Salvem os hatches médios!

Audi A3 lembra como hatch médio é bom | Avaliação

O segmento de hatches médios foi abandonado pelas montadoras que não são de luxo, mas o Audi A3 mostra que eles ainda devem existir

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

De uns anos para cá, o Brasil viu a lenta e desesperadora morte dos hatches médios. O Chevrolet Cruze Sport6 foi o último modelo de marca generalista que não é elétrico ou custa um absurdo. Agora, a categoria só tem Mercedes-Benz Classe A, BMW Série 1, Audi A3 e elétricos de marcas generalistas.

Só que a persistência da Audi com o A3 ao longo de quatro gerações é mais do que louvável, afinal, ela não desistiu de um segmento decadente e que lembra o quão bom esses carros são. Por R$ 302.990, levei o A3 Performance Black, versão topo de linha do modelo, para uma volta aos tempos áureos da categoria.

Evolução literal

Em sua quarta geração, o Audi A3 manteve a plataforma MQB, mas com melhorias a ponto de receber o sobrenome Evo. A base é a mesma da oitava geração do Volkswagen Golf e do atual Audi Q3. Só que no A3, o estado de arte se encontra. O modelo é verdadeiramente muito bom de rodar.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

Como esperado de um hatch médio, tem suspensão firme e direção mais durinha, mas que combinam perfeitamente com a pegada mais apimentada que esse modelo tem. O A3 não reclama de buracos, como alguns de seus concorrentes, enquanto a direção é progressiva, exigindo menos voltas do motorista para esterçar totalmente.

O rodar do A3 é sólido e é perceptível uma robustez no conjunto que nem todo carro de luxo de entrada tem. Além disso, ele contorna curvas de maneira bem grudada no asfalto, o tornando um carro verdadeiramente prazeroso ao volante. Apesar de ter tração dianteira, ele raramente sai de frente nas curvas por conta do bom acerto eletrônico.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

Inteligência mecânica

Mas o destaque é o seu motor 2.0 TFSI quatro cilindros turbo. São 204 cv e 30,6 kgfm de torque gerenciados por uma transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas. Ele é combinado a um pequeno motor elétrico que substitui o alternador e o motor de partida, tornando esse hatch um semi-híbrido.

Como resultado, você tem 0 a 100 km/h em 7,4 segundos ao mesmo tempo em que registra consumo de 16,4 km/l na estrada e 12,1 km/l na cidade. Oficialmente a Audi declara 10,5 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada. Mas, tal qual os modelos da Honda, a vida real mostra uma frugalidade ainda maior.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

Isso só é possível porque o A3 desliga o motor em velocidade de cruzeiro. Na estrada ou em avenidas de velocidade constante, ao tirar o pé do acelerador, o motor desliga para economizar combustível, voltando a funcionar assim que o acelerador é pressionado. Isso salva muito combustível e toda a operação é silenciosa e sem trancos.

Por falar em sem trancos, a transmissão automatizada de dupla embreagem com sete marchas trabalha assim quase sempre. Existem alguns momentos que o câmbio se perde e faz uma troca com tranco ou atrasa demais as mudanças. Além disso, a manopla de câmbio é pequena demais e sem contexto para um carro não elétrico.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

Entretanto, apesar de sua pouca sede e funcionamento suave, o motor 2.0 TFSI é bem esperto, fazendo o Audi A3 disparar sem medo. As retomadas são rápidas e as reações do câmbio para fazer o motor encher são também a contento. No quesito dirigibilidade, o A3 tem muitos pontos a favor.

Deveria olhar para os primos

Mas há uma coisa que não dá para entender. Mesmo custando R$ 300 mil, a Audi colocou o piloto automático adaptativo como um opcional de R$ 10 mil para o A3. Isso porque seus primos Volkswagen Nivus e T-Cross, que custam metade, já contam com o equipamento como item de série. 

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

Além disso, pede extras R$ 8.500 pelos faróis full-LED com iluminação Matrix e outros R$ 7.000 pelo sistema de som B&O 3D. Ainda assim, o A3 Performance Black já conta com teto solar panorâmico, câmera de ré, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, chave presencial, banco elétrico para o motorista, seis airbags e vetorização de torque.

Há ainda ar-condicionado digital de duas zonas, retrovisor interno eletrocrômico, rodas de liga-leve de 18 polegadas, monitoramento de pressão dos pneus, painel de instrumentos digital, central multimidia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, lavador de faróis, sensor de chuva e crepuscular, além de retrovisores elétricos sem rebatimento.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

De primeira, para a primeira

Um dos pontos que chamou atenção no Audi A3 é a qualidade do interior na primeira fileira de bancos. O painel tem uma superfície bem macia com costura dividindo a peça em dois. Todo o layout da parte frontal é voltada ao motorista, criando essa intenção com o desenho das saídas de ar e pela central multimídia e comandos do ar voltados ao piloto.

O volante tem base reta e couro de ótima qualidade, variando entre parte lisa na base e parte superior, enquanto onde as mãos mais ficam, é perfurado para evitar calor nas palmas. Há botões de fácil acesso para controlar a central e o painel de instrumentos digital. É legal o fato de que a Audi manteve comandos físicos para o ar-condicionado.

Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]
Audi A3 Performance Black [Auto+ / João Brigato]

As portas tem revestimento macio e maçanetas com desenho exótico. Há de reclamar apenas da presença de plástico preto brilhante perto do câmbio e ao lado da central multimídia, os quais produzem reflexos fortes e ficam com muitas marcas de dedo. Não há também porta-objetos com tampa, só o porta-luvas.

Na traseira, contudo, o Audi A3 perde um pouco de qualidade. As portas assumem plásticos duros tal qual um Volkswagen Golf, algo que não era esperado de um modelo mais refinado que o icônico hatch da VW. O espaço é bom para a categoria, algo raro entre hatches médios, que quase sempre são apertados.

No porta-malas a Audi disponibiliza bons 380 litros para o A3, mas perdeu uma bela oportunidade. O tampão do porta-malas pode ser colocado em duas alturas diferentes, mas não tem revestimento no piso final, deixando o estepe exposto. Com uma cobertura ali, o porta-malas poderia ser dividido em dois andares, como faz o BYD Dolphin Plus.

Veredicto

O Audi A3 mostra como os hatches médios ainda merecem valor. É um carro muito gostoso de dirigir, com bom acabamento e lista de equipamentos completa. Ainda com o bônus de ser muito mais econômico do que o esperado. Só comete mancada com a falta do ACC, colocado como um caríssimo opcional, além do acabamento ruim no banco traseiro.

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]

Em suma, o Audi A3 é um aliviado respiro em uma categoria na qual a maioria dos compradores migrou para SUVs compactos ou até sedãs médios. Felizmente, um hatch médio como ele ainda existe e prova que a categoria merece muito mais atenção do que tem. Inclusive, é uma compra mais interessante que seu irmão Q3.

Você teria um hatch médio como o Audi A3? Conte nos comentários. 


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