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Só faltam ajustes

Jaecoo 7 é um filé mignon mal passado | Avaliação

A base é boa, o tempero está acertado, mas assim como um filé-mignon mal passado precisa de mais cozimento, o Jaecoo 7 precisa de maturação

11 min de leitura

Quando se trata de ponto de carne, é de consenso geral de que ao ponto é a maneira correta de extrair o máximo de sabor de uma peça bem feita. Há quem prefira bem passado ou até mal passado, por questões pessoais. Mas fora do estado ao ponto, é quando falta algo à carne, especialmente a um filé mignon, como é o caso do Jaecoo 7.

O SUV médio híbrido chinês estreou no Brasil em 2025 com a missão de ser o produto principal da Omoda & Jaecoo por aqui. As marcas foram criadas como produtos de exportação da Chery para mercados em que a marca mãe se queimou. Não é o caso do Brasil só por conta da CAOA. Mas a O&J quer guerra.

Depois de vários contatos com o Jaecoo 7 aqui no Brasil e na China, chegou a hora de testá-lo na realidade e ver se tudo aquilo que a marca prometeu foi entregue. De prontidão, posso dizer que ele é um belo filé mignon. Mas está mal passado que precisava de mais alguns minutos de cozimento. Traduzindo para o mundo dos carros: pequenos ajustes.

Jaecoo 7 Prestige azul de traseira
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Forças combinadas

O conjunto mecânico do Jaecoo 7 é seu maior trunfo. Ele combina um motor 1.5 quatro cilindros turbo de 135 cv e 20,4 kgfm combinado a um elétrico de 204 cv e 31,7 kgfm na dianteira. O destaque é que o motor a combustão tem eficiência de 92%, o que é altíssimo para esse tipo de propulsor. Ao todo, são 339 cv e 52 kgfm.

E toda essa força é verdadeiramente sentida. Não há vacilo na aceleração, onde o SUV ganha velocidade sem o menor esforço. É interessante que primeiro ele aciona o motor elétrico, depois o combustão entra com mais força, quase como se engatasse uma segunda marcha. Lembrando que o câmbio é uma caixa híbrida com sete marchas.

motor jaecoo 7 PHEV
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Diferentemente do primeiro Tiggo 8 PHEV, que usa o mesmo conjunto do Jaecoo 7, não há trancos entre a transição do motor a combustão e o elétrico. A suavidade do conjunto chama atenção, ao mesmo tempo em que qualquer acelerada mais brusca faz os pneus dianteiros cantarem.

Absurdamente econômico

Mesmo com tudo isso, temos um carro que facilmente passa de 1.000 km com um tanque. O consumo médio fica acima de 20 km/l e ele maneja a bateria para sempre manter o elétrico  em prioridade. É difícil fazer o Jaecoo 7 ter menos de 30% das baterias, visto que o motor 1.5 entra em ação constantemente para carregar o conjunto elétrico.

Jaecoo 7 Prestige azul de frente
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Durante os testes com o Jaecoo 7, rodamos 549 km e o modelo ainda registrava mais de meio tanque – isso porque ele foi carregado apenas uma vez. Se considerar somente a autonomia elétrica, são 79 km. Mas ele usa o motor elétrico o tempo todo com ajuda do combustão para poder ser muito econômico.

Dinâmica de chinês

Apesar de ter feito acertos para o Brasil, a Omoda & Jaecoo ainda precisa de mais tempero nacional em seus modelos. O Jaecoo 7 tem suspensão e direção excessivamente molengas. Por sorte, há como deixar a direção sempre em modo Sport para ter a calibração que deveria ser padrão.

Jaecoo 7 Prestige azul de traseira
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Com ela no modo normal, o Jaecoo 7 passa sensação de insegurança na estrada por ser excessivamente leve. Qualquer mínimo movimento faz o carro se mexer e parecer molenga. Em Sport, fica no modo ideal, com mais firmeza e respostas a contento. Já a suspensão é estranha.

Apesar de ser confortável e estável na estrada, ela não lida bem com buracos. A batida é dura, seca, sendo depois absorvida com um balançar típico de suspensões moles. Aqui faltou conversar um pouco com a CAOA que acertou muito bem o conjunto do Tiggo 7, que usa a mesma plataforma e componentes do Jaecoo 7.

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Também não abuse do SUV nas curvas, visto que a carroceria inclina bem e a estabilidade não é das mais memoráveis. Ele segue pelo conforto pleno, algo muito apreciado por vários compradores. Mas o padrão brasileiro pede uma suspensão um pouco mais firme para dar mais estabilidade. Já a direção, no modo Sport já resolve – ainda que seja leve.

A outra calibração

Temos também de pontuar que os sistemas de auxílio à condução do Jaecoo 7 também precisam de mais carinho. O piloto automático adaptativo desarma com muita facilidade a qualquer leve intervenção do motorista no volante. Além, o sistema de centralização em faixa parece grudar o volante e soltar com tudo.

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Diferentemente da maioria de outros carros chineses, especialmente os GWM e BYD, a frenagem autônoma de emergência do Jaecoo 7 não é tão desesperada assim, ponto para a marca. Ele conta ainda com alerta de tráfego cruzado, que ajuda muito nas saídas de garagem por conta da coluna C com ponto cego forte.

A Omoda e Jaecoo poderia só desabilitar a câmera 360° que insistentemente liga todas as vezes que você dá seta e vira. Não é necessário que o sistema seja armado com o carro em movimento pois cria uma distração e atrapalha o uso do mapa com o Android Auto ou o Apple CarPlay.

Por falar na central multimídia

interior Jaecoo 7
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

O que deveria ser um grande trunfo do Jaecoo 7 se tornou a maior fonte de frustração durante a semana de testes. A central multimídia do SUV tem tela de excelente definição e sistema muito fácil de usar – parece um tablet moderno de tão intuitivo. Conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.

Contudo, durante toda a semana com o SUV, o CarPlay fazia a central travar. E, como não há botão físico para reiniciar a central, era preciso parar o carro, desligar e esperar um tempo. A marca tentou dar suporte quanto a isso e disse que a atualização feita nos modelos já vendidos resolveu o problema. O modelo testado não estava atualizado.

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Mas há outro problema, a central multimídia é o local usado para controlar os espelhos retrovisores, tal qual o Volvo EX30. É uma experiência irritante ter que usar a tela e os botões do volante para controlar algo que deveria ter um botão dedicado nas portas, como todo carro normal.

Além disso, o retrovisor central tem lente côncava, o que faz com que o motorista consiga enxergar metade do seu rosto ao dirigir. Com isso, a imagem da traseira, que deveria ser a vista, não é presente, fazendo o Jaecoo 7 parecer um ônibus por conta do retrovisor. Por fim, o comando dos vidros elétricos é o contrário da lógica normal.

Ergonomia existe, tirando algumas coisas

painel de instrumentos jaecoo 7
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Em contrapartida, temos um painel de instrumentos totalmente digital fácil de ser usado e configurável em vários layouts pela central multimídia. Não há comandos físicos para o ar-condicionado digital de duas zonas, mas uma barra na central multimídia surge ao arrastar a tela pela parte de baixo, facilitando o uso.

Há ainda uma fileira de botões no console central para ativar o ar-condicionado automático, trancar e destrancar o Jaecoo 7, mudar o modo de condução HEV para EV, além do pisca-alerta. O console central tem espaço de sobra, enquanto a parte fechada tem até refrigeração.

Um dos pontos mais interessantes, mas estranhos, do SUV chinês é que ele não tem botão de partida. Basta entrar, pisar no freio e colocar o cinto de segurança que ele já está pronto para andar. Se quiser desligar, basta colocar no P, sair e trancá-lo. Há um comando na central multimídia também para desligar o carro, se quiser.

Os bancos dianteiros contam com ajuste elétrico, além de aquecimento e resfriamento. Já quem senta atrás tem encosto regulável e pode ver toda extensão do teto solar panorâmico, que é item de série nas duas versões (Luxury de R$ 229.990 e Prestige de R$ 249.990). O espaço é mais do que generoso para todos dentro do Jaecoo 7, até para cinco pessoas.

porta-malas jaecoo 7
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Destaque ainda para o porta-malas de 500 litros com abertura elétrica na versão topo de linha. Além disso, ele pode abrir sozinho a tampa do porta-malas caso você fique parado na traseira do Jaecoo 7 por alguns segundos e depois se afastar – algo mais útil e mais eficiente do que passar o pé por baixo do para-choque.

Acabamento de luxo

Se há algo que os chineses dominaram, é o acabamento. Tanto que muita gente pensa que a Omoda e a Jaecoo são divisões de luxo da Chery justamente por isso. Mas não, são apenas marcas de exportação generalistas, mas com acabamento verdadeiramente refinado. Para o Brasil, o Jaecoo 7 sempre tem acabamento preto, diferentemente do Omoda E5 que tem outras opções.

cabine jaecoo 7
Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

A cabine é recheada de couro de qualidade nos bancos, volante, portas, console central e painel. Há muitas superfícies macias e bem feitas. Os encaixes são milimétricos e, onde há plástico, é bem feito. A Jaecoo se preocupou em colocar plástico preto brilhante em pontos que a mão não tem contato constante, o que evita sensação de sujeira.

O único porém é que a montagem na parte traseira deixa a desejar. Há muito barulho de acabamento vindo do porta-malas e dos bancos traseiros. Isso que toda a montagem parece bem feita e os materiais usados, até no carpete do porta-malas, tem qualidade percebida nítida.

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Itens de série

Na lista de itens de série do Jaecoo 7, as duas versões contam com ar-condicionado digital de duas zonas, volante com ajuste de altura e profundidade, freio de estacionamento eletrônico, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, seis airbags, sistema de câmeras 360°, faróis com acendimento automático e chave presencial.

Há ainda sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sistema de som com 4 alto-falantes, farol alto automático, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência e assistente de descida. 

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Já a versão Prestige conta com bancos dianteiros com ajuste elétrico, além de aquecimento e ventilação, iluminação ambiente, luz no para-sol, porta-malas com abertura elétrica, memória no retrovisor, descanso do pé esquerdo em metal, carregador de celular por indução, sistema de som Sony com 6 alto-falantes e alerta de colisão traseira.

Veredicto

Chegar agora ao Brasil significa que a O&J teve tempo de observar os concorrentes e aterrizar com um mercado já mais empático a carros chineses. Contudo, o sarrafo é bem mais alto com o nível de produto entregue por BYD e GWM. Felizmente, o Jaecoo 7 está páreo aos seus rivais ao entregar um preço bom, consumo absurdamente baixo, luxo e bom conjunto mecânico.

Jaecoo 7 Prestige [Auto+ / João Brigato]

Entretanto, o Jaecoo 7 tem pequenos erros irritantes que podem ser facilmente resolvidos em um segundo lote. A marca precisa trocar o retrovisor interno, mudar a lógica dos comandos dos vidros, fazer a central multimídia parar de travar e, principalmente, deixar a calibragem de direção Sport como padrão. 

É como um filé mignon que foi entregue na primeira hora do restaurante mal passado para todos os clientes. Mas que a Chery tem como grande trunfo o fato de poder mudar rápido alguns itens e passar a entregar a peça bem passada. Afinal, o tempero foi muito bem feito e os acompanhamentos são foram feitos com carinho.

Você teria um Jaecoo 7? Conte nos comentários.


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João Brigato

Formado em jornalismo e design de produto, é apaixonado por carros desde que aprendeu a falar e andar. Tentou ser designer automotivo, mas percebeu que a comunicação e o jornalismo eram sua verdadeira paixão. Dono de um Jeep Renegade Sem Nome, até hoje se arrepende de ter vendido seu Volkswagen up! TSI.

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