Escolher um carro requer alguns sacrifícios. Para ter economia de combustível, é preciso abrir mão de performance. Para ter dirigibilidade esportiva, o conforto tem que ser deixado de lado. Mas, vez ou outra, alguns carros conseguem equilibrar essa equação de maneira surpreendente, como é o caso do Volvo S60 T8 R-Design.
Ele é como um canivete, dos melhores suíços, mas como a Volvo é da Suécia, vamos mudar um pouco a origem desse aparato. É do tipo de canivete caro e refinado (R$ 295.950 na versão R-Design), mas bastante prático e que serve para quase todas as situações, sem contar a elegância ímpar.
Brownie com sorvete
Há um grande contraste entre os números do Volvo S60 R-Design e como ele se comporta na prática. São 407 cv e 65,3 kgfm de torque providos pela combinação do motor 2.0 quatro cilindros turbo de 320 cv e o motor elétrico de 87 cv instalado na traseira.
Com tamanha cavalaria, era de se espera que o Volvo S60 fosse do tipo de carro sedento por suco de dinossauro. Mas não. Durante nossos testes em que rodamos 900 km com um tanque de gasolina, o Volvo apresentou consumo médio de 19,2 km/l quando o motor a combustão estava funcionado, já que o contador fica congelado quando ele roda somente na eletricidade.
É como se você pudesse comer um delicioso brownie com sorvete e todas as outras porcarias associadas sem que isso fizesse você ganhar uma grama de gordura ou entupir suas artérias. Pois além de muito econômico, ele também é rápido. Graças ao motor elétrico, o S60 tem torque forte ao primeiro toque do acelerador.
Em modo Power, ele utiliza de toda sua força para fazer suas costas colarem nos banco esportivo revestido de couro e tecido de maneira violenta e prazerosa. São míseros 4,4 segundos para atingir os 100 km/h enquanto o motor 2.0 ronca com uma sonoridade instigante raramente encontrada em híbridos.
Mas se você quer tudo de maneira pacata e gastando o mínimo possível, o Volvo S60 também entrega essa pegada. No modo Pure, ele prioriza o uso do motor elétrico ao máximo, reduz o consumo e até a força do ar-condicionado. Com carga completa das baterias (feita em cerca de 3h em um carregador wallbox), ele completa 45 km.
Nesse modo as acelerações são mais suaves e o motor a combustão só entra se for extremamente necessário. Impressiona o silêncio à bordo de todo conjunto, até dos duros pneus run-flat. E não há sensação de falta de força para os ciclos urbanos e até para ultrapassagens.
Tudo de si
Um ponto de diferencial dos Volvo híbridos é a maneira com que ele gerencia o uso da eletricidade e da combustão. Mesmo em modo Hybrid normal, o S60 usa o motor elétrico a todo o tempo até que sua carga esgote. Quando isso acontece, o motor 2.0 entra em ação sem carregar as baterias.
Para que elas voltem a ser alimentadas, é preciso acionar a função charge na central multimídia que é capaz de revolver até 25 km de autonomia elétrica. O freio regenerativo e a função B do câmbio automático de oito marchas também ajudam a recuperar energia.
É interessante notar também que, mesmo quando a carga das baterias já se esgotou, o S60 desliga o motor a combustão no momento em que o motorista tira o pé do acelerador, tudo de maneira suave e imperceptível. Na estrada, isso permite manter uma velocidade constante por quilômetros por conta da inércia, o que ajuda a deixar o sedã ainda mais econômico.
Sem dorflex
Nessa categoria de sedãs de porte médio-grande, onde está o Volvo S60, é comum que modelos com apelo esportivo tenham suspensão bastante dura e firme, o que piora com o uso de pneus run-flat. Rivais como Mercedes-Benz Classe C, BMW Série 3 e Audi A4 seguem por essa tocada, algo que o Volvo surpreendentemente não compartilha.
Apesar de ser a versão R-Design com acerto de suspensão mais firme e rodas grandes de 19 polegadas em pneus 235/40 R19, o S60 entrega um meio termo entre firmeza e conforto. Ele é comportado em curvas sem desgarrar muito de frente ao mesmo tempo em que mantém a carroceria estável e confortável em estradas e ruas mal cuidadas.
Não vai ser o sedã mais confortável da categoria, nem o que é referência em comportamento dinâmico nas curvas, mas tem uma dose equilibrada de esportividade e conforto que fazem com que o S60 R-Design seja um carro extremamente utilizável no dia-a-dia sem sacrifícios como raspar a frente em lombadas ou exigir um dorflex para a coluna no final de uma viagem, como alguns rivais fazem.
Jogo mais alto
Lá dentro o Volvo S60 mostra que ele joga um pouco mais alto que seus concorrentes. O acabamento é esmerado e bem cuidado em cada detalhe. Há muito couro e materiais macios ao toque por portais, painéis e superfícies em que as mãos podem encostar. No volante e na manopla de câmbio, o couro tem toque aveludado que ajuda a dar mais sensação de refinamento.
A posição de dirigir é baixa e horizontalizada, fazendo com que as pernas fiquem bastante esticadas, o que compromete o espaço traseiro no caso de motoristas mais altos. Outro ponto que rouba o espaço de quem senta atrás é o túnel central alto por conta da colocação das baterias do conjunto híbrido.
Destaque tecnológico vai para a central multimídia que tem tela de ótima definição, comandos fáceis e precisos e usabilidade intuitiva. Ainda é ruim ter todos os comandos do ar-condicionado concentrados na tela, mas é algo que o costume torna corriqueiro. O bom é que há comandos físicos para o rádio bem à mão do motorista.
Há também painel de instrumentos totalmente digital com gráficos elegantes e informações completas, salvo pela terrível mania da Volvo em deixar o consumo em litros por 100 km ao invés do clássico km/l que usamos no Brasil.
O sedã ainda conta com piloto automático adaptativo com assistente de manutenção em faixa, o que o torna um carro praticamente autônomo. Ele não é capaz de fazer curvas muito complexas ou ler faixas de trânsito excessivamente desgastadas. Contudo, o sistema funcionou perfeitamente mesmo à noite debaixo de forte chuva.
Há ainda alerta de tráfego cruzado que provocou dois sustos nesse que vos escreve. Em uma delas, ao sair da garagem, vendo um carro se aproximando pela lateral, o Volvo achou que continuaria acelerando, emitiu um alerta e freou com toda força, jogando minha cabeça para a frente.
Veredicto
No segmento de luxo, é difícil que alguém tenha apenas um carro, mas se essa for uma necessidade, o Volvo S60 T8 R-Design é um dos raros casos de um modelo que supre diversos usos. Ele é esportivo de andar, mas suficientemente confortável para tornar horas atrás do volante algo sem sacrifícios.
É econômico, mas tem potência de sobra – e ainda por cima pode rodar até 45 km sem poluir o meio ambiente ou gastar uma gota de combustível. Elegante, refinado e muito bonito, o S60 não é somente uma alternativa viável à tríade Classe C, Série 3 e A4, mas sim um modelo que, em muitos aspectos, está acima deles.
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