Por mais que o Peugeot 208 esteja vendendo bem, o único carro de verdadeiro sucesso da marca por aqui foi o saudoso 206. Ele chegou a ser um dos automóveis mais comercializados do Brasil, é considerado um dos carros mais bonitos da marca francesa e é o mais vendido da história. Por isso, a missão da segunda geração do Peugeot 2008 é a mesma.
Só que, diferentemente do que o 206 tinha no passado, a missão do novo Peugeot 2008 é bem mais árdua. Ele tem que lidar com quase 20 concorrentes, sendo alguns dentro da própria família Stellantis, além de tentar driblar o preconceito que o brasileiro tem com a marca. Mas com esse visual e preço arrebatador, ele consegue?
Matador de T-Cross
Um dos apelidos internos do SUV francês durante seu desenvolvimento no Brasil era matador de T-Cross. O Volkswagen é o modelo mais vendido da categoria, o que torna a ambição da Stellantis bem clara: tornar o modelo um dos líderes do segmento de SUVs. Para isso, reuniu o que tem de melhor hoje disponível.
A plataforma é a CMP, a mesma do 208 e do Citroën C3. É uma base bem nascida, tanto quanto a MQB da Volkswagen. Carros da Stellantis com essa plataforma tem boa dirigibilidade e estrutura rígida, como é o caso do 2008. O SUV anda muito bem, fazendo curvas grudado no chão e inclinando pouco.
Como a posição de dirigir é baixa, fica evidente a pegada esportiva do Peugeot. A suspensão é firminha e a direção tem calibração mais voltada para uma tocada mais animada, resultando no acerto mais firme e direto. Quem é assim também? O Volkswagen T-Cross. Nitidamente, entre as generalistas, VW e Peugeot são as com maior foco em dirigibilidade.
A absorção de impactos não é o foco, nem do T-Cross, muito menos do Peugeot 2008. Isso é território de Jeep Renegade e Renault Duster. Mas isso não significa que ele sofre com buracos. É um comportamento mais de hatch do que de SUV, visto que ele tem claramente uma vocação urbana e estradeira.
Conjunto que funciona
Como já deu certo em outros modelos, a Peugeot não arriscou com o conjunto mecânico do 2008. Ele traz motor 1.0 três cilindros turbo de 130 cv e 20,4 kgfm de torque. É a mesma combinação que está em 208, C3, Strada, Pulse, Fastback e C3 Aircross. Ele é combinado a uma transmissão automática do tipo CVT com sete marchas simuladas.
O interessante é que a Stellantis consegue fazer com que cada carro tenha um comportamento totalmente diferente. O 208 é mais apimentadinho, acelerando forte e tendo bastante agilidade na condução. Já o Aircross é um carro que anda rápido, mas desenvolve de maneira mais linear e tranquila. O 2008 é um meio termo.
Você sente a agilidade como o 208, mas sem o mesmo ímpeto dele por conta do peso extra. Só que não chega a ser um carro mais pacato como o Aircross. É um comportamento instigante para dirigir e muito mais elástico e forte que o T-Cross com motor 1.0 TSI. As arrancadas tem certo delay para fazer o CVT acordar o 1.0 turbo.
Só que, depois que ele desenvolve, o Peugeot 2008 vai com força. As retomadas são rápidas e as ultrapassagens são rápidas. Apesar disso, o consumo é bom. São 8,6 km/l na cidade e 9,8 km/l na estrada com etanol. Já na gasolina, ele marca 12,3 km/l na cidade e 13,7 km/l na estrada. A proximidade dos números se dá por conta do comportamento do CVT.
A transmissão continuamente variável costuma deixar o giro bem baixo o tempo todo, privilegiando o consumo. Só que, ao menor sinal de solicitação de força vinda do acelerador, ele acorda. Em acelerações fortes, o Peugeot 2008 simula marchas com maestria, tirando o efeito chato de enceradeira dos câmbios CVT.
Posição comprometedora
Algo que a Peugeot tem de mais positivo em seus carros é a posição de dirigir. Não é todo motorista que se adapta a ela, mas aos que mente aberta, é difícil voltar a outro carro e não estranhar. O volante é bem pequeno, com base e topo achatados, tudo para poder fazer os instrumentos serem vistos por cima do volante.
Com isso, você precisa se posicionar mais baixo e deitado no banco. Mesmo sendo um SUV, o Peugeot 2008 é baixo para dirigir, mas não tão colado no chão quanto o 208. Sentado no posto de pilotagem, você tem a vista do painel de instrumentos digital 3D da versão GT, que tem ótimos gráficos e é personalizável.
A central multimídia também é voltada ao motorista, criando uma sensação individualista de cockpit. Como o SUV traz amplitude de regulagem para bancos e volante, mesmo um motorista mais baixo consegue se adaptar a ele, enquanto um mais alto terá espaço de sobra na frente. Até porque a traseira é bem apertada como um Fiat Pulse.
Apesar de ser um carro mais espaçoso que o 208, o 2008 ainda é apertado atrás. O porta-malas de 374 litros também não é muito animador. Ou seja, tal qual seu irmão, é um carro para um casal e eventuais (e curtas) caronas. Vale destacar que o prático divisor de cargas do e-2008 europeu não fez o critério para o modelo argentino a combustão.
Sensação superior
Se em espaço interno o Peugeot 2008 perde (e muito) para o Volkswagen T-Cross, temos o efeito inverso quando se trata de acabamento. Não há nada macio, diferentemente do 208 que tem uma faixa imitando fibra de carbono, mas almofadada. Só que todos os plásticos usados são de nítida qualidade e bem encaixados.
A sensação que a cabine passa por conta da escolha de materiais, cores e do próprio desenho é que trata-se de um SUV de categoria superior. O Peugeot 2008 GT não parece custar somente R$ 149.990, parece um carro mais caro. A marca usou couro de qualidade nos bancos e no volante, o que eleva ainda mais essa sensação.
A central multimídia é bem boa e fácil de mexer. Por sorte, a marca ouviu as críticas e colocou um botão de acesso rápido para o ar-condicionado e um rotor físico para controle do volume do rádio. Em relação ao 208, o 2008 ainda traz freio eletrônico, resfriamento no carregador por indução, teto solar panorâmico que abre e paddle-shifts.
Faltou uma coisa
Situado como versão topo de linha do Peugeot 2008, o GT (que entra no lugar do Griffe) vem bem equipado. Mas só faltou ao modelo o piloto automático adaptativo – item que já está presente em outros SUVs compactos concorrentes e que poderia muito bem ter sido colocado pela Stellantis nele.
Fora esse pecado, é bem equipado. O modelo topo de linha traz seis airbags, teto solar, chave presencial, controle de tração e estabilidade, sistema de manutenção em faixa, frenagem autônoma de emergência, faróis full-LED com regulagem automática de altura, assistente de luz alta, alerta de ponto cego e câmeras 360°.
Além disso, o SUV francês conta com ar-condicionado digital de uma zona, vidros elétricos com função um toque para todas as portas, retrovisor elétrico com rebatimento automático, leitor de placa de trânsito, painel de instrumentos totalmente digital e 3D, além de central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay.
Veredicto
Só existem dois fatores que desacreditam o Peugeot 2008 como uma boa compra: se você usa um SUV na terra ou se precisa de espaço interno. Fora isso, ele é um banho nos concorrentes de boa dinâmica, visual chamativo e bom acabamento (ainda que não tenha painel macio como o Jeep Renegade).
Ele prometeu e tem potencial para cumprir a missão de ser o novo 206: o carro que vai recolocar a Peugeot nas ruas, tonar a marca reconhecida e desejada novamente. Seu irmão 208 já preparou o terreno para ele. Agora, se mantiver os preços competitivos da estreia, tem tudo para fazer estrago no segmento.
Você teria um Peugeot 2008? Conte nos comentários.