Nem sempre aquele que mais vende é o melhor de sua categoria. Em muitas situações, alguns carros verdadeiramente bons são injustiçados pelo público e ficam apagados no mercado. Mas será esse o caso do Volvo XC40?
SUV compacto de luxo mais vendido do Brasil, o sueco enfrenta concorrentes de peso como Audi Q3, Mercedes-Benz GLA, BMW X1, Land Rover Evoque e Jaguar E-Pace. Para saber se o Volvo XC40 é o SUV compacto de luxo definitivo, avaliamos a versão intermediária Inscription de R$ 234.950.
Melhor divórcio
Nesses 93 anos de história, talvez o melhor acontecido para a Volvo foi ter se divorciado da Ford. Ao ser adquirida pela Geely em 2010, a Volvo finalmente pode mostrar ao mundo seu potencial como fabricante de carros de luxo sem a intervenção de outra montadora para baixar custos.
E é nessa era que surgiu o XC40. Ele é a representação máxima da criatividade sueca, que fica exposta em detalhes. Começa pelo interior que é esmerado, luxuoso e bem feito. O acabamento tem poucas sessões de plástico, há muito material emborrachado e, nessa versão Inscription, uma elegante faixa de madeira contrasta com elementos pretos.
Uma das soluções mais geniais da Volvo foi conjugar as saídas do ar-condicionado com os alto-falantes. Isso liberou espaço nas portas para um porta-objetos gigantesco capaz de levar um notebook e uma garrafa d’água. Tudo isso revestido com carpete para que não faça barulho.
O XC40 ainda tem um lixinho próprio, elegantemente integrado ao console – nunca mais aqueles feios saquinhos de lava-rápido precisarão ficar expostos no interior do carro. Há ainda uma prática divisória de cargas no porta-malas capaz de dividir o espaço de 432 litros em duas partes. Tudo isso com a companhia de ganchos para sacolas.
A cabine ainda traz como elementos de sofisticação uma luz ambiente configurável em várias opções, bancos revestidos em couro bastante macio e carpete grosso por todo piso. Exposta como uma joia, a manopla de câmbio de cristal iluminado é exclusividade da versão Inscription, o que revela seu perfil mais elegante.
Um pouco além do compacto
Espaço interno é uma das grandes virtudes do XC40 frente aos seus concorrentes, em especial ao claustrofóbico Mercedes-Benz GLA. Com 4,42 m de comprimento, 1,87 m de largura e 1,62 m de altura, ele encosta nas medidas do segmento de médios e visualmente parece maior por conta do visual robusto.
O maior benefício desse porte avantajado está no interior. O motorista conta com muitas regulagens para banco e volante, o que permite encontrar a posição de dirigir perfeita. Contudo, condutores mais baixos podem ter dificuldade em enxergar o retrovisor corretamente, que fica posicionado para trás nas portas.
Típico SUV, ele tem posição de comando mais alta e com pernas mais dobradas, sem parecer um cadeirão infantil da lanchonete do shopping, vale destacar. Em longas distâncias, o XC40 não se mostra cansativo, especialmente por conta dos confortáveis bancos que abraçam bem o corpo.
Atrás o espaço para as pernas é generoso, assim como para a cabeça, esse em virtude do teto alto e do formato caixote do XC40. Ele conta com saídas de ar individuais para quem senta atrás e descansa-braço com diversos recursos. O único porém é a curvatura do vidro lateral que torna a visibilidade de quem senta atrás um pouco ruim.
Vitrine da tecnologia
Um dos grandes chamarizes dos atuais Volvo está na tecnologia. E como não poderia deixar de ser, o XC40 Inscription é recheado delas. Ele traz uma ótima central multimídia, fácil de usar e com tela de definição boa. Seu único defeito é exibir o Android Auto e o Apple CarPlay em corte, tornando a visualização pequena.
O ar-condicionado digital de duas zonas fica conjugado a essa tela, mas tem comandos fáceis e com botões grandes para que a distração no trânsito seja mínima. Requer costume, mas não atrapalha como em outros carros.
Há ainda painel de instrumentos totalmente digital com mapa na parte central. Um dos pontos interessantes é que ele exibe algumas construções em 3D. Por lá também são exibidas informações como velocidade da via e distância até o próximo radar.
Como segurança é a palavra número 1 da Volvo, o SUV compacto conta com piloto automático adaptativo com controle da direção pelo sistema de monitoramento de faixa. Na prática, o XC40 dirige praticamente sozinho e mesmo em ruas com marcação ruim ou asfalto gasto, ele consegue se manter seguro na trajetória.
Há ainda frenagem autônoma de emergência (um tanto quanto precavida demais e causadora de dois sustos durante a semana que testei esse Volvo), alerta de tráfego cruzado, farol alto automático e facho direcional, porta-malas com abertura elétrica com sensor de proximidade e câmera de ré com alta definição, mas lente tão aberta que chega a confundir nas manobras.
Serenidade e conforto
Enquanto seus rivais X1 e GLA pendem para o lado esportivo da sigla SUV, o Volvo XC40 é voltado para o conforto. Ele tem rodar suave e silencioso, com excelente absorção das imperfeições do asfalto e pouco ruído vindo dos pneus, mesmo acompanhados de rodas de 19 polegadas e pneus de perfil médio.
A direção é leve nas manobras e pouco transmite do que acontece no asfalto, combinando com sua proposta mais voltada a uma condução relaxada. Já a suspensão está mais parecida com a de um sedã do que de um SUV. Em buracos o XC40 reclama e faz barulho, mas a carroceria fica firme e estável em curvas mais fortes ou na estrada. É notável a solidez do conjunto e como o Volvo anda macio.
Debaixo do capô reside um plurivalente motor 2.0 quatro cilindros turbo de 190 cv e 30,6 kgfm de torque. Não é aquela explosão de potência ou de ânimo – nem de consumo, pois segundo o INMETRO o XC40 faz 9,5 km/l na cidade e 11,9 km/l na estrada. Algo que é ok para a categoria. Vale um pênalti para a Volvo por registrar no computador de bordo o consumo em litros a cada 100 km, o que exige contas do motorista para saber o quanto o SUV está gastando.
Não significa, porém, que não seja um conjunto eficiente. Afinal, a integração entre o 2.0 turbo e a transmissão automática de oito marchas é afinada. O XC40 retoma rápido quando necessário e ganha velocidade com pouco esforço e ou fazendo com que transmissão relute para baixar uma ou duas marchas.
Na cidade, ele trabalha com rotação baixa para manter o silêncio à bordo, mas sem que o motor seja forçado a praticamente rodar no mesmo nível da marcha lenta como alguns rivais fazem. As trocas são imperceptíveis e rápidas, sem trancos mesmo nas reduzidas fortes.
Veredicto
O fato de o Volvo XC40 vender bem é puro mérito de seu conjunto muito bem acertado. Ele tem ótima lista de equipamentos, espaço interno farto, é seguro, confiável, bem acabado e bonito. Não vai ser o SUV que vai te empolgar ao volante, pois a pegada é o conforto.
Para as situações do dia-a-dia, onde andar a mais de 60 km/h é um privilégio, o XC40 comprova que o conforto fala mais alto. Isso não significa que na hora de acelerar ele vai passar vergonha, mesmo que essa não seja muito a sua praia. Em suma, considerando todos os seus rivais diretos, o XC40 se destaca por entregar verdadeiramente muito mais.
>>Avaliação: Volvo S60 T8 R-Design é canivete sueco melhor que os rivais