Coluna do Tio Edu

O maior burnout da minha vida foi em um Nissan

Nessa semana, a coluna do Tio Edu conta sobre uma leve vingança com um dono folgado de um Nissan esportivo dos anos 1990

Nissan 300ZX branco correndo em uma pista de frente
Nissan 300ZX [divulgação]

Para quem curte “pi-lo-tar”, os carros dos anos 1990 são insuperáveis. Especialmente os esportivos japoneses feitos por Nissan, Mitsubishi, Honda e Toyota. Acontecia cada coisa inusitada na lida de quem testava carros. Esses primeiros carros esportivos que chegavam ao Brasil já tinham cerca de 300 cv, às vezes até mais.

Muitos eram tração traseira e nenhum deles tinha controle de tração. Você não faz ideia o quanto era divertido. Claro que a adição do controle de tração e estabilidade foi benéfica. Isso é indiscutível. Qualquer dia eu conto quando tomei de um Gol 1000 em uma rodovia paulista a bordo de um Mercedes-Benz C36 AMG (280 cv).

Eu tinha entre 5 a 6 vezes mais potência que o Golzinho, mas chovia tanto… e o AMG, com pneus 245/40 ZR17 no eixo de tração, aquaplanava muito. Eu não conseguia transferir tração. Ele rabeava de um lado a outro se você tentasse acelerar um pouco mais do que a 90-100 km/h, enquanto o milzinho da VW, com seus pneuzinhos linguiça, cortava melhor as poças d´agua e tracionava melhor.

Nissan 300ZX branco parado no meio do asfalto em vista traseira de cima
Nissan 300ZX [divulgação]

E isso, hoje, não existe mais. Mas hoje a história é da maior fritada de pneus que eu já dei na vida. E só pra sacanear o babaca do dono do carro, especificamente um Nissan esportivo dos anos 1990. Hoje é chamado de “burnout”, não?

Já que é para testar…

Na estreia da pista de Viracopos para medir velocidade máxima na Quatro Rodas, em 1992, alguém teve a ideia de fazer um tira-teima entre alguns dos modelos mais velozes que tínhamos testado na pista anterior, que pertencia à Freios Varga (hoje TRW).

interior do Nissan 300ZX
Nissan 300ZX [divulgação]

Ela tinha só 1.800 metros de extensão e, a fim de aferir a máxima de alguns importados que passavam dos 220 km/h, estava totalmente inadequada. Procuramos uma reta mais longa e o aeroporto de Viracopos, em Campinas, com pista de taxiamento de 3.450 metros, era totalmente subutilizado à época. Deu liga.

Os carros selecionados para o tira-teima foram Mitsubishi Eclipse GS Turbo (200 cv), Mitsubishi 3000GT VR4 (300 cv), Nissan 300ZX Turbo (300 cv), BMW M5 (340 cv), Mercedes-Benz SL500 (320 cv) e Honda NSX (273 cv) – o mesmo carro que você já deve ter visto em um vídeo com o Ayrton guiando em Suzuka, no Japão. Venceu o NSX, inclusive, com 258 km/h.

Nissan 300ZX branco parado de frente
Nissan 300ZX [divulgação]

Exibicionismo

Quando eu estava indo pra Viracopos, lá no meio da Rodovia dos Bandeirantes, passa por mim, a mais de 200 km/h, o Nissan, levado por um gerente da KTM (nome do importador da Nissan à época).
Quando chego a Viracopos, o cidadão do Nissan começa a desprezar o concorrente, o 3000GT. “Não dá pra comparar esse ‘caminhão de feira’ com o 300ZX. O VR4 é pesadão, não anda nada. Quase o atropelei na estrada”.

Nissan 300ZX branco correndo em uma pista de frente
Nissan 300ZX [divulgação]

Sabe cara chato? Folgado? E, ainda por cima, estava mal humorado por ter de acompanhar essa pauta. Sei lá o porquê. E eis que o mala começa a se queixar do preço do jogo de pneus do Nissan 300ZX e do “cuidado” que esperava que tivéssemos no teste.

Deixa comigo

(Pausa para uma risada satânica do jovem Edu, com apenas 23 anos de idade).

Meu chefe pisca pra mim. Convido uma editora da revista pra participar de uma “puxada”. No Nissan, óbvio. Dei a partida e virei maldosamente o volante em 180 graus. Motor em marcha-lenta. Ele tinha um V6 biturbo de 300 cv, câmbio manual e tração traseira – vale ressaltar que sem nenhum controle eletrônico.

Novo Nissan Z e 300ZX [divulgação]
Novo Nissan Z e 300ZX [divulgação]

Subi a rotação a 5.000 rpm e arranquei de uma vez com o volante apontado pra direita, pé no porão, a traseira atravessou, contra estercei, segunda marcha, as turbinas empurrando, conta-giros no regime de corte, fumaça no retrovisor, pneus girando em falso…

Deixei uns 30-40 metros de borracha (e algumas centenas de dólares) de lembrança na pista do aeroporto, além da nuvem de fumaça na cara do infeliz.

Por Edu Pincigher

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