Às vezes, marcas tentam explorar novos territórios sem garantia de sucesso. A Colgate, por exemplo, tentou entrar no ramo alimentício com uma lasanha congelada, mas foi um fracasso e não se aventurou mais além do segmento de higiene pessoal.
Agora, a Fiat ingressa no segmento de caminhonetes médias com a Titano, um movimento que contrasta com a tradição da marca, mais associada à Strada e à Toro, que são dois grandes sucessos no nosso mercado.
Ninguém entra no ringue para lutar contra Muhammad Ali, Evander Holyfield ou Mike Tyson achando que ganhará o cinturão. E os consumidores de caminhonetes são, em grande parte, fiéis às suas marcas preferidas.
Para complicar ainda mais a vida da Fiat Titano, a nova geração da Ford Ranger elevou o padrão do segmento, enquanto a Chevrolet S10 recentemente ganhou um visual atualizado e um câmbio automático de oito marchas. Será que ela encontrará seu lugar ao sol?
Não é pioneira
Esta não é a primeira caminhonete média da Fiat; a Fullback, lançada em 2015, era essencialmente uma Mitsubishi L200 Triton disfarçada com emblemas da Fiat. A Titano segue um caminho semelhante, mas com nuances diferentes.
Apresentada em março deste ano, a Fiat Titano é derivada da Peugeot Landtrek, que por sua vez é baseada na chinesa Changan Kaicene F70. Portanto, a Fiat Titano não é um projeto totalmente novo. Ela também deu origem à Ram 1200 vendida no mercado mexicano, com carroceria de cabine simples ou dupla.
No Brasil, a caminhonete média da Fiat está disponível nas versões Endurance, Volcano e Ranch, todas com cabine dupla e motor 2.2 turbodiesel, emprestado do furgão Ducato, e conectado ao câmbio manual ou automático, ambos de seis marchas. Os preços variam de R$ 219.990 a R$ 259.990 na versão topo de linha Ranch.
Design e Conforto
O design da Fiat Titano pode agradar a diferentes gostos, com linhas predominantemente retas, embora haja evidentes semelhanças com a Peugeot Landtrek, tanto externamente quanto internamente.
A grade frontal é exclusiva, com o logotipo da Fiat e a bandeira da Itália, mas os faróis e as luzes de circulação diurna em LED no formato “Dente de Sabre” são uma herança da Peugeot.
A estratégia de rebranding não é exclusiva da Stellantis; é comum oferecer produtos diferentes apenas com a troca do logotipo. Entre os fabricantes japoneses, a Toyota aplicou essa estratégia no modelo GT86, que também foi vendido como Subaru BRZ e Scion FR-S.
Com 5,33 metros de comprimento, a Titano é menor que a Chevrolet S10 (5,40 m) e a Ford Ranger (5,35 m), mas supera minimamente a Toyota Hilux (5,32 m). Contudo, oferece um entre-eixos de 3,18 metros, maior do que o da Chevrolet (3,09 m) e da Toyota (3,08 m), mas abaixo dos 3,27 metros da caminhonete da Ford.
Ao entrar na Titano, você notará acabamentos bem feitos, embora os botões no painel sejam uma herança da Peugeot Landtrek e inspirados no modelo 3008. A direção tem dois raios e boa empunhadura, os bancos são confortáveis e a visibilidade lateral é facilitada pelo design dos retrovisores.
O que pode ser um ponto negativo são os comandos elétricos dos retrovisores em uma posição nada ergonômica, assim como o grafismo do quadro de instrumentos, que lembra o do antigo Chevrolet Agile.
Além disso, a interface do sistema multimídia tem um aspecto antiquado, enquanto a tela dedicada ao computador de bordo é pequena, mas colorida.
O acesso ao banco traseiro é facilitado pelo bom ângulo de abertura das portas. No banco de trás, a inclinação do encosto é confortável para longas viagens e há saídas de ar dedicadas, ganchos atrás dos encostos frontais e uma tomada para carregar smartphones.
A caçamba da Titano mede 1,630 metro de comprimento, 1,600 metro de largura e 51,6 cm de altura, com capacidade de carga de 1.020 quilos ou volumétrica de 1.314 litros – semelhante à das rivais médias e superior à da dupla Strada (650 quilos e 844 litros) e Toro (1.010 quilos e 937 litros). Um ponto positivo é o protetor de caçamba e a capota marítima oferecidos de série, enquanto algumas rivais cobram à parte por eles.
Motor de Ducato
O motor 2.2 turbodiesel, emprestado do Ducato, é resistente e fácil de manter, mas o ruído é excessivo, invadindo o habitáculo tanto logo após a partida quanto ao atingir a temperatura ideal de funcionamento. Os propulsores da Chevrolet S10 e da Ford Ranger são menos ruidosos e oferecem um funcionamento mais suave.
A experiência ao volante da Titano é curiosa, tanto pelo lado positivo quanto pelo negativo. Enquanto a Ranger e a S10 oferecem um rodar bem calibrado que minimiza as irregularidades do asfalto, a Fiat Titano pula bastante, principalmente quando descarregada, transmitindo uma oscilação vinda do eixo traseiro.
A Fiat Titano também dá a sensação de desconexão entre a carroceria e o chassi, com a impressão de ser uma ótima picape para a década de 2010. Nas curvas, a suspensão independente na dianteira e o eixo rígido na traseira transmitem uma calibração macia, que faz a carroceria rolar além do esperado e a frente flutuar acima de 120 km/h.
A dinâmica da Fiat Titano não deixa abusar (muito) nas curvas, pois a traseira tem uma tendência a escapar com facilidade, mesmo com todos os controles eletrônicos ativos. A direção assistida hidraulicamente é mais lenta em comparação com as elétricas da Chevrolet S10 e da Ford Ranger.
O câmbio automático de seis marchas, atrelado ao motor 2.2 turbodiesel do Ducato, muda de marcha brevemente ao trafegar em baixa velocidade e hesita ao exigir mais do pedal do acelerador, ficando indeciso sobre qual marcha engatar ou reduzir.
Mesmo assim, estão disponíveis os modos de condução Eco e Sport, que alteram a resposta do motor e do câmbio. No modo Eco, as reações são brandas e focadas na eficiência, enquanto no modo Sport as marchas são esticadas para melhorar o desempenho.
Aliás, a Fiat Titano parece constantemente buscar por desempenho, mas seus 180 cv e 40,7 kgfm ficam abaixo dos concorrentes, como a Nissan Frontier SE (190 cv e 45,9 kgfm).
O pedal do freio tem boa modulação e utiliza discos ventilados frontais e tambores traseiros. Para quem encara o off-road, a Titano supera adversidades com facilidade, devido aos ângulos de entrada (29º) e de saída (27º), à altura livre do solo (23,5 cm) e à tração 4×4 com reduzida, ativada por um comando giratório no console central. A capacidade de imersão é de 60 cm, menor que os 80 cm da Ford Ranger, por exemplo.
Veredicto
Fazendo uma analogia, a Sega, mesmo com toda sua expertise, não conseguiu emplacar o console Dreamcast, apesar de seu hardware poderoso à época. A Titano pode seguir um caminho semelhante, mesmo com toda a tradição da Fiat no segmento de caminhonetes.
Embora a Titano não se destaque no asfalto, ela se comporta melhor no off-road, sendo uma tentativa da marca de competir no mercado de caminhonetes médias, mas que fica aquém das rivais em termos de projeto e experiência de condução.
Para quem busca uma caminhonete para trabalho pesado, a versão Endurance é uma boa alternativa, especialmente pelo preço. No entanto, a versão Ranch não justifica o investimento adicional. Vale a pena considerar as opções da Chevrolet, da Ford ou da Toyota antes de tomar uma decisão.
O que você achou da Fiat Titano? Teria essa caminhonete média? Escreva a sua opinião nos comentários!