Por incrível que possa parecer, o segmento de sedãs médios não é feito somente pelo Toyota Corolla. Tudo bem que o modelo japonês domina a categoria há anos e vende em um mês o que seus rivais levariam um ano para conseguir metade. E se seguiu o conselho de mãe que diz “você não é todo mundo”, que tal olhar para o Nissan Sentra?
Recentemente reestilizado no Brasil, o Nissan Sentra passou a cumprir o papel que o Honda Civic desempenhava no país: ser a alternativa mais jovial e esportiva do Toyota Corolla. Para averiguar isso, testamos a versão topo de linha Exclusive com Interior Premium de R$ 185.590.
É culpa do caramelo
O ponto que mais chama atenção no Nissan Sentra é o seu interior. Nessa variante topo de linha, ele troca o revestimento preto do couro interno por um belíssimo tom de caramelo. É um revestimento bem mais sofisticado de ver e de tocar do que o bege usado no Corolla Altis Premium.
O Sentra passa a sensação de um carro mais caro e refinado ao ser comparado com o Toyota, especialmente por conta da qualidade do couro usado nos bancos e volante. O painel traz muitas superfícies macias e bem montadas. Além disso, saídas de ar triplas, console central elevado e contraste entre elementos pretos e cinza realçam a riqueza.
Contudo, a cabine também contrasta com economias extremamente simplórias por parte da Nissan e que atrapalham fortemente essa sensação de refinamento inicial que o revestimento interno caramelo passa. Começa pelo painel de instrumentos analógico, que é o mesmo da Frontier e está há séculos na Nissan.
Ele tem leitura fácil, mas é simples demais para 2024. A central multimídia também peca por ter imagem ruim, tela pequena e de baixa definição, além de menus datados. Mas, talvez o mais imperdoável seja o freio de estacionamento no pé. Um recurso de caminhonetes dos anos 1970.
Para finalizar, a Nissan deixou os encostos de cabeça traseiros fixos, algo perdoável em um Versa, não em um Sentra. Não há também saídas de ar para quem senta atrás e o acabamento é mais simples. Se contente também com somente uma saída USB para carregamento de celulares e tablets.
Padrão chinês
Um dos pontos de destaque do novo Nissan Sentra é que boa parte do seu desenvolvimento se deu na China. Afinal, ele foi o carro mais vendido do país em 2021, o segundo em 2022 e, em 2023, se tornou o segundo sedã mais comercializado de lá. E se há algo que os chineses valorizam muito, é o espaço traseiro. Porta-malas leva bons 466 litros.
Mesmo com um motorista alto, um passageiro traseiro de grande porte ficará confortavelmente sentado lá atrás. É de se destacar também a amplitude de ajustes para volante e banco, o que permite a pessoas de estaturas completamente diferentes encontrar facilmente uma posição de dirigir.
Exclusivamente bem equipado
De série, o Nissan Sentra conta com chave presencial, seis airbags, sistema de câmeras 360° com qualidade ruim, faróis full-LED, teto solar pequeno, retrovisores elétricos sem rebatimento automático, banco do motorista com regulagem elétrica, aquecimento para os bancos dianteiros e ar-condicionado digital de duas zonas.
Há ainda alerta de ponto cego, frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo que freia totalmente o carro sozinho (mas não segura a frenagem por mais de cinco segundos quando o Nissan Sentra para), sistema de manutenção em faixa, indicador de fadiga, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
Há ainda ar-condicionado digital de duas zonas, vidros elétricos com função um toque só para o motorista, retrovisor interno fotocrômico, farol com acendimento automático e assistente de luz alta, sistema de manutenção em faixa, acionamento remoto do motor e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
Repare em uma situação que envolve o Sentra Exclusive na lista de itens de série. Por melhor equipado que ele seja, sempre alguns de seus componentes passaram por alguma economia. Os botões dos vidros não são iluminados, salvo o do motorista, a qualidade das câmeras é ruim, o retrovisor rebate eletricamente, mas não ao trancar as portas. E por aí vai.
Nissan alemão
O público dos sedãs médios, em geral, se divide entre aqueles que querem performance bruta, como em um BYD Seal ou um VW Jetta GLI, contrastando do público mais tradicional e careta que quer conforto, provido por um Toyota Corolla. O Honda Civic sempre esteve no meio termo, mas pendendo para a esportividade.
Já no passado, o Sentra conseguia ser mais conservador que o Corolla, mas a nova geração trouxe algo diferente. A Nissan deixou a suspensão mais firme, trazendo um tempero de Volkswagen na condução. Ele é confortável, mas suficientemente na mão e firme para que curvas mais fechadas sejam feitas de maneira mais divertida.
A direção também está nessa mesma zona. É firme e responsiva, revelando um inesperado ímpeto esportivo no Nissan Sentra. E isso faz com que o sedã médio goste de trafegar em altas velocidades na estrada como sua condução de cruzeiro. Ele fica plantado no chão, estável e confortável.
Suavidade redonda
Seguindo a receita que sempre funcionou, o Nissan Sentra conta com motor 2.0 quatro cilindros aspirado de 151 cv e 20 kgfm de torque. Os números não impressionam tanto. Afinal, a potência é praticamente igual ao motor 1.4 TSI da Volkswagen (150 cv), enquanto o torque é ligeiramente inferior aos 20,4 kgfm da maioria dos motores 1.0 três cilindros turbo.
Contudo, a Nissan fez alguns truques para tornar o Sentra mais econômico e rápido. O ciclo do motor é Atkinson, em substituição ao Otto que era usado anteriormente. Naturalmente esse tipo de motor tem menor potência e torque por usar uma taxa de compressão mais alta. A vantagem, contudo, é o consumo bem mais baixo.
Oficialmente a marca declara 11 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada. Contudo, a média do Sentra ficou em 14,2 km/l durante nossos testes, nos quais 70% da condução foi em estrada – sempre com ar-condicionado ligado. É consumo de Corolla híbrido, mas com performance parelha ao modelo 2.0 aspirado.
O modelo precisa de 9,4 segundos para chegar aos 100 km/h, mas a sensação é de menos. Isso porque o câmbio CVT com oito marchas virtuais faz trocas de marchas simuladas para aumentar a sensação de ganhou de velocidade. A caixa faz o 2.0 acordar muito rápido, fazendo o Sentra andar mais rápido sem gritaria.
Veredicto
Uma das grandes esperanças que havia na reestilização do Nissan Sentra era a correção de economias injustas feitas no carro, como o painel analógico, central multimídia defasada e o terrível freio de estacionamento no pé. O máximo que a Nissan fez foi trocar o para-choque e os logotipos.
Entretanto, por R$ 185.590, o Nissan Sentra entrega um conjunto extremamente competente e tão econômico quanto um Corolla Hybrid, só que sem ser manco. A sofisticação interna chama atenção e a condução é divertida. Em suma, é um carro essencialmente melhor que o Toyota, mas que carece de pequenas atualizações que fariam jus ao seu design ousado.
Você teria um Nissan Sentra? Ou prefere o Toyota Corolla? Conte nos comentários.