que vai colocar ela para fazer tudo, não vale a pena. Agora, se você é agroboy urbano e procura um carro para o dia-a-dia, tem onde carregar as baterias e o visual de caminhonete te agrada, abrace sem medo a BYD Shark. É a caminhonete mais carro de todas na categoria. E tem muita gente que busca isso.
Você teria uma BYD Shark ou outra caminhonete média? Conte nos comentários.
