Assim que voltei das minhas três voltas no circuito Velocittá com o Civic Type R, a equipe de imprensa da Honda veio imediatamente ao meu encontro para saber minha reação com o carro. Repetidamente dizia “não dá, não dá”. Estava atônito com o carro que roubou meu repertório de argumentos e palavras (e olha que, como todo jornalista, falo até demais).
Nunca um carro me deixou sem argumentos, mas foram precisos alguns minutos para sintetizar a ideia do que acabara de ocorrer naquela pista. Me recolhi por alguns instantes e pensei: “nem ferrando que isso é um carro de tração dianteira. Não tem como um Civic ficar tão bom assim”. Até que revisei a ficha técnica dele.
Vamos lá: motor 2.0 quatro cilindros turbo de 297 cv e 42,8 kgfm de torque. Transmissão manual de seis marchas. Tração dianteira, como todo Civic sempre foi. Mas como? Como um carro de tração dianteira faz o que ele consegue? Recordo o momento em que fiz uma curva mais fechada com o pé cravado, situação na qual um carro de tração dianteira espalharia a frente.
O Type R não. A traseira escorregou sutilmente, assentou no lugar e permitiu que ele contornasse a via sinuosa em uma perfeição mais absurda que uma catana operada por um samurai feudal. Ele tem uma traseira feliz, que escorrega quando precisa e assenta em acelerações fortes para fazer o hatch esportivo disparar na hora.
Controle de diversão
Se isso já era suficiente para te deixar com o eixo do cérebro um pouco fora do lugar, adiciono à conta a transmissão manual de seis marchas. A Honda sabe fazer um bom câmbio. Com engates curtos, precisos, levemente duros para serem engatados com a força de uma aceleração empolgante: é o máximo que um câmbio manual chegará da perfeição.
Há punta-taco automático, ou seja, quando ele detecta uma redução de marcha, já sobe a rotação para ficar alinhado com a rotação da marcha mais baixa e evitar trancos, além de tornar a operação mais rápida. E se você errar o momento de trocar a marcha, ele avisa com bipes e luzes no painel.
Junto a isso, temos uma direção levemente pesada, mas de respostas rápidas e precisas, com poucas voltas de batente a batente. Tudo para dirigir da maneira mais imbecil que você puder. Isso porque, quando abusado, o Civic Type R te doma com a eletrônica. Ela não corta a diversão, mas sim te ajuda a dirigir melhor com pequenos toques e intervenções.
Ponto certo
Com toda certeza algum piloto de teclado dirá que um carro de 297 cv e 42,8 kgfm de torque não é esportivo ou é manco. Especialmente porque o Mercedes-Benz A45 AMS S entrega 421 cv e 51 kgfm de torque em um motor 2.0 turbo. Mas nem tudo é baseado somente em números.
A potência e o torque do Civic Type R estão em um nível equilibrado. É forte o suficiente para se sentir em um carro rápido, mas não com excesso de potência para que só pilotos de verdade tenham confiança de levá-lo ao limite e abusar do acelerador. É diversão na medida certa. Nem um cavalo a mais, nem um a menos seria necessário.
Carnaval
Coroando essa esportividade, temos o visual anabolizado do Honda Civic Type R. Confesso que o visual mais careta da nova geração acabou por torná-lo mais bonito na versão esportiva. Isso porque ele é menos espalhafatoso, encantando mais pelos para-lamas bombados do que pelo excesso de entradas de ar, como antes.
A cor azul do modelo testado é a cereja do bolo. Mas o interior…A Honda fez um verdadeiro carnaval. O piso é vermelho, assim como os bancos dianteiros, cintos e todas as costuras. Confesso que achei exagerado demais. Além disso, o suede usado nas portas, volante e banco traseiro, que é preto, tem cara de que ficará horrível com o tempo.
Se tivesse um Civic Type R para mim, a primeira coisa que faria seria trocar todo o revestimento interno por couro, de preferência preto com costuras e alguns detalhes em vermelho. O acabamento, como é típico dessa geração, é irrepreensível para um modelo generalista (mesmo que custe R$ 429.900 sem o pacote Traffic Alert).
Veredicto
Ainda que por conta de nossa profissão tenhamos a oportunidade de dirigir carros fantásticos às vezes, são poucos os que mexem com nossa criança interior. A última vez que isso me ocorreu foi com o Mazda Miata e agora com o Honda Civic Type R. Sim, já andei em carros muito mais potentes, fortes e rápidos que ele, até mais viscerais.
Só que o Civic Type R mexe com algo diferente: é um esportivo na mão, com níveis reais de potência e torque, além de uma eletrônica educativa, não punitiva. É feito para que você se divirta indo à padaria, não somente quando consegue andar em uma estrada sinuosa sem ninguém ou em uma pista de corrida.
Pena que R$ 429.900 (ou R$ 434.900 com pacote) ainda estão muito longe do meu orçamento. Porque, sinceramente, se tivesse essa grana, estaria correndo para uma concessionária da Honda agora pedir um Civic Type R azul – ou será que com esse dinheiro eu poderia importar um Mazda Miata ND? Dúvida cruel.
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