Em termos de produto, a Ford vive seu melhor momento hoje no Brasil. A Ranger é, inegavelmente, a melhor caminhonete média, Bronco e Maverick são ótimos produtos onde estão posicionados, o Mustang é um ícone e a Transit finalmente está vendendo bem. Mas o Territory era aquele que destoava absurdamente do restante da linha.
Percebeu que usei o verbo no passado, isso porque o modelo agora deixou de ser a ovelha negra da família para se tornar páreo aos irmãos. Mas tem um grande problema. Por mais que ele tenha evoluído consideravelmente e deixado de ser um clone do Land Rover Evoque, ele ainda não anda como um Ford. E isso seu lado positivo e negativo.
Menos Yusheng, mais Ford
O primeiro grande impacto do novo Ford Territory está no visual. O modelo, que lá na China até mudou de nome para Equator Sport, deixa de ter linhas clonadas de um Land Rover, para adotar a face da Ford. Na dianteira, ele carrega grade oval ligada por uma barra cromada conectando a parte superior dos faróis.
São linhas bem mais harmônicas e que dão personalidade ao modelo. De lado, o porte mais avantajado deixa clara a evolução. São 4,63 m de comprimento, 1,93 m de largura e 1,70 m de altura, o que deixa o Territory na ponta mais alta do segmento de SUVs médios ao lado do GWM Haval H6.
Já atrás, a Ford deu um toque de Mustang com as lanternas horizontalizadas com um trio de elementos verticais. Além disso, o para-choque conta com friso cinza contornando os refletores. É um carro muito mais bonito que antes e com mais personalidade, definitivamente.
Azul com madeira
Outro elemento que reflete a evolução, é o interior. O Ford Territory tem acabamento bem acima da média, se equiparando ao Jeep Compass e ao GWM Haval H6 em qualidade. Toda a porção superior do painel e das portas, revestida em material azul, é bem macia. Há faixas em couro preto nas portas, console e painel, igualmente macias.
Para dar um charme a mais, ele traz faixas de imitação de madeira e cromo fumê. A combinação de cores pode até parecer exótica, mas a Maverick mistura elementos em azul marinho com marrom e cinza, enquanto o Bronco Sport combina elementos em marrom e cinza. Ou seja, tudo dentro da paleta da Ford.
Só que é justamente na cabine que os elementos contrários à marca do oval azul começam a aparecer. Os botões, hastes de seta e comandos são todos diferentes do padrão da marca. Até o típico barulho de alerta para portas abertas ou outros avisos, não é o típico da Ford. O rotor do câmbio automático até tenta simular o da marca, mas não é igual.
Isso passa a sensação ainda de tratar-se de um carro feito em parceria com uma marca chinesa, não um Ford feito na China. Seria como se Ka e EcoSport, projetos brasileiros, usassem peças de Fiat. Até mesmo o visual da cabine não conversa com os modelos da marca, especialmente por conta da central conectada ao painel de instrumentos.
Espaço latifundiário
Em compensação, o interior é espaçoso demais. Quem senta à frente tem um enorme console central com um gavetão fechado debaixo do descansa-braço, outro porta-objetos grande abaixo do câmbio para quinquilharias, além de bolsões de porta com espaço suficiente até para uma garrafa grande.
Na frente, motorista e passageiro têm bancos com controle elétrico e ventilação. Já quem senta atrás tem a vastidão de espaço para as pernas e cabeças que só carros de projeto chinês sabem fazer. É enorme e faz parecer um carro bem maior. Porta-malas carrega 448 litros e se destaca pela tampa com abertura elétrica e pelo carpete de qualidade usado.
Mas há certos problemas de ergonomia. A Ford colocou quase todos os comandos do ar-condicionado na central multimídia. Os únicos botões físicos do ar são o automático e o controle de ventilação. Mas em um carro com modo automático, o correto seria colocar controle de temperatura e de recirculação de ar como botões físicos.
Temos ainda botões no volante que cumprem função dupla ao ser selecionada através de outro botão essa função. Mas é comum confundir e esquecer da ativação e fazer a maior bagunça. O painel de instrumentos digital tem gráficos com letras pequenas e faltam informações importantes acessíveis o tempo todo, como autonomia.
Já a central multimídia, apesar de rápida, é confusa de mexer e igualmente sofre com menus pequenos que dificultam o uso em movimento e de pessoas mais idosas. O fato de a tela não ajudar o brilho automaticamente com o farol ligado e o seletor de modo de condução também ser em um submenu são dois itens bastante irritantes.
Subida de nível
Se antes o Ford Territory já era bem equipado, o novo modelo foi além. Ele traz de série um dos melhores park assist que já testei, equiparável ao Haval H6, além de assistente de manobra reversa visto muito em carros da BMW. Tem ainda chave presencial com função de destrancar e trancar o carro por proximidade.
A lista engrossa com itens como sistema de manutenção em faixa, frenagem autônoma de emergência, alerta de ponto cego, sistema de câmeras 360°, seis airbags, controle de tração e estabilidade, monitoramento de pressão dos pneus, faróis com acendimento automático e assistente de luz alta, ar-condicionado digital de duas zonas e bancos dianteiros elétricos.
Há ainda central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, volante com regulagem de altura e profundidade, teto solar panorâmico, porta-malas com abertura elétrica, capô sustentado por molas a gás, retrovisor interno fotocrômico, retrovisores elétricos com rebatimento automático e vidros elétricos nas quatro portas.
Uma pedra no caminho
No passado, a dirigibilidade do Ford Territory era insossa e nada memorável, o novo modelo ganhou vida. Seu motor 1.5 quatro cilindros turbo passou por mudanças para ficar mais econômico e mais forte, atingindo 169 cv e 25,5 kgfm. Além disso, trocou a transmissão CVT por uma caixa automatizada de dupla embreagem.
Para muitos, esse será o grande ponto de desistência do Territory. Afinal, Ford e dupla embreagem são palavras que causam arrepios em muitos por conta dos problemas do Powershift. O câmbio do Territory não é o Powershift, mas é o grande problema do SUV médio por conta de seu comportamento ruim.
A transmissão insiste em segurar marcha quando não precisa. É evidente que em subidas, o Territory sofre por estar em rotação mais baixa do que deveria, lutando para vencer uma rampa de estacionamento. É preciso pisar fundo no acelerador para que ele se toque que precisa fazer trocas.
Além disso, as mudanças de marcha são demasiadamente demoradas para um dupla embreagem. É nítido e sentido o momento em que uma marcha é engatada e o engate da próxima. O câmbio demora a responder nos momentos em que precisa, mas consegue manter a rotação baixa na estrada, graças às sete marchas.
Como o 1.5 turbo tem bastante fôlego, o Territory consegue andar em altas velocidades sem medo. Além disso, o acelerador é bem sensível, dando a vivacidade que o modelo precisa…menos na subida. Nos nossos testes, marcou uma saudável média de 9,8 km/l entre cidade e estrada. Oficialmente faz 9,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada.
Falta pimenta
O ponto no qual mencionei no começo do texto em que o Territory ainda não é um Ford não é por conta das peças internas ou até de elementos visuais. A grande questão é a dinâmica. Todo modelo da marca do oval azul tem um certo tempero europeu, sendo carros de suspensão durinha, sempre muito bons de curva e com direção pesada.
Até a F-150 tem essa pegada, mesmo sendo uma jamanta americana. Mas esse comportamento é mais evidente na Maverick e no Bronco Sport. O Territory não, ele é completamente diferente. Voltado ao mercado chinês, ele tem suspensão mole, o que faz dele um confortável transatlântico na estrada.
Contudo, não espere por uma boa desenvoltura nas curvas, onde ele é desengonçado e mostra que seu tamanho generoso o atrapalha. Na direção, temos uma leveza não esperada em um Ford, além de uma falta nítida de feedback. É um carro voltado totalmente ao conforto, o que é ótimo para muitas pessoas. Mas não para os acostumados aos Ford.
Veredicto
Pensando isoladamente como um produto, o Ford Territory antigamente era um carro ok de uma marca chinesa ruim. Um clone de um Land Rover, sem a menor personalidade e ruim de andar. Agora, por R$ 209.990, ele é uma grande pechincha no segmento, especialmente dada sua evolução.
Completo, confortável e de ótimo acabamento, ele agora não é mais discrepante em relação aos seus irmãos presentes na concessionária. Ainda que não tenha a condução típica de um Ford, não deixa de ser um carro verdadeiramente bom – ao contrário da geração anterior. Finalmente dá para levar o Territory a sério.
Você acha que o Ford Territory venderá mais na nova geração? Conte nos comentários.
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