Fiat Cronos Drive [Auto+ / João Brigato]

Vamos ser sinceros, o Fiat Grand Siena já estava cansado e o Cronos já poderia o ter substituído há muito tempo. Mas a decisão da Stellantis sempre foi posicionar o modelo um degrau acima, por isso nunca ofereceu motor 1.0 aspirado. Até que o ano virou e a lei obrigou o Siena a morrer. Era a oportunidade que o Cronos estava esperando.

Se o Argo sempre se deu muito bem no mercado com motor 1.0, nada mais justo que seu irmão sedã também se aproveitar disso e ganhar mais espaço no segmento. Por isso, na linha 2023 a Fiat deu duas novidades bem mais importantes ao sedã do que o segundo bigode cromado: transmissão CVT com motor 1.3 (já testado aqui no Auto+) e motor 1.0 aspirado.

Com projeto bem mais moderno, acabamento referência na categoria e visual bonito, mas que merecia uma atualização, o Fiat Cronos 1.0 é não somente um substituto com muito mais qualidade que o Grand Siena, mas um ótimo carro para Uber. Além disso, ao custar R$ 84.490, se torna um belo atrativo.

Além do kit dignidade

Para chegar a esse nível de preço, a Fiat colocou o Cronos Drive com uma lista enxuta de itens de série. Mas ele vai além do kit dignidade com ar-condicionado, direção elétrica, além de vidros e travas elétricas. A versão Drive ainda conta com chave canivete, alarme, monitoramento de pressão dos pneus e banco do motorista com ajuste de altura.

Há ainda sensor de ré, mas o volante só ajusta em altura, devendo profundidade. Já a central multimídia, item de série, traz Android Auto e Apple CarPlay somente com conexão via cabo. O que a Fiat deu mancada foi em colocar itens de segurança como opcional por R$ 1.978. O Pack Safety traz controle de tração e estabilidade, além de assistente de partida em rampa – itens que deveriam ser de série.

A versão ainda traz como opcional o kit Drive Plus por R$ 2.972, mas que não equipava o Cronos que testei. Nesse caso, incluiria retrovisores elétricos com repetidor de seta, sensor de temperatura externa e rodas de liga-leve de 15 polegadas.

E ah, vale lembrar que as cores são cobradas a parte: R$ 1.978 pelo Prata Bari da unidade testada. Valor pedido também pelo Cinza Silverstone e Branco Alaska. As cores sólidas Vermelho Montecarlo e Branco Banchisa são vendidas por R$ 984 extras. A Fiat só não cobra pelo Preto Vulcano.

Pontos de contato

Apesar de a lista de itens de série ser enxuta, o Fiat Cronos não parece tão básico assim. O interior tem acabamento com qualidade acima da média da categoria, com bons encaixes e plásticos de qualidade. Únicos indícios de simplicidade é que ele abre mão de revestimento de tecido nas portas ou couro no volante, enquanto o tecido dos bancos é relativamente básico.

Só que ele já está precisando se modernizar um pouco. A central multimídia é muito pequena e tem tela de definição apenas regular. Apesar disso, é rápida na execução das tarefas e tem úteis botões físicos para controlar volume e estações do rádio. O painel de instrumentos é simples, mas o computador de bordo é completo, pena ser monocromático.

Como o Cronos foi um carro lançado em 2019 e sem atualizações desde então, fica evidente alguns pontos em que ele não acompanhou a modernidade. Os porta-copos são pequenos e os bolsões das portas não abrigam uma garrafa. Além disso, o espaço para o celular é pequeno e deixa o aparelho pendurado para usar as entradas USB.

Ao menos tem uma entrada USB na traseira, algo que será bastante útil para carregamento de celular dos passageiros traseiros no caso do uso do Cronos 1.0 como carro de Uber. O espaço traseiro é satisfatório, sendo o mais amplo da família – até mais que o Fastback por conta dos bancos dianteiros finos e do teto com queda menos acentuada.

Porta-malas leva 525 litros e é o maior da Fiat – até porque o Fastback leva 516 litros na medição padrão do mercado. A Stellantis divulga 600 litros para o SUV cupê, mas em um tipo de medida fora do que outras montadoras utilizam.

Tempero argentino

Algo que me surpreendeu verdadeiramente durante a semana de convivência com esse Cronos 1.0 (mas também com o modelo 1.3 CVT) é a qualidade de montagem e rodagem. Ele passa a sensação de ser bem melhor montado e acertado que Argo, Pulse e Fastback, mesmo compartilhando plataforma com eles.

A sensação é que o Cronos é um carro mais sólido, que roda com mais ímpeto e de maneira mais sofisticada. Quase como se estivesse uma geração à frente de seus irmãos. A suspensão, por exemplo, é um grande destaque pela robustez pela qual passa por buracos e ainda consegue manter o sedã no lugar nas curvas mais fortes.

Por outro lado, a direção precisa de ajustes. Ela é excessivamente leve, tirando um pouco da confiança ao volante e deixando o Cronos bobo. Na estrada, ela fica muito firme ao centro, mas ao sair desse ponto, ela parece descolar e fazer movimentos mais fortes. Em altas velocidades, não passa tanta confiança por conta desse acerto excessivamente molenga.

Posições divergentes

O ponto mais elogiável do Fiat Cronos 1.0 está no motor. O Firefly três cilindros de 75 cv e 10,7 kgfm de torque é muito esperto na cidade. O sedã anda bem, mesmo carregado, na maioria das situações. Sai sem esforço e embala sem reclamar. Só que nas subidas e na estrada é que o fato de ser 1.0 fica evidente.

É preciso trabalhar bem com o câmbio, reduzindo marchas e pisando mais fundo no acelerador. Nada fora do comum para um carro 1.0, vale ressaltar. Especialmente porque o Cronos parece bem mais esperto que a média do segmento que usa o mesmo tipo de motor. Só não evidencia ser tão esperto quanto seu primo Peugeot 208, que gosta de andar rápido.

Como de praxe nos Fiat manuais, o câmbio é ruim. Tem engates longos demais e borrachudos. Além disso, a marca deixou as relações de marcha muito curtas. Isso fez com que o Cronos já pedisse quinta marcha a 50 km/h. Na cidade, isso é benéfico para baixar consumo. Mas na estrada o faz berrar a 4 mil giros a 120 km/h.

Na prática, ele deixa evidente que é um carro essencialmente urbano, mas que encara a estrada somente quando necessário. Todo acerto de transmissão e até mesmo do motor parece se entender melhor na cidade, enquanto na estrada ele sofre para fazer ultrapassagens e para se manter em velocidade alta.

Prova disso é que ele demora 15,3 segundos para chegar aos 100 km/h. Só que, pelo menos, o Cronos compensa em consumo comedido. Oficialmente a Fiat declara com etanol 9,6 km/l na cidade e 10,6 km/l na estrada. Durante nossos testes ele cravou média de 10 km/l com etanol.

Veredicto

Tal qual a versão S-Design com motor 1.3 e câmbio CVT, o forte do Fiat Cronos Drive 1.0 é o custo-benefício. O sedã compacto é bom de dirigir na cidade, tem bom espaço interno e acabamento acima da média. É uma das melhores alternativas para motoristas de Uber que existem hoje no mercado brasileiro.

Só que se você for pegar estrada, tente esticar o orçamento para o Cronos com motor 1.3, pois evidentemente o sedã 1.0 detesta rodovias. Além disso, não dá para perdoar o fato de que importantes itens de segurança foram deixados pela Fiat como opcional, além de não oferecer mais airbags do que os dois obrigatórios.

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