Fetiche, segundo o dicionário online Dicio: substantivo masculino referente a um objeto que se cultua por supostamente possuir um valor mágico ou sobrenatural; objeto com características mágicas. E se essa palavra pode ser descrita para um carro em específico, não dá para ser outro que não o Toyota SW4.
Antes do CAOA Chery Tiggo 8 chegar ou o Jeep Commander ser desenvolvido no Brasil, sempre que se falava em SUV de sete lugares a resposta era só e somente uma: Toyota SW4. O SUV grande sempre foi uma espécie de culto do mercado brasileiro. Mas há um motivo para tanta fetichização do modelo? Testamos a versão SRX 7 lugares de R$ 390.790 para descobrir.
Sete seguro
O interessante de ter saído da picape média Mitsubishi L200 Triton diretamente para o SUV grande Toyota SW4 foi de ver as similaridades que os segmentos têm. Afinal, o SW4 não deixa de ser o SUV da Hilux e se comporta como tal. Ele pula bastante, vibra mais que o normal e tem uma robustez inegável.
Dinamicamente a maior diferença entre eles é o menos comprimento que faz da traseira menos solta e boba. Contudo, o SW4 é bem suscetível a ventos laterais em altas velocidades e na estrada, não passando muita confiança para abusar do pé do acelerador. Contudo, você pode tranquilamente dirigi-lo sem dó.
A sensação de robustez e solidez é nítida: tanto do conjunto de suspensão parrudo quanto da carroceria bem sólida. O Toyota SW4, apesar de chacoalhar demais, roda com conforto bem aveludado. Os pneus e suspensão isolam bem o que acontece lá fora, mesmo que o terreno seja ruim.
Com isso, o SW4 consegue rodar muitos quilômetros sem problemas. Afinal, seu motor não tem muita sede, fazendo média de 10,3 km/l durante o período de testes. Oficialmente faz 9 km/l na cidade e 10,5 km/l na estrada, podendo chegar a 840 km com um tanque (que leva 80 litros de diesel).
Segura e vai
Recalibrado na reestilização, o motor 2.8 quatro cilindros turbo diesel de 204 cv e 50,9 kgfm de torque é o mesmo da Toyota Hilux. Ele tem bastante torque em baixa, o que não obriga o SW4 a reduzir de marcha desnecessariamente, mas não parece tão esperto e refinado quanto o motor da L200 que é menos potente.
O SW4 demora a embalar porque o câmbio automático de seis marchas segura muito na hora de fazer reduções e as faz com leve tranco. Ele desce uma marcha, segura e depois desce mais uma: é como se relutasse para fazer aquilo que o motorista quer. Nas marchas ascendentes isso também acontece e há um nítido delay nas trocas manuais.
Só que em rodagem mais tranquila, especialmente na cidade, terá um carro dócil e bem controlado. Já na estrada, os mais de 50 kgfm de torque empurram o SUV grande sem dificuldades. Aliás, mesmo com sete pessoas dentro, ele lida bem com o peso extra e não sente falta de fôlego – ao contrário do Jeep Commander diesel.
Ergonomia antiga
Só que depois de alguns quilômetros talvez você se canse por dois problemas. Um deles é a direção hidráulica que é pesada excessivamente, apesar de ter boas respostas. Outro é que o volante tem dois ajustes de profundidade: enfiado no painel e colado com o para-brisa. Os bancos também não são suficientemente confortáveis.
Isso é sinal da idade. Afinal, o Toyota SW4 dessa geração foi lançado em 2015 junto da nova geração da Hilux. Contudo, ao contrário da picape que mudou duas vezes, o SUV só teve uma reestilização até agora. Existem outros pontos nos quais ele mostra certo avanço do tempo que deixam evidentes na cabine.
Exemplo é o relógio de Ford DelRey no meio das saídas de ar. O painel de instrumentos é analógico e tem uma tela de definição ok e poucos recursos ao meio. Ao menos os mostradores com fundo azul metálico e uma sutil luz ao fundo são bastante elegantes. O acabamento é ok, mas há mais couro e superfícies macias que a Hilux.
Destaque positivo vai para a presença de ventilação nos bancos dianteiros e de porta-copos nas saídas de ar – itens que facilitam a vida no dia-a-dia. Ergonomicamente o que há de interessante são os botões do modo de condução exatamente na inclinação que a mão fica ao apoiar-se no descansa-braço central.
Atrás, o SUV tem como regalias um controle próprio do ar-condicionado, com direito a ventilação automática. O espaço é muito bom, vasto e confortável. Encosto traseiro reclinável ajuda a aumentar esse conforto e facilita a entrada dos passageiros traseiros, que tem de lutar com a inclinação da coluna B ao acessar a fileira traseira.
Lá no fundão há mais espaço para o traseiro nos bancos do que no Jeep Commander, porém as pernas ficam mais altas pois o piso também é elevado, além de não haver tanto espaço para os pés. O sistema de recolhimento dos bancos é prático e fácil de dobrar, mas para tirar os assentos traseiros do lugar, não.
É preciso ter força para levantar os bancos e jeito para prender uma cinta plástica em uma garrinha na lateral. Nada prático e um tanto arcaico. Mas nem sempre isso será necessário, afinal os 180 litros da configuração com cinco lugares dão conta do recado. Mas se precisar dos 500 litros totais, só ter jeito.
Completo e na metade
Generosa como deveria ser para um carro de mais de R$ 400 mil, a lista de itens de série do Toyota SW4 vem com faróis full-LED com acendimento automático, chave presencial, frenagem autônoma de emergência, ar-condicionado digital de duas zonas, bancos com ajustes elétricos, vidros elétricos nas quatro portas, luzes de LED na cabine e porta-malas com abertura elétrica.
Mas três itens precisam de um pequeno adendo. Primeiro é o sistema de manutenção em faixa. Ele freia as rodas que invadem a faixa de maneira tão brusca que faz a carroceria do SW4 mergulhar e causar um susto em quem está dirigindo ou nos passageiros – quase como se fosse uma barbeiragem.
Já o piloto automático adaptativo só funciona acima de 25 km/h, desativando totalmente abaixo disso. Sistemas mais modernos hoje em dia permitem que o carro pare totalmente sozinho e seria algo mais do que necessário dado o preço do SUV grande da Toyota.
Só que tem a central multimídia. Como pode um carro desse valor não ter Android Auto e Apple CarPlay? A Toyota ainda disponibiliza um aplicativo para fazer o espelhamento de alguns aplicativos de celular na central multimídia. Eu tentei e sabe quantos dos meus apps eram compatíveis? Zero. Nem mesmo um singelo Google Maps.
A tela é bem aquém do esperado, a central é lenta e o GPS embutido tem navegação confusa e demora a recalcular as rotas. Enquanto isso a Hilux, que tem praticamente o mesmo painel, tem central com Android Auto e Apple CarPlay. Vai entender…E tem o sistema de som assinado pela JBL, mas que não chega no mesmo volume de uma caixinha da grife.
Veredicto
O Toyota SW4 vende o tanto que vende porque fez sua boa fama no mercado. Ele é parrudo, confiável e, fora a péssima central multimídia, não tem nenhum defeito que o destaque para o lado negativo. É bem como o Corolla era antigamente: não é o melhor da categoria, mas está muito longe de ser um carro ruim, muito pelo contrário.
Nessa faixa de preço o perigo é brigar com modelos mais modernos e refinados, como o Mitsubishi Pajero Sport e até próximo de Volvo XC90, que é bem mais refinado e igualmente espaçoso, além de híbrido. Mas se robustez e confiabilidade são sua prioridade, além de revenda fácil, o SW4 é o negócio certo a fechar.
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