Faz já uns bons anos que a versão Midnight da Chevrolet compõem o catálogo de seus modelos – especialmente aqueles que estão saindo de linha. A ideia é trazer um visual escurecido, típico de modificações, para a linha de produção alinhado a uma lista de itens de série mais vantajosa. Nessa tocada, temos a Chevrolet S10 Midnight.
Prestes a passar por uma reestilização profunda, a segunda geração da caminhonete média aqui no Brasil traz na versão Midnight uma de suas melhores aparências. A lista de itens de série, contudo, deixa a desejar pela faixa de preço na qual a Chevrolet a coloca. Mas, por R$ 310.100, sua relação custo-benefício deixou de ser atrativa?
Faixa quase superior
Pegando concorrentes em faixa de preço semelhante, a Chevrolet S10 Midnight acaba por se posicionar entre as versões topo de linha das rivais e a imediatamente abaixo. Assim, ela fica em um meio termo entre as Ranger XLT e Limited sem pacote, ou das Hilux SRV e SRX ou ainda no caminho intermediário entre as L200 Triton HPE e HPE-S.
Só que, por ser baseada na versão LT (não na LTZ que cumpre esse papel na gama GM), a Midnight fica devendo em itens de série. Ela não traz itens comuns a essa faixa do mercado, como ar-condicionado digital, banco com regulagem elétrica ou chave presencial (aliás, essa é uma falha grave repetida até na High Country).
A S10 Midnight traz de série ar-condicionado analógico, direção elétrica somente com ajuste de altura, bancos revestidos em couro, vidros elétricos com função um toque em toda as portas, retrovisor elétrico, assistente de partida em rampa, seis airbags, luz de neblina, luz diurna de LED e central multimídia com Wi-Fi, Android Auto e Apple CarPlay via cabo.
Meia noite
Se a lista de itens de série deixa a desejar, no visual da Chevrolet S10 Midnight se destaca (e muito). A picape recebe detalhes em preto em todos os cantos, adotando a coloração nas rodas de liga-leve de 18 polegadas, assim como nos logotipos e em todos os itens que são cromados nas outras versões.
O santantonio de plástico, que estava presente só na High Country, está na Midnight. Ela não tem rack de teto para dar um estilo mais esportivo, mas o estribo lateral faz falta para compor um visual mais completo – tanto que o item estava presente nas imagens de divulgação da caminhonete.
Por dentro temos apliques plásticos em preto brilhante nas portas com o logotipo Midnight e couro escurecido. Só que os detalhes prata, que poderiam ter sido trocados por preto brilhante, fazem conexão com versões mais simples da S10. Isso fica ainda mais evidente porque o logotipo do volante e da chave, inexplicavelmente, permanecem dourados.
Linhas americanas
O acabamento é bom para a categoria, com larga faixa de couro e revestimento de carpete nos bolsões da porta. A parte plástica é bem montada, com texturas interessantes e qualidade a contento. Já o couro do volante e dos bancos é melhor do que a maioria das caminhonetes médias vendidas no Brasil.
Visualmente, contudo, a cabine agrada pelas linhas horizontalizadas modernas. A central multimídia é menor que a da versão topo de linha, mas tem ótima definição, é rápida e fácil de mexer. Tem Android Auto e Apple CarPlay conectados via cabo, mas compensa na presença de Wi-Fi integrado.
Um contraste é com o painel de instrumentos analógico que mostra que a S10 está ficando velha. A tela monocromática central é a mesma do Onix e dos Tracker básicos. Além disso, tem iluminação azul dos tempos do Agile. A caminhonete da Chevrolet merecia algo melhor, especialmente por custar tanto.
Problemas ergonômicos
Só que a S10 tem um seríssimo problema de ergonomia. O volante é completamente torto, como o do Celta. ele não é centralizado com o banco, o que faz com que o motorista fique com os braços deslocados para a esquerda. Além disso, ele também é verticalmente torto, fazendo com que o braço direito fique mais esticado que o esquerdo para dirigir.
Isso compromete totalmente a ergonomia e faz com que dirigir a S10 seja cansativo, especialmente porque, para piorar, o volante não tem ajuste de profundidade e é enfiado no painel. Esse é um ponto no qual a Chevrolet precisa urgentemente corrigir para a reestilização da S10.
Espaço interno é bom, onde passageiros traseiro tem área suficiente para pernas, cabeça e ombros, mesmo que sejam pessoas grandes. Ao contrário da Fiat Toro, o encosto traseiro é mais inclinado e não faz a coluna sofrer muito a longo prazo. Já a caçamba tem tampa leve na descida por conta da mola a gás, mas pesada para subir. Leva 1.061 litros com 1.134 kg.
Força bruta
Robusto e confiável, o motor 2.8 quatro cilindros turbo diesel da Chevrolet S10 Midnight é seu grande destaque. Com 200 cv e 51 kgfm de torque, ele trabalha bem com a transmissão automática de seis marchas. A entrega de torque é farta, fazendo com que essa picape de 2.016 kg acelere de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos.
Em consumo, faz média de 8,3 km/l na cidade e 10 km/l na estrada, segundo a Chevrolet. Contudo, durante nossos testes ela foi mais econômica, marcando 8,5 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada. Lembrando que, por conta do tanque de 76 litros de diesel, ela passa fácil dos 700 km de autonomia.
As retomadas são ágeis e a S10 tem uma nítida predileção por ficar em altas velocidades. Na estrada, ela se destaca pela estabilidade e linearidade da carroceria. Já na cidade, pula mais do que deveria e mostra um comportamento mais bruto do que o de modelos como Ford Ranger e Volkswagen Amarok.
Em compensação, ela é mais firme nas curvas do que a maioria das picapes. Não chega ao nível da Amarok, mas não faz uma curva desengonçada como a Nissan Frontier. Isso faz com que a convivência com a S10 em estradas sinuosas seja relativamente tranquila – colocando, claro, em consideração que ela é uma caminhonete de 5,365 m de comprimento.
O câmbio automático joga marchas mais altas sempre que pode, mas acorda rápido quando uma redução se faz necessária. Contudo, seis marchas já parecem pouco para essa picape, que pede por pelo menos uma sétima na estrada. Direção é elétrica com ótima calibragem, contando com reações rápidas e peso preciso para todas as situações.
Veredicto
Com visual chamativo e verdadeiramente bonito, além de interior com bom acabamento, a Chevrolet S10 encanta pelo que está ao alcance dos olhos. Além disso, anda muito bem sem ser gastona e mostra uma verdadeira robustez que poucas caminhonetes médias tem de verdade nesse segmento.
Só que o preço de R$ 310.100 a coloca em uma faixa muito perigosa: todas as rivais cerca de R$ 20 mil mais baratas contam com muito mais itens de série do que a S10 Midnight. E o pior de tudo: ao lembrar que a Ford Ranger XLT com motor V6 sai por R$ 289.990 e que a Chevrolet já prepara mudanças profundas para a S10, fica difícil defender sua compra.
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