Apesar de ser um segmento que demora mais tempo para ter renovações e novas gerações, as picapes médias têm evoluindo com força nos últimos anos. Cada vez mais urbanas, mas ainda mantendo vocação para o trabalho e off-road, elas se sofisticaram em todos os sentidos. Mas será que a Nissan Frontier chegou nesse equilíbrio?
Lançada globalmente em 2015, essa geração da picape média é mais nova que as rivais Chevrolet S10 (2012), Ford Ranger (2011) e empata com a Toyota Hilux. Contudo, ela não se modernizou como elas e apresenta ainda uma pegada mais old-school, como as picapes de antigamente. E a reestilização para o Brasil ainda por cima atrasou.
Um dos pontos em que isso fica mais evidente é ao volante. A Frontier não traz direção elétrica. Em seu lugar está um sistema hidráulico que deixa o volante excessivamente lento e desnecessariamente pesado nas manobras. Em movimento o peso fica adequado, mas continua precisando de mais voltas que a concorrência.
Ela também chacoalha mais que suas principais rivais na cidade. Mais por culpa dos coxins que ligam a carroceria ao chassi do que pela suspensão. É que a Nissan Frontier tem layout multilink na traseira, não feixe de molas como o restante da categoria. Isso garante menos movimentações da carroceira e maior estabilidade em curvas. Mas ela ainda é uma das que mais pula.
Por conta da direção lenta e da carroceria chacoalhante, a Frontier não vai tão bem nas curvas comparado à outras picapes médias. Os pneus de asfalto 255/70 R16 tendem a cantar sem cerimônia, enquanto a traseira começa a desgarrar no limite. Não que picapes tenham de andar como esportivos, mas Amarok e Ranger (em especial a Black) são melhores nesse quesito.
Ainda assim, o conjunto transmite robustez em terrenos acidentados e na buraqueira na cidade. Sem medo a Frontier encara um off-road, mas seu melhor habitat é a estrada. A suspensão mantém a carroceria no lugar e não há grandes influências de vento ou relevos em velocidades mais altas. Ela transmite segurança nessa situação.
Dois é mais
Como agora a Volkswagen Amarok tem somente versões V6, a Nissan Frontier se tornou a única da categoria com motor biturbo diesel. Trata-se de um 2.3 quatro cilindros diesel de 190 cv e 45,9 kgfm de torque.
Evidentemente robusto e com boa entrega de força, o motor ascende em rotações mais altas quando o segundo turbo entra. A picape média ganha velocidade com facilidade e sem fazer o som do motor invadir demais a cabine.
Há de creditar também o bom acerto da transmissão automática de sete marchas. Ela tem trocas suaves em todas as situações e entende com facilidade a intenção do motorista em acelerar mais ou privilegiar consumo. Ela não titubeia para reduzir marchas rapidamente ou fazer trocas ascendentes.
A única questão fica para o modo manual, que sempre joga marchas abaixo da anterior, quase como se entrasse em uma função Sport. A falta de borboletas atrás do volante também atrapalha. Na estrada ela costuma alternar entre sexta e sétima marcha, a depender do ritmo e tocada, privilegiando sempre o consumo.
Um dos toques interessantes que a Nissan deu à Frontier nessa geração foi o painel de instrumentos com medidor de consumo. Todas as vezes que você estacionar a picape, ela mostrará um gráfico de consumo com a média do trajeto e o melhor resultado até então. Ajuda o motorista a ter noção de seus gastos e da performance da picape média.
March e Kicks
Por dentro fica evidente o peso da idade da Nissan Frontier. Enquanto as rivais se renovaram pelo menos duas vezes ao longo desses anos, ela permanece igual. O visual é verticalizado, como era moda na década passada. Além disso, o acabamento é simples, com plásticos semelhantes aos vistos no March e no V-Drive.
Os encaixes são bem feitos, mas fica evidente que falta um pouco mais de esmero no aspecto geral do conjunto. O volante veio do falecido Sentra, mas combina com a picape. Já as saídas de ar laterais parecem as mesmas usadas pelo V-Drive e não conversam com o estilo geral.
Mas não há de todo um mal na cabine da picape. Ela conta com um ótimo painel de instrumentos analógico com computador de bordo completo. É fácil de ler, tem diversas funções e pode ser controlado pelo volante. Que, aliás, não tem regulagem de profundidade – um vacilo bem grande para um carro de mais de R$ 200 mil.
A central multimídia merece elogios pela qualidade e tamanho da tela, rapidez do sistema e por ter botões físicos que facilitam e a vida. Os menus são datados e vez ou outra confusos, mas como todos usam o Android Auto e o Apple CarPlay, isso não tira o brilho do sistema.
Uma derrapada da Frontier na parte da frente é o console central. Ela conta com um raso espaço para o celular, que facilmente sai voando em uma acelerada mais forte ou curva com um pouco de velocidade. Os nichos nas laterais não resolvem muito as coisas
Além disso, os botões de vidros e espelho na porta não são iluminados (só o do motorista). Outro privilégio daquele que dirige é que o vidro tem função um toque somente para descer. A subida se faz necessário segurar o botão. Em compensação ela conta com saída de ar para o banco traseiro e um prático descansa-braço.
Destaque para os bancos com tecnologia Zero Gravity, a mesma usada no Kicks. Eles são exemplarmente confortáveis e permitem ao motorista dirigir por horas sem dores na lombar. Tem bom suporte lateral e o couro usado no revestimento é de qualidade.
Generosidade
Custando R$ 221.330, a Nissan Fronteir XE é mais barata que todas as suas rivais equivalentes. A versão é o último passo antes da topo de linha, concorrendo assim com Ford Ranger XLT (R$ 234.990) e Toyota Hilux SRV (R$ 231.490).
A lista de itens de série é completa com faróis de LED com acendimento automático, banco do motorista com regulagem elétrica, ar-condicionado digital dual-zone, chave presencial, retrovisores elétricos com rebatimento, sensor e câmera de ré (com definição ruim, diga-se de passagem), bancos revestidos de couro e central multimídia.
Veredicto
A aposta da Nissan com a Frontier XE é no custo-benefício. A picape média traz lista de itens de série tão generosa quanto as rivais, mas com preço mais de R$ 10 mil abaixo. Evidentemente robusta e com bom conjunto mecânico, ela entrega um bom conjunto no geral.
Ainda assim, parece atrasada em alguns anos frente às outras médias na hora de dirigir. A direção pesada e lenta já foi abandonada pela concorrência há anos. Além disso, o comportamento saltitante já não é algo tão apreciado assim na categoria. Isso sem contar o interior com acabamento simples demais para a faixa dos R$ 200 mil.
No âmbito geral, fica justificado o motivo pelo qual a Nissan Frontier é uma das picapes lanternas do segmento. Ainda que ela merecesse vender mais. Evidente o quão urgente se faz a reestilização da picape, descartada para chegar ao nosso país em 2021.
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