Carros preferidos das famílias e daqueles que precisavam de mais espaço que um sedã ou um hatch, as peruas não são mais as mesmas hoje em dia. Culpe os SUVs por roubar seu mercado ou a mudança de comportamento dos compradores. Como comprova a Mini Clubman John Cooper Works, espaço continuou como prioridade, mas a esportividade entrou como parte do DNA das peruas.
Tudo começa pelo fato de ela ter seis portas, visual retrô e o mesmo comprimento de um hatch médio. É como se a Mini fizesse questão de deixar a Clubman o mais fora do padrão possível. E é justamente esse um de seus charmes, junto do visual inegavelmente retrô.
Morde e assopra
A versão John Cooper Works revela dois lados antagônicos da perua da Mini. É do tipo de esportivo sem concessão: duro, rápido e barulhento quando quer. Mas sabe ser de uma sublime sutileza nos momentos que o modo Green está ativado.
Só a suspensão que não segue por essa mudança de comportamento: é dura a todo o tempo. Daquele tipo que faz sua coluna desejar um massagista após passar por uma rua de paralelepípedo. E se você tem os R$ 269.990 para comprar a Clubman John Cooper Works, talvez não seja tanto problema assim pagar por um massagista para ter como recompensa o excelente comportamento da perua nas curvas.
A direção é extremamente ágil e comunicativa, até um pouco mais rápida do que o necessário para a potência da Clubman. Combinada à tração nas quatro rodas e à suspensão preparada, é mais fácil que o seu baço se desloque dentro da sua barriga do que esse Mini perca a compostura em uma curva em alta velocidade. Ainda que, apesar de ter nascido com tração dianteira, a perua tenha uma leve tendência a desgarrar a traseira em altas velocidades.
Cânticos ingleses medievais
O motor de 306 vc e 45,9 kgfm de torque possui uma sonoridade única que dificilmente seria atribuída a um motor quatro cilindros 2.0 turbo. Parece mais pela entrega de força praticamente instantânea e soa como mais. É o tipo de sonoridade musical bastante rústica, rouca e escandalosa, mas viciante. Cada estampido do sistema de escape convida para uma nova acelerada e reforça: essa perua não é como a pacata Quantum ou a Weekend que algum parente seu já teve.
Contribuindo para essa dualidade de espíritos da Clubman JCW, a transmissão automática de oito marchas trabalha com extrema suavidade em ambientes urbanos, fazendo as trocas serem praticamente imperceptíveis. Mas experimente o modo Sport.
Nesse regime, cada troca é como um coice, sentido com o movimento do corpo sendo jogado para frente de maneira instigante. Tudo seguido de uma pequena explosão no escapamento que o chama a acelerar mais um pouco. Só não se empolgue demais em vias públicas, por favor.
Coração de mãe
Diferentemente do coração de mãe onde cabe todo mundo, na Mini Clubman as coisas são um pouco diferentes. Há espaço para quatro adultos, desde que um deles não seja alto demais. É mais espaço que em um Cooper ou em hatches médios, mas não espere pelo espaço ibternodinterno farto das peruas de antigamente.
Nem mesmo o porta-malas de 360 litros foge muito do que apresentam alguns hatches. Ao menos a tampa do porta-malas dividida, que se abre como geladeira de rico, acrescenta um charme único à perua. E vale lembrar, há abertura por aproximação dessa charmosíssima porta dupla.
O acabamento era o que se espera de um modelo com raízes BMW: esmerado, de qualidade e com muito material macio ao toque. Os bancos são confortáveis e combinam elegantemente couro, tecido e Alcântara. Além disso, contam com uma boa quantidade de ajustes, pena serem todos feitos de maneira manual, algo raro nesse patamar de preço.
Tecnologia sem fio
Em tecnologia, a Mini Clubman fica devendo em alguns itens. Ainda que tenha Apple CarPlay sem fio, os donos de celular Android terão de se virar sem a conectividade, já que não há Android Auto. Já o GPS nativo é confuso de usar e tem gráficos carregados e poluídos. Mesmo tendo a facilidade de mostrar as direções do GPS no head-up display, admito que desisti de usá-lo e apelei para o bom e velho Google Maps no celular mesmo.
A central multimídia tem tela pequena e carece de recursos, mas tenta compensar com o charme das luzes decorativas que mudam de acordo com a função usada. Ao menos o sistema de som assinado pela Harman Kardon atinge ótimos graves e tem qualidade excelente para os dias que o som do escapamento não for música o suficiente. Em termos de tecnologia fica devendo também piloto automático adaptativo e outros sistemas de auxílio de condução que modelos nesse patamar possuem. Porém, como é um modelo voltado para a experiência de pilotagem, é uma falta que é fácil de relevar.
Conclusão
A Mini Clubman John Cooper Works é do tipo de carro feito para um público bem específico. Ela não abre concessões para ser o que não é ou atingir uma vastidão de clientes como fazem os SUVs. É uma perua individualista, com desenho exótico e esportiva de verdade. Não é o do tipo de carro que te deixa em dúvida. É uma verdadeira afirmação sobre rodas sobre um estilo de vida que só essa perua da Mini pode ter. E aos que podem e querem essa experiência, é um prato exótico, mas muito bem servido.