Quando avaliei o Toyota SW4 em junho de 2022 aqui no Auto+, havia ressaltado todo o fetiche que ronda o SUV de sete lugares. É um carro bom, mas caro demais e que já mostra sinais da idade. Só que segue como referência na categoria vendendo mais do que o dobro de rivais como Mitsubishi Pajero Sport e Chevrolet Traiblazer.
Mas sempre que ando no SW4, fica aquele sentimento de que o carro não vale o tanto que cobra, mesmo mal que sofre o Trailblazer. Seria um mal da categoria ou o Mitsubishi Pajero Sport seria diferente? Para responder a essa pergunta, levei o SUV japonês para uma viagem de carnaval com seis pessoas a bordo e 1.100 km rodados ao longo de dez dias.
Casa 4
Por R$ 411.990, o Mitsubishi Pajero Sport é R$ 26.650 mais caro que o Chevrolet Trailblazer, porém é R$ 8.100 mais barato que o SW4 Diamond – nem considerei o SW4 GR-S porque tem pegada mais esportiva. O agravante para o SUV da Mitsubishi é ser importado da Tailândia, enquanto o Trailblazer é brasileiro e o SW4 vem da Argentina.
Só que em questão de refinamento, ele está bem à frente dos rivais. O acabamento herdado da Triton é bom, mas recebe um incremento a mais no Pajero. Ele recebe puxadores de couro nas portas, console central elevado com revestimento macio nas laterais e mais elementos em preta que ajudam a dar um ar mais refinado.
A presença de freio de estacionamento eletrônico já é uma vantagem grande frente aos rivais SW4 e Trailblazer. O modelo ainda traz painel de instrumentos totalmente digital que é fácil de usar e conta com diversos layouts diferentes. A central multimídia não é um primor, especialmente por conta da tela opaca e sem vida, além de lenta.
Nesse quesito, o Chevrolet Trailblazer segue como referência. Mas a central do Pajero Sport é bem melhor que a do Toyota SW4. Chama atenção a qualidade do couro no volante, que conta com ajuste de altura e profundidade (algo raro na categoria), além dos bancos confortáveis que não cansam mesmo em viagens longas.
Em um clique
Espaço é algo farto no Pajero Sport: tanto que na viagem com seis pessoas e porta-malas lotado, ninguém reclamou de aperto. A fileira do meio tem assentos bem altos, fazendo com que quem tenha mais de 1,85 m de altura raspe a cabeça no teto. A vantagem, contudo, é que as pernas têm mais espaço.
Para quem senta na terceira fileira, o acesso é bem facilitado. Basta puxar a alavanca nas costas do banco do meio que o assento se dobra para a frente e, com a própria força do movimento, já levanta a parte posterior do assento para permitir a entrada com conforto. Há tempos não via um sistema tão fácil.
A única questão é que, para voltar ao lugar, é preciso colocar força extra para o banco travar. O mesmo vale para montar e desmontar a terceira fileira. Toda operação é fácil e leve, mas uma dose extra de arroz com feijão na hora do encaixe é recomendada. Com sete lugares em uso, são 120 litros de capacidade no porta-malas. Já com sete assentos, o Pajero leva 502 litros.
Peso da família
Há um ponto em que o Mitsubishi Pajero Sport é discrepante frente seus concorrentes: motor. O brasileiro parece que determinou que qualquer picape média ou SUV derivado desses modelos precisa ter, no mínimo, 200 cv e 50 kgfm de torque. A meta de força é cumprida pela maioria das marcas, mas não pelo Pajero.
Seu 2.4 quatro cilindros turbo diesel fornece 190 cv e 43,9 kgfm de torque. É menos que os 204 cv e 50,9 kgfm do SW4 e que os 200 cv e 51 kgfm do Trailblazer. E isso é nitidamente sentido com o carro carregado. O Pajero Sport começa a sofrer com bagagem extra e excesso de pessoas, mostrando certa letargia em ganhar velocidade.
O motor entrega bastante torque em baixa rotação para transpor um obstáculo ou no off-road. Mas para a estrada, é perceptível o trabalho da transmissão automática de oito marchas para tirar o máximo possível do 2.4 turbo diesel. Aliás, se não fosse pela belo câmbio automático de oito marchas, esse carro sofreria mais.
As trocas são imperceptíveis, feitas no tempo certo e trabalhando sempre para deixar o motor em rotação ideal. Na estrada, em velocidade de cruzeiro, mantém o giro baixo em oitava marcha. Só que, basta pisar no acelerador para ele puxar a sexta e ganhar o necessário embalo.
O consumo, porém, é comedido. Oficialmente a marca divulga média de 8,9 km/l na cidade e 11,4 km/l na estrada. Com seis pessoas e bagagens, a melhor média foi de 10,6 km/l na estrada – sempre com ar-condicionado ligado. Já sem todo o lastro extra, cheguei a fazer 9,5 km/l na cidade.
Equilíbrio
Uma das questões que mais incomoda em SUVs construídos a partir de caminhonetes com estrutura chassi sob carroceria é o tanto que esses carros pulam. Foi uma recente reclamação na Nissan Frontier que testei, mas o Mitsubishi Pajero Sport é diferente. Claro que não é tão comportado quanto um SUV monobloco, mas surpreendeu.
É possível sentir a oscilação da carroceria e as típicas vibrações vindas desse conjunto, mas ele pula muito menos que o SW4. Viagens longas tendem a ser cansativas, especialmente para quem se senta no fundão, mas mesmo quem esteve lá não reclamou do pula pula típico desse modelo. Ok, só reclamou quando sem querer passei por uma lombada mais rápido do que deveria.
Nessa situação, o Pajero Sport mostrou que seu conjunto é robusto e aguenta o tranco sem a menor dificuldade. Vale lembrar que seu antecessor, o Pajero Dakar, era comumente usado como viatura policial no Brasil. Passar em terrenos ruins com o SUV é tão fácil quanto rodar com um hatch compacto em uma rua de paralelepípedo.
A direção é hidráulica, um retrocesso frente a outros modelos. Só que, ao contrário da usada na Frontier, não é tão dura ou pesada. Tem a calibragem necessária para a brutalidade e robustez do carro, sem tornar as manobras um treino avançado de bíceps. Na estrada, se mantém firme. Só é um tanto quanto suscetível a rebote com ruas esburacadas.
Como resultado, o Pajero Sport tem rodar confortável, silencioso e refinado como o esperado de um carro que cobra o preço que ele tem. Chama atenção a solidez na estrada e a pouca tendência a inclinar nas curvas – em geral, modelos desse tamanho são um grande perigo em curvas fortes.
Mimos para todos
A lista de itens de série do Mitsubishi Pajero Sport é bem recheada. O SUV conta com ar-condicionado digital de duas zonas com comandos individuais para a traseira, “alça pqp” até na terceira fileira, tração 4×4 com opção de uso em alta velocidade, teto solar, frenagem autônoma de emergência, seis airbags e sistema de câmeras 360° (com péssima qualidade).
Há ainda porta-malas com abertura automática, piloto automático adaptativo (que para de funcionar quando o carro para, mesmo que ele faça isso sozinho), alerta de ponto cego, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, faróis full-LED com acendimento automático, banco do motorista com ajuste elétrico, sensor de chuva e retrovisor eletrocrômico.
A central multimídia traz Android Auto e Apple CarPlay, mas conectados via cabo USB. Há entradas USB na primeira e segunda fileira, que ainda traz tomada residencial. O SUV ainda conta com chave presencial, retrovisores com rebatimento elétrico e ajuste elétrico, assistente de partida em rampa e de descida, além de dois barulhos para a seta.
Veredicto
Além de ser o SUV mais bonito da categoria (apesar de suas lanternas escorridas), o Mitsubishi Pajero Sport também se consagra como o melhor para dirigir do trio. Sua construção e refinamento ao dirigir fazem ele parecer um carro 10 anos à frente do Toyota SW4 e do Chevrolet Trailblazer.
Sim, falta potência e torque a ele, mas que são quase compensados pelo bom trabalho da transmissão automática de oito marchas. Dados os R$ 411.990 que a Mitsubishi cobra, o Pajero Sport é um carro caro. Porém, dá mais valor ao seu suado dinheiro do que o Toyota SW4, o grande queridinho dos brasileiros na categoria. Por isso, se cogita comprar um SW4, olhe com carinho para o Pajero Sport. Talvez mude de opção antes do esperado.
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