Ir a um outlet pode ser uma verdadeira guerra. Você vai em busca das maiores promoções sem saber exatamente o que esperar. Mas, depois de muitas horas de caça nas gôndolas, acha alguma peça de roupa que te veste melhor do que imaginava, tem mais qualidade do que esperava e ainda pagou barato. No mundo automotivo, esse é o Kia Stonic.
Por R$ 129.990, o Stonic é o carro mais barato da Kia no Brasil, além de um dos SUVs compactos menos custosos do país. Só que o fato de custar pouco mais dá a ele um ar de promoção de outlet de marca boa do que um produto barato. Afinal, ele tem qualidade surpreendente.
Primo do HB20
Construído sobre a plataforma GB, uma evolução da base usada no Hyundai HB20, o Kia Stonic compartilha alguns elementos com o modelo brasileiro. Começa pelo motor 1.0 três cilindros turbo, que é também uma evolução do que é usado no HB20. Ao invés de ser flex, ele é semi-híbrido, reduzindo muito o consumo.
Através da troca do alternador e do motor de partida por um pequeno motor elétrico, o Kia Stonic consegue aliviar o uso do motor 1.0 três cilindros turbo. Só que, ao contrário do que os emblemas espalhados pela carroceria dizem, não dá para considerá-lo um híbrido. Afinal, o motor elétrico não consegue mover o carro sozinho.
A Kia bate na tecla de que a lei diz que esse tipo de sistema considera o carro híbrido. Mas somente a Kia e a CAOA Chery chamam carros semi-híbridos de híbridos. Além disso, a lei diz que o Renault Kwid é um SUV – o que não é verdade. Mas, tirando esse fator complicado, o conjunto mecânico do Stonic é uma jóia lapidada.
São 120 cv e 20,4 kgfm de torque, mas que parecem bem mais dado o ímpeto do SUV compacto em acelerar. Ele é muito ágil, especialmente quando usado no modo normal, visto que o Eco amarra as coisas um pouco. Pisou levemente no acelerador, ele dispara com vontade. Tanto que o 0 a 100 km/h de 10,4 segundos divulgado pela Kia parece pessimista.
O conjunto semi-híbrido faz com que o Stonic seja muito econômico. Oficialmente ele marca 13,7 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada. Mas, durante os testes, ele marcou 17,4 km/l na estrada e 15,8 km/l na cidade. Grande parte trunfo do modo velejar, o qual desliga o motor a combustão em retas ou descidas quando o motorista tira o pé do acelerador.
Casamento
Seguindo o que foi feito no Renault Kardian, o Kia Stonic tem transmissão automatizada de dupla embreagem. A caixa é a seco com sete marchas e trabalha com maestria com o motor 1.0 turbo. As trocas são rápidas e não são sentidas, fazendo com que o 1.0 turbo sempre tenha fôlego
Junte isso ao acerto dinâmico ótimo do Kia Stonic. A suspensão e a direção pendem levemente para a esportividade, sendo firminhas na medida para ter o prazer ao volante como prioridade, mas sem comprometer o conforto. A direção é especialmente rápida e instigante para um carro desse tamanho.
Preço exige abrir mão de algo
Mas se estava tudo bem até aqui, a Kia não escapou de mancadas fortes no Stonic. Ele não tem qualquer tipo de sistema de auxílio à condução – algo exigido em uma faixa acima de R$ 120 mil e que seu primo HB20 tem. Frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo ou sistema de manutenção em faixa não existe no Stonic vendido no Brasil.
De série, ele traz seis airbags, câmera de ré, sensor de ré (não tem sensor na frente), farol com acendimento automático, sensor de chuva, chave presencial, vetorização de torque, controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, bancos revestidos parcialmente em couro e retrovisor elétrico com rebatimento elétrico.
Há ainda vidros elétricos nas quatro portas (mas inexplicavelmente só comando um toque para o motorista), volante com ajuste de profundidade e altura (com boa distância de regulagem igual ao Renault Kardian), ar-condicionado digital de uma zona, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio e luz de curva.
Dentro da média
Ao entrar no Kia Stonic, você verá um interior moderno, mas que não chama atenção por nada em específico. Não tem acabamento ruim como um Volkswagen Nivus ou uma sensação de refinamento como o Fiat Fastback. Mas está próximo ao Renault Kardian, ainda que tenha acabamento melhor.
Todo o painel é revestido em plástico duro, mas de qualidade. A imitação de fibra de carbono adiciona uma textura áspera interessante e um contraste visual junto dos elementos em prata fosco. Ele é bem montado, além de ter estilo moderno, salvo os desnecessários botões gigantescos na porta que parecem de um Sephia dos anos 1990.
Ao contrário da maioria dos rivais, o painel de instrumentos é analógico. Mas não é algo que incomoda, visto que a visualização dos instrumentos é boa e fácil, além de contar com um visor central cheio de informações e igualmente tranquilo de usar. Já a central multimídia é a mesma do Hyundai HB20.
Isso significa que a tela é um pouco lavada e tem brilho inconstante. A noite é clara demais, de dia é escura demais, mesmo colocando as configurações de brilho nas posições mais extremas. Ela é rápida para mexer e dificilmente trava, mas merecia um display de melhor qualidade. Tem conexão sem fio com Android Auto e Apple CarPlay.
É compacto, não tem jeito
Ainda que o Kia Stonic seja um pouco maior que o Renault Kardian, por dentro ele é mais apertado. Ele não foi um carro pensado para dar a sensação de ser grande, muito pelo contrário. Por isso, é compacto por dentro. O motorista conta com uma vastidão de ajustes que o permitem dirigir bem baixo.
Como sacrifício, o espaço traseiro é acanhado. Pessoas altas não vão conseguir sentar lá com conforto, inclusive para a cabeça. Um passageiro no meio é algo praticamente impossível. No porta-malas, o SUV compacto carrega 325 litros e tem nichos nas laterais. O kit de reparo vem junto, visto que as baterias do sistema semi-híbrido ocupam o lugar do espete.
Veredicto
Se você está com Fiat Pulse e Fastback, Renault Kardian e Volkswagen Nivus na sua lista de compras, não deixe de passar na concessionária da Kia antes de fechar negócio. O Stonic é muito esquecido pelo mercado, mas é surpreendente. É um carro ótimo para dirigir, muito econômico e ainda bastante moderno.
Seu único ponto negativo verdadeiro, além da falta de espaço (que não importa para algumas pessoas) é que ele é menos equipado do que todos os seus rivais. Não ter sequer um mísero sistema de auxílio a condução ou uma frenagem autônoma de emergência é uma falta que a Kia cometeu para colocar o Stonic em um preço competitivo.
Você teria um Kia Stonic? Conte nos comentários.