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Golfinho elétrico

BYD Dolphin GS é tão certinho que até irrita | Avaliação

Se você busca um carro elétrico não de luxo e não leva um BYD Dolphin GS (ou um GWM Ora 03), na boa, está errado

BYD Dolphin GS preto de frente no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Eu gosto de carros elétricos. Sempre gostei. Mas eles têm um uso bem restrito. Ou são o carro extra da garagem para uso no dia-a-dia ou são monstros com torque tão absurdo e instantâneo que seus olhos vão parar no fundo da cabeça. Fora isso, não faz sentido. Por isso, se hoje eu fosse ter um carro elétrico, seria um BYD Dolphin GS…ou um GWM Ora 03.

Confesso que o BYD Dolphin GS me agradou ainda mais do que talvez deveria por conta dos dois carros que testei antes dele. A Ford F-150 era sensacional, mas seu tamanho descomunal me fazia repensar se sairia de casa para tarefas cotidianas simplesmente porque ela não caberia onde eu fosse estacionar. E sair da garagem era um parto.

Já o Mercedes-AMG C63, que veio logo depois da F-150 e antes do Dolphin, por mais que seja um carro incrível, me deixou com um gosto amargo na boca e saudades da geração antiga. depois de dois carros luxuosos e impressionantes, no dia em que dei partida no Dolphin pela primeira vez, soltei sozinho dentro dele: “que saudade de um carro normal”. 

BYD Dolphin GS preto de traseira no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Já deu para ver que eu vou recomendar a compra de um Dolphin, né? Mas ele tem seus poréns. Então segure a emoção e vamos à avaliação.

É culpa dele

O BYD Dolphin foi o responsável por criar um novo patamar de preço para os carros elétricos no Brasil. Chegou por R$ 150 mil e teve seu preço copiado pelo GWM Ora 03 justamente porque provou ser ali a faixa certa para esse tipo de carro. Para quem trabalha, a conta fecha e para quem usa no dia-a-dia também.

BYD Dolphin GS preto de frente no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Só que, sem avisar ninguém, a BYD subiu o preço recentemente para R$ 159.800. Ainda é atrativo, especialmente porque, na prática, você ainda o compra por R$ 150 mil nas concessionárias. Dentro desse valor, você leva um SUV compacto em versão intermediária ou as tops de SUVs subcompactos como Fiat Pulse e Renault Kardian.

Contudo, o que chama atenção do Dolphin GS é que, mesmo sendo a versão de entrada, ele é bem equipado. Tem ar-condicionado digital de uma zona, chave presencial, vidros elétricos nas quatro portas, sensor de estacionamento traseiro, farol com acendimento automático, câmeras 360°, seis airbags, controle de tração e estabilidade.

BYD Dolphin GS preto de traseira no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Conta ainda com piloto automático, freio de estacionamento eletrônico com função auto-hold, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, rodas de liga-leve, revestimento interno de couro e retrovisores elétricos. Mas ninguém explica a economia desnecessária da BYD em remover o limpador traseiro. Inadmíssivel em um hatch.

Some isso ao fato de que o seu irmão menor, o Dolphin Mini, conta com carregador de celular por indução e banco do motorista com regulagem elétrica – coisa que você só tem na versão Plus do Dolphin. Além disso, não há frenagem autônoma de emergência, algo que seria esperado nessa faixa de preço.

BYD Dolphin GS preto de lado no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Os números do BYD Dolphin mentem

Todos os números da ficha técnica do BYD Dolphin parecem mentira. Deixe eu primeiro passar eles, que depois explico. São 95 cv e 18,3 kgfm de torque com autonomia declarada pelo ciclo INMETRO de 291 km. 0 a 100 km/h cumpridos em 10,9 segundos e velocidade máxima de 160 km/h. Processou tudo? Certo. Vamos lá. 

Mesmo a potência sendo inferior a um motor 1.3 Firefly da Fiat e o torque abaixo de qualquer motor 1.0 três cilindros turbo, exceto o acerto 170 TSI da Volkswagen, o Dolphin acelera sem medo. Ele tem retomadas rápidas, uma agilidade ímpar e até canta pneu quando você acelera forte.

motor dolphin gs
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Mas percebi dois pontos sobre ele. Assim como alguns carros 1.0 aspirados, o acelerador do meio para o final já está dando tudo de si. Isso ajuda o seu cérebro a pensar que o carro é mais rápido do que de fato é. Já na estrada, acima de 120 km/h, o Dolphin começa a pedir arrego. As ultrapassagens não são tão ágeis quando a vida na cidade.

A verdade é que ele é um hatch citadino, tendo uma convivência excelente na cidade. Durante a semana de testes com ele, fiz o trajeto Campinas – São Paulo três vezes com ele (ida e volta). Em todas essa oportunidades, em um trajeto de 100 km, ele consumiu 120 km da autonomia.

BYD Dolphin GS preto de traseira no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Já na cidade, era possível rodar vários quilômetros sem ver a porcentagem da bateria cair. Só que, mesmo com essa baixa além do esperado, ele passa dos 300 km com uma carga total. Recarreguei ele constantemente por conta da ansiedade de autonomia, mas ele vai além do prometido pelo INMETRO sem esforço.

Ainda falta o que falta a todo BYD

Dinamicamente falando, o Dolphin está mais perto de modelos como Yuan Pro e Song Premium do que de Tan e Dolphin Mini. Ou seja, tem um acerto dinâmico melhor, mas ainda é como todo BYD: tem suspensão de pudim. Você percebe nitidamente uma forte flutuação de carroceria, especialmente na estrada.

BYD Dolphin GS preto de frente no meio de uma rua
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

O Dolphin navega com balanços suaves e constantes, especialmente da suspensão traseira. Ao passar em valetas, ele mergulha e raspa a frente se você for rápido demais. Além disso, as curvas levam a uma inclinação a mais da suspensão. Contudo, ele não é como o Dolphin Mini que te deixa receoso em altas velocidades, mas não tem a pegada de um Polo ou 208.

A direção é bem calibrada, sendo mais pesada que o típico da marca, mas que contribuiu (e muito) para uma boa dinâmica de condução. Como as rodas ficam nas extremidades e o Dolphin é largo, além de ter centro de gravidade baixo, ele tem estabilidade e passa confiança para uma tocada mais forte. Mas merecia uma suspensão mais brasileira.

Exemplo dos R$ 150 mil

interior do BYD Dolphin GS preto
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Um dos melhores pontos do BYD Dolphin é, sem dúvida, o interior. O elétrico chinês dá uma verdadeira lição de acabamento para qualquer hatch compacto que é vendido no Brasil. Nesse quesito, ele só apanha para o GWM Ora 03, que deixa até o novo Mini Cooper passando vergonha.

Ele tem altas doses de material macio nas portas e uma larga faixa no painel, além de boa parte do console central. Há plástico, mas com texturas interessantes e claras inspirações em temas marinhos. Com a carroceria na cor preta, o interior tem couro preto com tom café com leite contrastante – melhor que o cinza com laranja e azul marinho do Dolphin cinza.

interior do BYD Dolphin GS preto
BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

É claro que o couro é artificial e isso fica nítido no toque do material, mas ele tem muita qualidade. Os bancos são bem ergonômicos e confortáveis, dando a sensação de refinamento. Suficiente, o painel de instrumentos digital poderia ser maior, mas é melhor do que o usado em vários carros com tela maior.

Por falar em tela, a central multimídia tem ótima definição e é fácil de usar. Pena que ainda não foi atualizada para receber os menus de ar-condicionado fixos como existe no Song Premium. Comandos físicos no console são fáceis de usar, mas o câmbio exige explicação a todos que o usam pela primeira vez.

Na traseira, o Dolphin entrega espaço de SUV médio, com a possibilidade de um passageiro alto cruzar as pernas mesmo atrás de um motorista de 1,87 m (meu caso). O piso plano também ajuda a aumentar o espaço e abrigar o quinto passageiro. Pena que o porta-malas de 250 litros seja menor do que a média dos hatches compactos.

Veredicto

Se você precisa de um elétrico nessa faixa de preço, o GWM Ora 03 é mais equipado, mais rápido e melhor acabado do que o BYD Dolphin GS. Contudo, o golfinho chinês é o tipo de carro que não tem como não recomendar a compra. É eficiente, bom de dirigir e suficientemente equipado, além de mais refinado que carros a combustão pelo mesmo preço.

BYD Dolphin GS [Auto+ / João Brigato]

Ele não tem nenhum defeito gritante que possa desmerecer sua compra, além de ter mais prós do que contras. Só não compre se não tiver como carregar em sua casa ou trabalho – até porque a estrutura de carregamento no Brasil é péssima ainda. Mas, se forem verdadeiros os rumores de uma versão híbrida, o Dolphin se tornará imbatível.

Você teria um BYD Dolphin? Conte nos comentários.