Como jornalista automotivo, meu trabalho é dirigir todo quanto é tipo de carro. Desde um singelo Renault Kwid a um Mercedes-Benz de R$ 2 milhões. É parte da rotina e você se acostuma com os contrastes e em testar modelos que, na teoria são impressionantes, mas não mexem com o coração. Mas o Honda Civic Type-R…
Honestamente? Junte toda sua lista de palavrões e adjetivos que descrevem algo que é muito legal. Isso resume basicamente o que esse carro é. R$ 429.900 é muito para um Civic? Sim. Só ter tração dianteira é ruim? Só se você não experimentar ele na curva. E os 297 cv, não é pouco? Só para os pilotos de Super Trunfo.
Mais do que isso é exagero
Debaixo do capô do Honda Civic Type-R repousa um motor 2.0 quatro cilindros turbo a gasolina com 297 cv e 42,8 kgfm de torque. A potência pode parecer pouco para um esportivo, mas não é. Enquanto o torque é comparável ao das caminhonetes médias diesel que pesam quase o dobro do Civic.
Considere que ele pesa 1.452 kg, ou seja, não muito longe de um SUV compacto, e entenderá como ele chega aos 100 km/h em 5,4 segundos. Só que a diversão só é gigantesca porque a Honda equipou o Type-R com um cambio manual de seis marchas que é o mais próximo da palavra perfeição.
Os engates são muito curtos, extremamente precisos e encaixam como uma luva. Além disso, conta com punta-tacco automático, onde eleva a rotação do motor ao perceber uma redução, evitando trancos e salvando precisos segundos. Sem contar que isso provoca o ronco do 2.0 turbo e gera até alguns estouros de escape.
Essa combinação do conjunto mecânico produz acelerações estúpidas quando o turbo enche e uma visceralidade que há tempos não via em um esportivo. É interessante ver como a Honda usou a tecnologia para auxiliar o motorista, mas ainda torna a experiencia bem analógica.
O consumo oficial é de 8,8 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada. Mas a depender do modo de condução, é possível fazer melhor. Nossas médias marcaram 12,3 km/ na estrada, mas 8 km/ na cidade. Na estrada, mesmo com seis marchas, o giro fica um tanto quanto alto, fazendo o consumo não ser tão bom.
Superbonder de curva
É bastante provável que a engenharia da Honda trabalhe com magia e bruxaria para fazer com que o Civic Type-R faça curvas da maneira que consegue. Mesmo sendo um carro de tração dianteira, ele é extremamente neutro e bem colocado. Nas estradas sinuosas, ele gruda no asfalto e sequer uma cantada do pneu é ouvida.
Em situações extremas, o Civic sai um pouco de frente, mas basta acelerar para que os controles eletrônicos joguem a traseira para fora da curva e ele recupere a trajetória quase como mágica. É verdadeiramente impressionante a quantidade de força G que esse hatch aguenta sem desgarrar.
Mas, claro, uma suspensão assim tem seu lado negativo. O Civic Type-R é bem duro em ruas de asfalto ruim, pulando com certa facilidade e repreendendo o motorista severamente por passar por um buraco ou imperfeição. Além disso, a frente raspa em algumas lombadas mais altas ou rampas de garagem.
A direção é pesada, algo coerente com sua proposta esportiva. É o tipo de peso ideal para conduções esportivas, mas que não cansa no dia a dia ou na hora das manobras. Ela tem reações muito rápidas e o giro de batente a batente é notadamente encurtado para deixar o Type-R ainda mais ágil.
Smurf nipônico
Por si só, o Honda Civic Type-R chamaria atenção pelo visual anabolizado. Mas o tom azul do modelo da frota de imprensa é ainda mais chamativo. O hatch traz para-lamas alargados, capô com saída de ar bem marcada, rodas enormes de 19 polegadas e um aerofólio bem marcante na traseira.
O interessante é que, por dentro, o aerofólio não atrapalha a linha de visão do motorista, mostrando a clara preocupação da Honda com ergonomia em seus carros. Além disso, ele tem para-choque traseiro com extrator de ar e saída tripla de escape, sendo que uma delas está lá só para fazer barulho, quando ativada.
Por dentro, a Honda trouxe carpete vermelho, além de bancos e costuras na mesma tonalidade. O Type-R é ainda agraciado com revestimento de Alcântara nos bancos e console central, trazendo uma esportividade extra. O volante também adota esse material, mas seria melhor couro.
Contraste entre o vermelho de dentro com o azul de fora pode parecer estranho e cansativo, mas faz contexto com o carro. Até porque as zonas mais vermelhas do interior não são recorrentemente vistas pelo motorista ao dirigir. O restante do painel segue a escola Civic, com muito material emborrachado e tons escuros.
Segura em mim
Os bancos merecem um capítulo à parte. Contam com tecido aveludado vermelho que ajuda muito no conforto e, ao mesmo tempo, na dissipação do calor do corpo (duvido não escorrer aquele suor frio na espinha na primeira acelerada com o Civic Type-R).
Os suportes laterais são de ótima qualidade e seguram firmemente o corpo. Atrás, a Honda optou por trocar o assento central por dois porta-copos, restringindo o Civic hatch a quatro passageiros. O espaço aqui é apenas ok, sendo ruim para a cabeça. Mas, como se trata de um carro focado em dirigibilidade, está ok.
Já no porta-malas temos 337 litros de capacidade. A tampa é enorme e facilita a entrada e saída de cargas. Destaque vai para a cobertura retrátil extremamente prática e para a presença de ganchos para que as compras fiquem penduradas e não saiam rolando por aí.
Questões tecnológicas
Como já tem se tornado comum nos Honda, o painel de instrumentos totalmente digital tem ótima leitura e é lotado de recursos. O mesmo vale para a central multimídia — ainda que a do Accord seja melhor, a do Civic tem tela de qualidade, menus fáceis de usar e cheia de funções.
Uma das mais interessantes é o LogR. Esse aplicativo monitora diversos parâmetros do carro, como forca G, angulação de volante, nível de acelerador e freio, além de instrumentação extra, incluindo temperatura de diversos componentes. É possível também salvar dados de volta na pista e comparar depois usando o celular.
O único pecado, mas compreensível em favor da segurança, é que configurações do carro só podem ser ajustadas com o freio de mão eletrônico ativado. A central, vale lembrar, conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, que faz par com o carregador de celular por indução.
Veredicto
Claro que o Honda Civic Type-R é caro demais. Assim como é fato que existem muitos outros esportivos com mais potencia e tração traseira, como manda a cartilha da categoria. Mas basta dirigir de fato esse carro para que toda parte que envolva números seja engolida por uma sensação de êxtase e animação quase primatas.
É impossível não se divertir muito com esse samurai japonês. Assim como não há argumentos contra sua enorme capacidade de fazer curvas e ainda ser usável no dia a dia. Visceral, analógico na medida certa, mas tecnológico na dose certa para deixar a vida mais fácil, esse é um dos melhores esportivos hoje presentes no Brasil.
Você teria um Honda Civic Type-R ou prefere outro esportivo? Conte nos comentários.
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