Ninguém pode negar que a antiga geração do Nissan Versa (hoje chamado de V-Drive) era o tipo de compra totalmente racional. É um carro que cumpre o que promete, mas jamais encantou pelos olhos ou trazia algum tipo de atrativo que não fosse seu espaço interno gigantesco e a confiabilidade mecânica.
Prova disso é que o Versa se tornou o típico carro do Uber. Os motoristas de aplicativos e taxistas amam o sedã compacto da Nissan, mas não é o carro que escolheriam para os passeios de final de semana. Mas como diz o ditado: o mundo não gira, ele capota. E o Versa mudou muito.
Testamos a versão topo de linha Exclusive de R$ 96.690 para compreender a evolução do Nissan Versa 2021 e se vale à pena pagar R$ 14.700 a mais que o V-Drive Premium topo de linha.
Revolução com evolução
Diferentemente do que aconteceu com o March na Europa, onde adotou a plataforma modular CMF-B, a Nissan manteve a base V na nova geração do Versa. Contudo, foram feitas importantes mudanças e aplicados reforços seguindo a evolução ocorrida no Kicks. O Versa é sentido como um carro completamente novo.
A rodagem é sólida e confortável. Ele parece um carro com qualidade de construção mais elevada na hora de andar. Foi feito um melhor trabalho de isolamento acústico no Versa, onde o irritante ruído da transmissão CVT ou a invasão de barulhos externos não se faz mais presente.
É, evidentemente, um carro que evoluiu dez anos em relação ao seu antecessor. A leveza do conjunto, típica dos modelos com essa plataforma, continua lá. Contudo, a sensação de fragilidade se foi, mostrando que agora o Versa está parelho a rivais como o Volkswagen Virtus no quesito qualidade de construção.
Jogo seguro
Não foi dessa vez que o Nissan Versa ganhou motor turbo, mas, tal como acontece com o Peugeot 208, o motor 1.6 aspirado é suficiente para ele. Aliás, até mais do que suficiente. Com 114 cv e 15,5 kgfm de torque, ele não impressiona pelos números, mas o casamento com a transmissão CVT foi bem manejado.
O Versa ganha velocidade sem precisar pisar muito no acelerador (que é até sensível demais, diga-se de passagem). É esperto na cidade e retoma com facilidade na estrada quando requisitado.
Por ter simulação de marcha somente em regimes mais altos, o Versa mantém a rotação baixa o tempo todo. Isso garante uma linearidade maior na entrega de força, onde ele roda sem trancos, solavancos ou engasgos. A rotação só passa de 2.500 rpm quando o pedal do acelerador é mais exigido.
No câmbio apenas duas críticas: o botão do modo Sport fica em uma posição terrível escondida na manopla e se faz totalmente inútil. Além disso, a simulação de marchas é bastante artificial, mas pelo menos evita a sensação de estar dirigindo uma enceradeira como acontece com alguns rivais.
Há, no entanto, o problema no consumo. O Versa não é econômico, especialmente com etanol. Na estrada as médias não ficaram muito além de 11 km/l, enquanto na cidade dificilmente ele superou os 7 km/l. Por não ser turbo, essa acaba por ser sua grande desvantagem perante os rivais.
Pegada americana
Seguindo a escola do Chevrolet Onix Plus, o Nissan Versa 2021 é um sedã macio e confortável. A suspensão trabalha em silêncio, ao contrário do barulhento conjunto do rival da GM. Absorve bem os buracos e não reclama quando o carro está bem carregado.
Já a direção com assistência elétrica tem boa firmeza na cidade e na estrada. Não é das mais leves, mas também não é pesada, além de não transmitir muito do que acontece no asfalto. No fim das contas, complementa o conjunto do Versa permitindo uma condução mais confortável.
Herança do Kicks
Um ponto importante em que o Nissan Versa evoluiu nitidamente em relação à geração anterior é na cabine. O modelo antigo pecada pelo visual pouco inspirado e pelo acabamento de qualidade nada além de ok. A nova geração tomou do Kicks o visual e muitas peças para compor sua cabine.
Ele é o único sedã compacto com faixa de couro macia ao toque, ainda que exclusiva da versão Exclusive. Com tom bege, replicado em boa parte dos bancos, o efeito visual criado é de sofisticação e uma melhor impressão que as cabines mais simples de Volkswagen Virtus e Chevrolet Onix Plus, por exemplo.
Há muito plástico, como era de se esperar nessa categoria, mas o material usado é de qualidade e possui uma textura agradável. Couro usado nos bancos poderia ser melhor, mas parece menos artificial que alguns rivais.
Mas a Nissan teve de fazer algumas inexplicáveis economias. Os comandos dos vidros na porta não são iluminados, sendo somente o botão do motorista com uma fraca luzinha. Além disso, o comando automático funciona somente para o vidro do motorista descer, o restante é preciso segurar o botão por toda operação.
Outro ponto de economia está no painel de instrumentos parcialmente digital. Apesar de ter várias (e ótimas) funções, leitura fácil, bom brilho e funcionamento descomplicado, a Nissan esqueceu de traduzi-lo para o português. Então se você não fala inglês, francês ou espanhol, pode ter alguma dificuldade ali.
Passo além
Ainda na parte tecnológica, a central multimídia do Versa tem boa tela e funciona muito bem com o Android Auto. O que é um alívio, pois o sistema operacional usado pela Nissan é confuso e com gráficos datados. Os botões físicos nas laterais ajudam e muito na operação do sistema.
Há de destacar também que todo Nissan Versa, independentemente da versão, traz chave presencial e partida por botão – algo inédito na categoria. Outra inovação que só ele tem entre os sedãs compactos é frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego e sistema de câmeras 360°.
Destaque ainda para os faróis de LED, mas que inexplicavelmente não tem função de iluminação diurna. A Nissan tenta compensar pela qualidade durante a noite e por ter acendimento automático.
A lista de itens de série ainda traz sensor de ré, piloto automático, ar-condicionado digital de uma zona, seis airbags, tag do Sem Parar, controle de tração e estabilidade, retrovisores elétricos, saídas USB para os bancos traseiros, direção com ajuste de altura e profundidade, além de piloto automático.
Herança do V-Drive
Um dos pontos nos quais os motoristas de Uber e taxistas sempre adoraram o Versa é por conta do seu espaço interno farto. E, tal qual o V-Drive, a nova geração mantém esse legado. A cabine é bem arejada, com boa área envidraçada, o que ajuda ainda mais nessa sensação.
O espaço traseiro é digno de carros de categoria superior, permitindo que um passageiro alto se sente atrás do motorista igualmente alto e ainda cruze as pernas. Tenho 1,87 m de altura e fiz isso no banco traseiro com o dianteiro na minha posição de dirigir, acredite.
Motorista conta com diversos ajustes para o banco, que conta com a tecnologia Zero Gravity a qual deixa longas viagens nada cansativas. O porém vai para o passageiro que se senta na posição mais baixa possível para o banco e não há ajuste.
Já no quesito porta-malas, os 482 litros impressionam, justamente porque o Versa supera os já generosos 460 litros do V-Drive. Por ali a Nissan economizou nos revestimentos, usando carpetes de qualidade inferior e piso do porta-malas feito com um material fino e que não parece aguentar muito peso.
Veredicto
Tudo que o antigo Versa (vulgo V-Drive) tinha, a nova geração carregou consigo. Adicionou à uma fórmula já bem confiável e acertada elementos que faziam muita falta. O novo Nissan Versa finalmente é bonito – talvez o sedã compacto mais bonito da categoria – bom de dirigir, tem interior sofisticado e lista de equipamentos que faz inveja aos rivais.
Por R$ 96.690, é mais negócio que um Volkswagen Virtus Highline que já superou os R$ 100 mil. Já comparando aos R$ 89.390 do Chevrolet Onix Plus Premier II, o Versa é mais caro, mas entrega um projeto mais sólido, com acabamento mais refinado, interior mais espaçoso e itens de série com mais utilidade no dia-a-dia. Temos aqui a nova referência da categoria.
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