A internet é cheia de memes. Quer seja de uma socialite carioca que grita frases aleatórias ou de crianças se sentindo adoráveis, tudo no Brasil vira meme, até os carros. Prova disso é que basta abrir as redes sociais para ver algum vídeo de um Jeep Renegade atolando ou alguém blasfemando o chamando de Fiat Uno gordo.
Até mesmo aquele clássico meme de Renata Vasconcelos no Jornal Nacional ao dizer “xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente” já foi atribuída ao Jeep diversas vezes. Tudo bem que chocha, capenga, manca e anêmica era, de fato, a performance do modelo com motor 1.8 flex, mas frágil e inconsistente ele jamais foi. E o Renegade 2022 Trailhawk de R$ 164.136 mais do que prova isso.
O que faltava
Apesar da inveja das redes sociais, o Jeep Renegade é o SUV compacto mais vendido do Brasil há anos. Vez ou outra até mesmo o SUV mais vendido do país, como aconteceu no ano passado. Se o mercado compra bastante, um bom indicativo já é. Mas fato é que faltava ao Renegade a força.
E isso foi resolvido com o novo motor 1.3 T270 quatro cilindros turbo flex. Adeus 1.8 gastão e manco, olá motor turbo de 185 cv e 27,5 kgfm de torque. Potência e torque não faltam mais, mas o consumo…bom, ele segue gastão. Durante nossos testes com 100 km de trilhas e trechos divididos entre 50% cidade e 50% estrada, ele marcou média de 6,9 km/l.
O resultado foi evidentemente piorado por conta da trilha, onde marchas altas são usadas e a tração 4×4 é engatada boa parte do tempo. A Jeep, porém, divulga médias de 6,3 km/l na cidade com etanol e 7,6 km/l na estrada com o mesmo combustível. Essa sede alta se da por conta da potência elevada: se tivesse ficado com suficientes 160 cv, beberia menos.
A vantagem, contudo, está nas acelerações vigorosas e fortes, tanto que você não sentirá falta do motor diesel que o Renegade tinha. O torque é farto e disponível a todo tempo, ainda que o câmbio entregue uma certa demora nas respostas para fazer o motor acelerar. Mesmo com 1.643 kg, o Jeep virou um canhão tal qual seu primo Citroën C4 Cactus THP.
Nova combinação
Esse motor já era conhecido em outros modelos como Compass, Commander e Fiat Toro, mas o Renegade trouxe a inédita combinação à transmissão automática de nove marchas. Esse câmbio, até então, era usado somente nos modelos diesel da Stellantis e migrou para o Renegade flex 4×4.
A combinação é mais bem acertada que a caixa de seis marchas dos demais modelos. Trabalha com suavidade extrema e trocas cedo que fazem melhor aproveitamento do torque em baixa do motor turbo. Ele só mantém a típica mania de segurar a segunda marcha (já que a primeira funciona como reduzida) e dar um tranco na troca para a terceira.
Com esse conjunto, e o barulho mais áspero e grave do motor 1.3, ele até lembra bastante o comportamento do diesel com a vantagem de menor vibração. Por falar nisso, o Renegade realmente se aproxima da aura de quase premium que a Jeep tenta passar. A carroceria é muito isolada e o silêncio a bordo reina na cabine.
Esse bom isolamento e sensação aveludada ao rodar que traz ao Jeep Renegade uma sensação de maior sofisticação. Junte isso à suspensão perfeitamente calibrada e entenderá o motivo pelo qual ele parece (e é) mais carro que muitos concorrentes. A suspensão é macia e confortável, mas não deixa ele bobo nas curvas, surpreendentemente.
O Renegade encara curvas como um hatch aventureiro, nitidamente mais alto, mas não bobo e chacoalhante. Ao mesmo tempo em que encara a buraqueira da cidade e até passa por cima das lombadas (sem querer) como se nada tivesse acontecido.
A culpa não é dele
Uma das grandes piadas (maldosas) com o Renegade nas redes sociais é que ele atola. E sim, ele fará isso se você resolver fazer off-road com o modelo 4×2. Isso é óbvio e acontecerá com qualquer carro desse tipo. Mas experimente colocar o Trailhawk nas trilhas. Jeep Wrangler tem até orgulho dele.
O Renegade 4×4 é como o Suzuki Jimny: pode não ter tamanho de gente grande, mas sobra em valentia e robustez.
O SUV compacto encarou lamaçal e terrenos difíceis com a mesma tranquilidade na qual procura uma vaga no shopping. Valetas fundas fizeram a carroceria descer e uma das rodas ficar suspensa, mas o sistema de tração entrou sozinho e lidou com a bagunça.
A Jeep deixa um acionador no console central com opções Automático, Sport, Lama, Areia, Neve e Pedra (esse exclusivo do Traihawk). Além disso, a tração pode ficar em 4×4 automático (acionada somente sob demanda), 4×4 ativo a todo o tempo ou 4×4 com reduzida. Mesmo rodando em superfícies castigadas, ele se manteve sereno e íntegro.
Referência
No que a Jeep sabe que é referência, ela não mexeu: acabamento. O interior do Renegade é praticamente idêntico ao que ele tem desde 2015. O acabamento é bem cuidado, com muitas superfícies macias ao toque e encaixes bem feitos. O visual é robusto e combina com a imagem do Renegade, mas começa a ficar datado.
Prova disso é que o novo volante, herdado de Compass e Commander, não parece encaixar ali. Ele destoa do visual da cabine do modelo, ainda que conte com couro de excelente qualidade. O painel de instrumentos digital com tela menor do que a dos irmãos maiores é compartilhada com os primos Fiat Toro e Pulse, mas com grafismos próprios e boa definição.
A central multimídia é nova, com bordas novas e tela de melhor definição. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, além de comandos físicos na parte inferior que ajudam muito na hora do trânsito. Destaque ainda para o carregador de celular por indução que conta com uma saída de ar para evitar o superaquecimento do celular.
Apesar do ótimo acabamento, a cabine continua apertada, afinal, o Renegade apenas foi reestilizado. Na frente há espaço para todos e regulagens fartas, tanto de volante, quanto de bancos, para encontrar a melhor posição. Atrás, porém, quem se senta lá sofre no espaço para as pernas, mas tem área boa para cabeça e ombros. Teto solar (opcional) agrega requinte e luz.
Por falar nisso, a versão Trailhawk é bem recheada. Por ser a topo de linha, traz faróis e lanternas full-LED, luz de neblina, ar-condicionado digital de duas zonas, seis airbags, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e de descida, monitoramento de pressão dos pneus, indicador de fadiga, alerta de ponto cego e frenagem autônoma de emergência.
Conta ainda com sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, bancos revestidos em couro, retrovisores elétricos, sistema start-stop, chave presencial, sistema de manutenção em faixa, alerta de tráfego cruzado, assistente de farol alto, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva e freio de estacionamento elétrico.
Visual e funcional
Reestilizado pela segunda vez, mas agora pelas mãos do time brasileiro da Jeep, o Renegade manteve sua essência. E isso é parte do seu poder cativante. Ele é um SUV com cara de SUV mesmo: carroceria quadrada e robusta e um jeito bruto de ser. Sua homenagem ao Wrangler está nos detalhes e no formato básico.
Ele tem muita personalidade própria e que foram ressaltadas na reestilização. O para-choque ficou mais robusto com a grade frontal de sete fendas sendo levemente cortada na parte inferior. Os faróis tem nova cobertura plástica que os fizeram diminuir de tamanho. Já a traseira tem novas lanternas não mais parecidas com as do Renault Duster.
A versão Trailhawk vai um pouco além com imitação dos ganchos vermelhos na dianteira, rodas de liga-leve pretas com parte externa diamantada, teto preto, adesivos nas laterais, suspensão mais alta e detalhes em cinza nos para-choques, que são mais recuados que das demais versões. Por dentro, detalhes em vermelho e logo Traihawk nos bancos e painel.
Veredicto
Com a reestilização, a Jeep reforçou os atributos visuais do Renegade, ao mesmo tempo em que deu a ele o motor que merecia. Ainda bebe mais do que deveria? Sim, mas agora anda mais que a média do segmento e se tornou o SUV compacto mais potente do Brasil, tanto que o diesel não faz mais tanta falta. E por R$ 164.136, ele até pode não ser o SUV 4×4 mais barato do mercado, mas é o mais valente entre os de porte compacto.
O Jeep Renegade não é o líder dos SUVs compactos há anos sem motivo. Seu problema era a falta inegável de força nas versões flex e a bebedeira a níveis Zeca Pagodinho, agora resolvidos com o novo motor.
Ele é um modelo robusto de verdade, com visual único e cheio de personalidade, prazeroso de dirigir e com acabamento que flerta com o segmento premium. Só falta agora os donos inconsequentes das versões 4×2 entenderem que para fazer as trilhas que eles desejam é preciso pular para o Renegade 4×4. Esse sim, um verdadeiro SUV em todos os sentidos.
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